Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

terça-feira, agosto 18, 2009

In flagrante delicto

Discriminados pela sociedade desde tempos imemoriais e incapazes de granjear o apoio político do Bloco de Esquerda, os adúlteros foram forçados a desenvolver requintadas técnicas de argumentação desde que saíram das cavernas. Usam-nas nos momentos em que são apanhados com a mão na massa por assim dizer, ou in flagrante delicto como diziam os romanos, feras versadas nestas coisas requintadas do apalpanço de material alheio.
Corro aqui um grande ao risco, mas revelar-vos-ei uma lista de velhos argumentos usados para redefinir com sucesso situações embaraçosas. São palavras sábias, passadas de pai para filho, de avó para neta ou de pastor para ovelha, como uma fórmula secreta. Aproximem-se pois do monitor. Vou sussurrar-vos algumas dessas expressões que vos poderão salvar a vida. Todos ao mesmo tempo, não! Um de cada vez. E de preferência encostando apenas um ouvido ao computador, que eu gosto pouco de festinhas. Infelizmente, no caso do Luís Filipe Vieira, não temos um monitor suficientemente grande para acolher uma das suas orelhas. Tentarei pedir emprestado um daqueles ecrãs gigantes dos cinemas que, pelos meus cálculos, deverá ser apenas um pouco menor do que o apêndice auricular do presidente do Benfica. Cá vai então.
“Isto não é o que parece!”, é a frase mais popular, o santo-e-senha que o adúltero deve proferir quando é apanhado com as calças pelo tornozelo. Costuma resultar, sobretudo se o adúltero encontrar uma explicação plausível para o facto de ter a Teresinha, da contabilidade, nua na banheira, depois de ter previamente anunciado ao cônjugue que precisava da noite para rever os procedimentos de cobrança da empresa.
“Eu posso explicar” – é outro argumento muito agradável, normalmente usado pelo adúltero surpreendido e amarrado com algemas à cama de dorsel, envergando uma peça de roupa semelhante à da Madonna na tournée do Vogue (Não pensem que isto não acontece. É muito habitual aqui para o Lumiar. Segundo ouvi dizer.)
Ora, no passado fim-de-semana, David Luiz cometeu uma falta evidente que originou uma grande-penalidade. O defesa do Benfica colocou no caminho da bola um braço, dois cotovelos e uma madeixa de cabelos aos folhos, caída em desuso desde o primeiro álbum da Tonicha. Foi uma das faltas mais claras da história, evidente para todos os que não foram injectados com ampolas de Avastin ou água-raz (consoante as teses).
Apanhado in flagrante delicto, David Luiz ofereceu mais um contributo para o arsenal do adúltero contemporâneo. “Eu nem sequer me lembro se toquei na bola, quanto mais se o fiz com a mão”, disse, sem se rir. Se o deixassem, David Luiz continuaria, argumentando que nem sequer se lembra se estava em Lisboa àquela hora, quanto mais se estaria na grande-área do Benfica. Não convenceu, mas divertiu, o que, nos tempos que correm, já não é nada mau!
David, sobe ao palco para receber o troféu. Em nome de uma minoria de adúlteros com pouco jeito para mentir, venha de lá esse abraço. Tu és um dos nossos.

domingo, agosto 16, 2009

Odores da estação

Os manuais de navegação ensinam que, perante a iminência da catástrofe, um único homem (o comandante) deve tomar as rédeas da embarcação (péssima metáfora, péssima! Isto começa mal. Em termos desportivos, esta metáfora é equivalente a três passes falhados pelo Abel a dois metros do colega). Bem ou mal, cabe ao comandante decidir a rota e os procedimentos, obedecendo apenas ao seu instinto.
Em contrapartida, diz o mais elementar bom senso que, se todos os tripulantes expressarem abertamente a sua opinião, o navio tornar-se-á, sem dúvida, mais democrático. E terá todas as condições também de se transformar num naufrágio muito democrático.
Desconfio que há um comandante em Alvalade, mas não posso garantir. Os seus únicos sinais de vida são meros soluços que, ainda por cima, exigem interpretação externa por uma brigada semiótica que pese a significância de cada palavra e determine o que o senhor pretendia efectivamente dizer. Mas é possível que exista. Mesmo assim, correrei o risco de sugerir uma rota para evitar a catástrofe.
Cá vai ela.
Não sou daqueles que procura um bode expiatório como responsável pelos desaires. [Pausa para os senhores acabarem de rir. Muito obrigado]. Mas vou abrir uma excepção: a culpa de todos os desaires que o Sporting sofreu nos últimos 12 meses é do Polga. Isso mesmo, do único jogador campeão mundial de selecções que passou pelo futebol português.
Não me interpretem mal. Sempre gostei do Polga. Nos tempos que correm, em que a união entre os clubes e os seus jogadores dura tanto ou menos do que os casamentos de Henrique VIII ou o estado de graça do Patric, é cada vez mais raro assistir à ascensão, consolidação e declínio de um jogador no mesmo clube. O normal nos clubes portugueses é presenciar a ascensão de um jovem prodígio e vê-lo consolidar-se noutro lado qualquer. Excepto se o jovem prodígio for o Ronny. Aí, o normal será presenciar o declínio contínuo do jovem prodígio até ao ponto em que nós, na bancada, começamos a pensar que até um escaravelho-bosteiro dominaria melhor a sua bola de excrementos do que ele.
Com Polga, vimos o ciclo de vida todo. Transpirava classe em 2003. Fez imensa falta na final da Taça UEFA em 2005, naquele que foi o maior erro de Peseiro. Aprimorou-se em 2005/2006 (para mim, a sua melhor temporada). Manteve o nível até 2007. Formou uma dupla de respeito com Tonel e foi responsável por duas das melhores temporadas defensivas da história do Sporting. Desde então, porém, tem perdido o viço como as rosas de Malherbe, os editoriais do Vítor Serpa ou o juízo do João Gabriel.
A lista de erros clamorosos ocuparia o resto da página virtual deste blogue. Só no ano passado, custou golos em Belém, em casa com o Braga e o Benfica. Na terrível eliminatória com o Bayern, falhou mais do que qualquer outro. Este ano, já acumula duas baldas em três jogos oficiais. Falhou com o Twente. E falhou ontem duas vezes (a segunda não deu golo por acaso). Antes de qualquer outra mudança cosmética, a saída de Polga do onze é por isso o primeiro remédio para a retoma.
Custa-me muito dizer-te isto, Anderson, sobretudo porque foste (quase) sempre fiel à causa e te tornaste um dos estrangeiros com mais jogos pelo clube (243). Se os cães pisteiros que andaram a farejar a Maddy pelos botecos do Algarve te apanhassem o cheiro não tardariam a dar sinal. É que, como diria a TVI, a tua carreira exala já um profundo odor a cadáver.

quinta-feira, agosto 13, 2009

A metáfora dos lemingues


O jogo era estúpido e visualmente básico, mas entreteve uma geração de jovens com borbulhas e pouco dinheiro para consumir pornografia consagrada internacionalmente. Buscava inspiração no mito dos lemingues – a tese segundo a qual estes estranhos mamíferos do Árctico se lançam por precipícios abaixo quando verificam que consumiram numa só temporada todo o alimento disponível, inviabilizando os recursos para as gerações seguintes.
Colocado perante o desafio de encontrar outros ecossistemas ou sucumbir à adversidade, o mito diz que o lemingue toma a opção mais fácil: embebeda-se até ficar num torpor eufórico, consome tudo o que resta e suicida-se depois de um exercício inútil de psicanálise e de um telefonema para “As Tardes da Júlia”, na TVI. Os leitores mais atentos notarão que esta etapa da ecologia da espécie não costuma fazer parte dos manuais de biologia. É nesta altura que eu peço a esses leitores para abandonarem a sala. Ena, são tantos! Muito obrigado. Não empurrem. Há tempo para todos. Os quatro que ficaram podem aproximar-se do palco para ficarem mais quentinhos. Vamos lá continuar.
Ora, no jogo de computador, podia-se optar entre o lemingue escavador, o construtor, o trepador, o pára-quedista e por aí adiante. Havia depois o lemingue bombista, que se imolava (por favor, não ler “simulava”, que ainda não comecei a falar do Aimar) com uma bomba. E o mais importante deles todos: o lemingue-travão, que se sacrificava pelos restantes. A sua missão era travar a enxurrada enquanto deixava um ou dois construtores montarem as escadas de acesso à saída. Depois, não restava ao remédio ao jogador que não fosse imolar o valente e deixar a multidão salvar-se pelo caminho já desbravado.
Descontando o facto de o jogo ter sido seguramente concebido por um jihadista radical, havia uma moralidade escondida. Cá vai ela: na vida de uma organização, é tão fundamental aquele que constrói vias de fuga como... o que se auto-destrói com uma bomba amarrada ao cinto. Humm? Não, não era esta a moralidade escondida. Esperem, deve ser esta: é tão importante o chico-esperto que se oferece para ir à frente e pisgar-se logo pela calada como o totó que é voluntário para deixar os outros fugirem enquanto ele se condena ao suicídio. Humm? Também não? Enfim, estou certo de que havia uma moralidade escondida, mas alguém a escondeu bem de mais.
Não preciso de dizer aos senhores que, para mim, a estratégia do Benfica para esta temporada personifica o ciclo de vida dos lemingues. É um jogo de roleta-russa, que pode correr bem, mas tem muitas probabilidades de falhar. Admito que a tese é controversa. Basta dizer que “O Jogo” tem defendido que o Benfica caminha a passos largos para o suicídio enquanto o “Record” aposta que serão conquistados todos os troféus da época, mesmo aqueles em que o Benfica não participa. Já “A Bola” não conseguiu produzir um comentário em tempo útil, uma vez que não tinha ainda recebido do Benfica instruções sobre a opinião que deverá debitar.
À partida para mais uma época (que, para os mais distraídos, começa só amanhã. Ou, por outras palavras, só se começam a dar pontos às vitórias a partir deste fim-de-semana), a curiosidade reside em saber em qual dos cintos vão ser amarradas bombas se chegar a altura de carregar no botão de auto-destruição.
Eu aposto no Rui, da Damaia.

Não perca a crónica de amanhã, intitulada: “Esconde as ampolas, Jorge. Vêm aí os homens do controlo!”

quinta-feira, agosto 06, 2009

Pelos tornozelos morre o peixe

Nos vales soalheiros do concelho de Proença-a-Nova, onde os agricultores arrancam a custo do solo o canabis que põem na mesa e onde o Rui Veloso procura palavras que rimem com geleia e açafrão, concentram-se condições físicas únicas para o florescimento de uma fruta especial. Os antigos chamam-lhe a ameixa do tornozelo, mas, nos supermercados, ela é vendida apenas como rainha-cláudia.
Este ano, trouxe da terra duas caixas de ameixas do tornozelo. É um fruto particular, uma iguaria que deve ser consumida com parcimónia ou, se preferir, não é uma ameixa para javardos ou para alarves.
Se comer apenas uma, é provável que ainda chegue a tempo à luxuosa casa-de-banho da sua moradia (se me estiver a ler em Cascais) ou à fossa aberta no chão a meia dúzia de metros da entrada da sua caverna (se o amigo leitor pertencer aos No Name Boys).
Comendo duas, é provável que se borre mas talvez ninguém dê por isso, permitindo-lhe manter alguma dignidade perante familiares, amigos e funcionários (no caso do amigo leitor de Cascais) ou perante o seu agente de liberdade condicional (no caso do amigo leitor No Name Boy).
Com três, porém, temo que o leitor se torne uma personagem involuntária de uma reencenação do dilúvio bíblico, passando a ser conhecido maldosamente no condomínio como o cagão barbudo do 1.º D (ler por favor o post anterior para melhor contextualização). Verá então que o nome antigo tem total justiça: esta é, de facto, a ameixa que o faz baixar as calças até ao tornozelo [julgo que é por passagens rudes como esta que o meu nome não foi ainda proposto para o Grémio Literário. Nota mental: mandar uma caixa de rainhas-cláudia ao presidente do Grémio]
Como isto ainda é um blogue de bola e eu só recebo se falar de futebol, submeto ao escrutínio dos senhores a tese de que os clubes cheios de dinheiro (como o Real Madrid ou o FC Porto) ou aqueles que fingem ter dinheiro (como o Benfica) arriscam um destino semelhante ao do glutão que se atira avidamente a demasiadas ameixas do tornozelo. Demasiados reforços no mesmo defeso costumam dar indigestão, sobretudo em intestinos pouco dado a excessos. Seja no início ou no fim da temporada.
Pelo menos, isso é o que os esfomeados do outro lado do bairro gostam de imaginar enquanto esgravatam uma raiz do solo e pensam nos ricos que usufruem de refeições com três pratos: “Vais ver, filho. No fim, vai tudo parar à mesma fossa...”

quarta-feira, agosto 05, 2009

90 minutos a negociar com o diabo

Aos 5': Zeus, bom Zeus, prometo que não volto a comer com a boca aberta se virares isto a nosso favor

Aos 30': Zeus, bom Zeus, não volto a usar a escova de dentes dela para desentupir a torneira do lava-louças de duas cubas

Aos 60': Zeus, bom Zeus, não volto a cortar as unhas dos pés na sala.

Aos 75': Zeus, bom Zeus, não volto a cortar as unhas dos pés com a tesoura de trinchar o frango

As 90': Zeus, bom Zeus, é a última promessa - não corto a barba até ao Natal se isto ainda virar.

Aos 94': Gulp!!!

E assim cá estou, iniciando a griffe 2009 que fará sensação nas passerelles de todo o mundo.

Senhoras e senhores, o look operacional das FP-25 voltou a estar na moda. Faz comichão? Faz, sim senhor. É repelente? Admito que sim. Afasta os amigos? Não digo que não.
Mas vale bem o sacrifício.