Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Jornalismo. E do sério.


Manchete do "Record" de hoje: «Veloso dá troco a Scolari. "Graças a Deus, vou aos sub21"»


Corpo da notícia: «O médio do Sporting pareceu mesmo feliz por o seu nome fazer parte das escolhas de Rui Caçador nos Sub-21. “Graças a Deus fui convocado. É sempre uma honra representar Portugal e vou dar o meu melhor”, disparou, com fair play, o jovem jogador.»

Cortesia: MSI

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Pandora & Rui Santos



De acordo com a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher criada no mundo. Fosse porque Zeus quis punir os homens pela ousadia de Prometeu, que roubara o segredo do fogo, fosse porque os deuses começavam a fartar-se de rabos peludos, a verdade é que lá se decidiram a fazer uma senhora. Como em todos os chavascais, toda a gente quis meter a colher: Hefestos moldou-lhe a forma; Afrodite cedeu-lhe beleza; Elpís deu-lhe gases; Apolo concedeu-lhe talento musical; Deméter ensinou-a a cultivar; Atena deu-lhe habilidade manual; Hermes deu-lhe um apalpão; Poseidon fez como eu faço no Natal quando fico desesperado e comprou-lhe um colar de pérolas caríssimo; Zeus deu-lhe a personalidade e uma caixa. Epmeteu não lhe deu nada e não percebeu por que motivo toda a gente ficou ofendida.
Mas falemos da caixa. Na caixa, concentravam-se todos os males do mundo: a velhice, a doença, a inveja, a mentira, a guerra, a unha encravada e o penteado do Rui Santos. Estava ali, de certa forma, uma minidirecção do Sporting.
Depois de lhe terem dito que não podia abrir a caixa, Pandora, naturalmente, não resistiu. Um fluxo destes males irrompeu pela caixa com tal velocidade que Pandora rapidamente a fechou. O penteado de Rui Santos emaranhava perigosamente para fora do recipiente, e os restantes males expandiram-se pela atmosfera como o passivo do Sporting. Apenas uma das tormentas permaneceu fechada na caixa: o mal que acaba com a esperança. É esse o tema da discussão de hoje.
Submeto à apreciação dos senhores que, se Pandora tem mantido a caixa aberta, hoje não haveria adeptos do Sporting. Mas ela fechou-a. E bem podem subir o preço do leite, manter o Purovic em campo, fingir que abatem o passivo, contratar chineses para os juniores ou abrir academias em Pretória, que nós temos esperança para dar e vender. Esperamos e sonhamos com a glória. Em sonhos, aliás, vejo-me com a Taça UEFA. Com a Taça de Portugal. Com a Taça da Liga. Com a Liga BWin. Também me vejo com a Linda Evangelista, mas é mais raro.
Há fundamentados motivos para ter esperança. Em primeiro lugar, porque já batemos no fundo e agora será sempre a subir. Em segundo lugar, porque o Derlei está quase bom e isso só pode querer dizer que só voltaremos a ver o Purovic quando for preciso substituir aquela barreira metálica ferrugenta que serve para treinar livres nos treinos. Em terceiro lugar, porque o Jesualdo, desde que começou a carreira de treinador, no final do Jurássico Intermédio, nunca ganhou em Alvalade.
Com tanta canalhice que anda pelo futebol, a malta, às vezes, esquece-se que ainda há gente boa. O Jesualdo é uma dessas almas pias. Mal entra em Alvalade, abre o cabaz e enfarda. Enfarda pela Académica, pelo Alverca, pelo Estrela, pelo Braga, pelo Benfica e agora, benza-o Deus, enfardará pelo FC Porto.
Verdade seja dita que o Sporting também não tem fama de ingrato e não são poucos os adversários que este ano já agradeceram a amabilidade de uma equipa que não pressiona, não corre e remata só em caso de absoluta necessidade.
Mas já que estamos a falar disto, importa dar a palmatória e reconhecer que não há gente no futebol português mais carinhosa do que a do Belenenses.
Esses, para além de serem bonzinhos, até oferecem pontos.

[post # 400 do Mãos ao Ar]

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Crise no Sporting? Ah, ah, ah

Escreve-se que o Sporting atravessa crise grave ou, como diria o Santos Neves, de “A Bola”, grave crise o Sporting atravessa. E provavelmente acrescentaria: pois rudes golpes abalado Sporting tem sofrido. Está por fazer, aliás, o estudo comparativo da inspiração narrativa que o cronista de “A Bola” colheu do mestre Yoda da “Guerra das Estrelas”. Jedi forte tem de ser e por aí fora. Mas adiante.
Uma crise é sempre descrita nos termos mais ingratos, como se fosse uma fase indesejada, perturbadora, feia. Contesto. A fealdade depende do ponto de vista. Uma úlcera péptica, por exemplo, pode ser desagradável para o portador, mas particularmente vistosa para o patologista. É como as crises. Esta, pelo menos, livrou-nos do Carlos Freitas e do Paredes. Algum mérito terá.
É verdade que o Sporting demonstra confrangedora dificuldade (isto pega-se, Santos!) em adaptar-se a algumas das premissas do jogo. Que normalmente dura 90 minutos e obriga a marcar golos para ganhar – pelo menos, lá fora. É preciso reconhecer que a equipa sofreu numerosas alterações desde a última temporada. Lembram-se dos velhos filmes pornográficos da década de 1980? O artista masculino apoiava invariavelmente uma das mãos nos rins para libertar o campo de visão da câmara de filmar. Quando a indústria mudou esse parâmetro, o público aficionado naturalmente protestou. Com o Sporting, é parecido. Saíram o Nani, o Caneira, o porco do chileno e o Ricardo. Entraram Vukcevic, Izmailov, o irmão do Vladan e mais algum javardo que agora me falha. Isto vai lá. Tudo o que sobe também tem de cair. É a lei da gravidez ou assim.
Acredito sinceramente que 2007/2008 ainda pode ser salvo. Há a Taça de Portugal, há a Taça da Liga, há a Taça UEFA. Lembrem-se que uma andorinha não faz necessariamente a prima Vera. E que mesmo um parto por cesariana pode gerar um antropólogo anafado, filosofaria o professor Neca.
Folheio ao acaso uma edição de bolso do Livro do Apocalipse e encontro uma passagem apropriada:

«Eu sou o Alfa e o Ômega", diz o Senhor Deus, "o que é, o que era e o que há de vir, o Todo-poderoso».

Deus, aparentemente, fala em português do Brasil, mas nem por isso está mal informado. “O que é” reporta ao chavascal que os meninos fizeram em Setúbal; “o que era” evoca o que os meninos fizeram na época passada; “o que há-de vir”, adivinho, dá conta de uma contratação inesperada e bem sucedida, que deve estar por minutos se o Gilmar Veloz aceitar uma chamada a pagar no destinatário.
Posso estar enganado, mas, como diria o Santos Neves: Merda não façam em Janeiro, porque mercado difícil está, sobretudo para quem dinheiro não tem.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

O irmão mais velho

Um dia, em Maio de 1998, o Leça foi espezinhado no Estádio da Luz. 7-1 foi o resultado, e o jogo deu para tudo - até para cinco golos (!) apontados por Nuno Gomes. Na baliza leceira, até aos 88 minutos, altura em que foi expulso ao cometer a falta que originou o sétimo golo do Benfica, exibiu-se Vladan. Guarda-redes sérvio banal, não particularmente alto, não particularmente ágil, não particularmente bom. Fiel aos seus princípios, Vladan não expiou a derrota. Em segredo, murmurou rancores contra os colegas, o técnico, o clube. Ele, que vinha da escola báltica, não era menino para enfardar sete golos.
Hoje, "A Bola" entendeu concretizar-lhe um sonho: ser capa de jornal sem estar sentado ao fundo da baliza, pesaroso, a ver os festejos dos outros. Vladan deu uma entrevista na qualidade de irmão de Vladimir Stojkovic - esperteza saloia destinada a difundir uma mensagem contundente fugindo ao regulamento interno do clube.
Hoje, como no relvado da Luz há quase dez anos, Vladan continua solidário. Nenhum dos erros de Stojkovic foi verdadeiramente culpa dele: nem com o FC Porto, que foi culpa do árbitro; nem com o Setúbal, que foi culpa da relva; nem com a Naval, que foi culpa da lesão.
De permeio, Vladan distribui críticas aos colegas do Sporting, aos treinadores do Sporting, aos médicos do Sporting, aos dirigentes do Sporting. Ele, que é herdeiro da escola sérvia, onde "o trabalho dos guarda-redes é elevado quase até à perfeição". (Cof, cof, cof. Distribuem-se brindes a quem nomear três guarda-redes sérvios que nos últimos 30 anos brilharam num grande clube europeu. Ou num pequeno), ele, dizia eu, não falha.
Um velho amigo, antigo funcionário da embaixada portuguesa em Belgrado, definiu-me um dia a natureza do carácter dos sérvios numa frase vernacular, mas nem por isso menos certeira: "Os sérvios, quando não borram à entrada, borram à saída". Vladimir e o seu inenarrável irmão provaram-no categoricamente.
E nunca reconhecerão um pingo de culpa...