Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Agora lembe!

Há quem coleccione selos. Outros preferem juntar borboletas. Outros ainda, como o meu tio Alberto, coleccionam pequenos pedaços de cadáveres mutilados a sangue-frio em festins pagãos na serra de Sintra, mas isso são histórias entre mim, ele e eventualmente a Policia Judiciária, que não dizem respeito a mais ninguém. Bom, é possível que os mutilados argumentem que a questão também lhes diz respeito, até porque lhes faltam pedaços significativos do abdómen e a gente só sente falta das coisas quando não as tem, mas não lhes façam muito caso. Isso são pessoas que dizem qualquer coisa só para aparecer.
Retomemos o fio à meada.
Eu colecciono corruptelas – palavras deformadas pelos falantes da língua que, por deficiência de audição, de pronúncia ou – o caso mais comum! – por mera cretinice, ganhem vida própria.… Ahem… Ganham vida própria. A circunstância parece gratuita, mas verão, no final da argumentação, que o autor não é tonto de todo. Enfim, tonto será, mas não tanto como os senhores gostariam.
Lê-se no “Record” de hoje que o Belenenses recolheu do Wikipedia a sua fundamentação jurídica para a queixa no caso “goal-average”. É bem achado! Há para aí uns patetas que pagam fortunas por pareceres de constitucionalistas quando a maior parte do Direito pode ser concentrada em três linhas escritas por qualquer pessoa num site de Internet. Aliás, é com gente prática como esta que se ganham intrincados casos jurídicos como o do Meyong no ano passado. Hmmm? Dizem-me, afinal, que o Belenenses perdeu o caso Meyong porque baseou a sua argumentação no site do professor Bambo, mas imagino que o desfecho terá sido um mero azar. Ou talvez o Belenenses não tenha usado correctamente o "marabout" (aqui).
O caso do “goal-average” tem feito correr tinta nos últimos quinze dias, provocando o caos no calendário competitivo nacional. Ora é o FC Porto, que diz que não joga em Alvalade se o Benfica não jogar no mesmo dia; o Sporting, que diz que não joga em Março porque não dá jeito; o Benfica, que diz que gostava mesmo de saber com quem vai jogar; o Guimarães, que está convencido que se apurou para as meias-finais; e o Belenenses, a quem o Wikipedia e o professor Bambo garantem que tem a razão toda do seu lado.
Na verdade, toda esta confusão pode ser imputada a uma única entidade. Não à Liga, coitada, que não tem culpa de escrever regulamentos nas costas de um guardanapo; nem à Federação, que treme de medo quando estas coisas lhe batem à porta e tem de decidir para algum lado quando a vontade é mandá-los todos à merda e fechar a porta do edifício na esperança de que as pessoas julguem que aquilo é uma delegação da empresa do primo do Sócrates.
O culpado é só um e deve ser punido. Rufam os tambores… O culpado é o Cparis, do blogue Briosa, que, no dia 19, resolveu ler os regulamentos da competição e alertou toda a gente para esta confusão (aqui). Como foi ele que destapou a caixa de Pandora e descobriu que o “goal average” é diferente do “goal difference” sugiro que seja ele a decidir quem deve jogar as meias-finais. Nem precisa de fundamentar nada. Ele escolhe a equipa que preferir e está escolhido. Como dizia a velha corruptela dos tempos de escola (cá está, o início da crónica não era tão tonto): fizeste asneira, agora lembe!

(já agora, se consultarem o professor Bambo, diguem-lhe... hrum.... digam-lhe que as letras azuis em fundo preto são tramadas para ler. Mesmo um "marabout" deveria saber isso)

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Uma esmolinha

O pobre homem está desesperado. Bem telefona para “A Bola”, solicitando uma notícia aqui, outra acolá. Pede ajuda para vender a mercadoria porque a crise, a safada, apanhou-o de calças na mão. Precisa desesperadamente de liquidez, de uma transferência. Alguns milhares de euros para resolver a vidinha.
Miguel Veloso já foi apalavrado uma mão-cheia de vezes. Vai para Itália. Vai para Inglaterra. Vai para a Alemanha. É o Manchester, o Arsenal, o Manchester City. A Juventus, a Fiorentina. O Bayern. O noticiário agressivo força apenas repetidos desmentidos. Conhecem o rapaz, sim, mas nem sabem em que posição joga.
8 milhões. 15 milhões. E não há ninguém que avance.
Em desespero de causa, tenta-se nova encomenda. O Paris Saint-Germain quer Izmailov. Em vão. De Paris, nem uma palavra. Tenta-se nova encomenda, mais desesperada. Viram o Izmailov, mas adoraram o Caneira (séria candidata, já, “a notícia cretina do ano”)
“A mercadoria está na mesa, fregueses. É escolher, é escolher!”
Hoje, volta a ser notícia o propalado interesse do Manchester City em Veloso, naturalmente sob o alto patrocínio de “A Bola”.
Paulo Barbosa rói as unhas. Oxalá o xeque árabe saiba ler português.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Aco’do o’tog’áfico no Mãos ao A’


Semp’e na lide’ança em iniciativas inúteis, o ‘eco’d faz gala do facto de te’ sido o p’imei’o ó’gão de comunicação a inclui’ o novo aco’do o’tog’áfico no seu liv’o de estilo. Cautelosamente, o jo’nal… enfim, é a fo’ça do hábito… aquele conjunto de páginas salpicadas de tinta ‘efo’ça dia’iamente que, dada a complexidade do p’ocesso, usa’á à vez a o’tog’afia nova e a velha. Po’ out’as palav’as, tenham lá paciência com os e’’os o’tog’áficos, de sintaxe ou de pontuação. A culpa é do aco’do.
No Mãos ao A’, também gostamos de adopta’ causas f’actu’antes ou não tivéssemos feito do Petit o talismã deste blogue (como é sabido, ninguém f’actu’ou mais do que o ex-jogado’ do Benfica no futebol ‘ecente). No que toca a adopta’, somos como o Woody Allen: quando adoptamos, adoptamos em g’ande. Ele escolheu uma co’eana de 18 anos, nós adopta’emos daqui pa’a a f’ente a g’afia de Baba, o pi’ata neg’o do Asté’ix. A pa’ti’ de hoje, a let’a “R” fica excluída destas páginas. Como dizia o António Vito’ino, habituem-se. Ou queixem-se à E’C.

domingo, janeiro 11, 2009

Cá vai, Dias Ferreira

Dias Ferreira, consciência crítica do sportinguismo, do dirigismo desportivo e da morcela de arroz, pediu aos sócios que identificassem claramente as suas opções directivas e as suas tendências de voto para moralizar o processo eleitoral que se avizinha no próximo Verão. Ora, muitos não saberão que, por detrás dos dois nomes do autores do Mãos ao Ar, esconde-se uma legião de pessoas, ávidas de atirar pedras e esconder a mão. É evidente que o Mãos ao Ar tem mais membros do que Vishna, o deus indiano, ou do que o Centúria Leonina. É, pois, de elementar nobreza perguntar-lhes em inquérito o que pensam do actual momento sportinguista. Assim, cá vai:
14% consideram-se soaresfranquistas
8% dizem-se abrantesmendistas
15% hesitam entre ser bettencourtistas, carlosbarbosistas ou eduardocatroguistas
4% estavam convencidos de que eram do Sporting, mas agora já não têm a certeza
15% seriam roquettistas se pudessem ter respondido, pois estão escondidos há meses no bunker do Oliveira e Costa na Vidigueira e necessitam urgentemente de roupa interior lavada
3% ainda são rochistas e zangam-se muito quando ouvem piadas vernaculares que juntam “bês” à sua opção
8% gostam muito daquele senhor pequenino que vai aos núcleos descerrar tabuletas, mas não se lembram se ele é o Menezes Rodrigues ou o Fernando Mendes do preço certo
13% apanharam um susto de morte quando souberam que havia presidente do Sporting, pois eram capazes de jurar solenemente que “estávamos em auto-gestão há um bom par de anos”
23% não estão particularmente inclinados por nenhuma candidatura, mas exigem bastante mais nudez explícita na comunicação empresarial do Sporting, incluindo nos relatórios e contas, balancetes, cartões de natal e contratos paralelos com jogadores.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Enrique e o lobo


Todos nós sabemos, pelo contacto que vamos tendo com gente que lê coisas e sabe provérbios, que “o hábito faz o monga”, embora, nas regiões mais industrializadas do país, exista quem prefira o mais vernacular “o hobbit faz o monge” – desfecho que seguramente não agrada ao monge, mas, neste país, já se sabe, há sempre uns sonsos que se safam e cada um é para o que nasce… Mas divagamos.
Dizem os entendidos que Jozef Szabo, lendário treinador da década de 1940, trouxe para o futebol português o treino aplicado a situações reais de jogo, tornando-se o primeiro a abdicar do modelo arcaico de correr na mata como preparação competitiva. Dizem também os entendidos que foi Bella Gutmann quem trouxe para o futebol português, na década de 1960, os primeiros laivos de profissionalismo, exigindo treinos diários ou bidiários e planificando a semana em função dos compromissos desportivos. Não dizem os entendidos, mas sugiro eu, que Giovanni Trapattoni completou o trio de inovadores técnicos da nossa história, introduzindo no futebol português o frasquinho de água benta como complemento táctico para jogos que corressem mal. Duas gotinhas no relvado e os deuses corriam em favor dele, equilibrando a balança e fornecendo-lhe os seus favores. Bom, os deuses e a APAF, mas isso é história para outro comentário.
A tese é polémica, eu sei. Há quem defenda que José Mourinho foi igualmente importante, trazendo para o futebol português o seu sobretudo cinzento, mas, para efeitos de comodidade, aceitemos como válido este trio de inovadores treinadores que por cá trabalharam.
Beato ou não, nascido no Pliocénico ou já na era quaternária, com todos os seus defeitos, a verdade é que a raposa italiana viu em 2004 aquilo que salta à vista de toda a gente, excepto de Quique Flores: Moreira não é guarda-redes para um “grande”. Corrijo: Moreira não é guarda-redes. Ponto.
Não é particularmente alto. Não é particularmente ágil. Não é particularmente bom entre os postes ou fora deles. Não é particularmente respeitado pelos colegas. Agora, o frango na Trofa parece ter provocado repulsa junto daquilo a que a imprensa convencionou chamar “alguns sectores”. “Alguns sectores” mostraram-se inquietos. “Alguns sectores” querem Moreira afastado. Faço notar que, por vezes, “alguns sectores” são formados apenas por uma pessoa, como o Bagão Félix, que grita sozinho no seu camarote, entre duas dentadas numa sanduíche de camarão, em protesto contra a elitização do popular Benfica. Mas, a avaliar pelos jornais de hoje, “alguns sectores” querem mesmo a exclusão de Moreira, como há um mês quiseram a exclusão do Quim.
No banco, Quique Flores parece feito de pedra, como uma das estátuas da ilha da Páscoa, incapaz de se mexer, incapaz de impor uma ideia. Sem personalidade, vai trocar outra vez de guarda-redes, esperando do oráculo dos céus um sinal claro de que, desta vez, acertou.
No futebol, o hábito não faz necessariamente o monge. Não basta vestir um fato e sentar-se no banco para se ser treinador. É preciso fazer opções e ser-lhes fiel até ao fim, reagindo com indiferença ao protesto de “alguns sectores” ou de milhares de pessoas. A escolha de um “onze-base” não é um processo democrático, não vai a votos ou, se preferirem, é inútil que os carneiros aprovem uma moção favorável ao vegetarianismo se o lobo mantiver uma opinião diferente.
Quique é o lobo. Mas age como um carneiro.