Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Entusiasmo à Mourinho

Depois da infelicidade de sábado, é o Manchester que vai pagar as favas. E eu vou lá estar, na bancada East Stand Tier 1 Upper. Grrrrr.

São mais de 1.800 quilómetros para ver o Sporting, aplaudir o Moutinho e mandar o Purovic à merda. É esforço que, convenhamos, merece uma recompensa.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Demência avançada

Simon Vukcevic em entrevista ao jornal "Sporting": «Acredito que [Purovic] pode marcar 15 golos numa temporada». Mais à frente, «[Purovic] é um avançado fulgurante, está sempre no sítio certo e, a qualquer altura, pode marcar um golo.»

Estes montenegrinos são loucos!

segunda-feira, novembro 19, 2007

Nobre Povo (take 2)

Desculpar-me-ão a repetição, mas o Custódio, do Dinheiro & Oportunidade, lançou um concurso para apurar o melhor post da blogosfera nacional [regras aqui]. E o Custodio promete 1.000 euros de prémio. Ora eu cada vez tenho mais despesas – não fica barato pagar o colégio do miúdo e o colagénio da esposa, como calculam. E a minha avó precisa de uma placa nova. Por isso, cá vai a minha candidatura.
Facem... ahem... Façam o favor de votar em mim porque, recordo, o que derem agora na Terra recebem a duplicar na próxima vida. De caminho, ameacem o Custódio também. O medo pode ser um estímulo muito eficaz, como dizem os melhores capangas. De qualquer modo, eu vou impugnar qualquer decisão que não me favoreça E é só isso. Muito obrigado.

«Mil vezes repetidos, há dogmas que penetram fundo na terra e ganham raízes. No futebol português, não há dogma mais martelado do que a natureza intrinsecamente popular do Benfica – o Benfica é o clube do povo, repete incessantemente a lengalenga.
Se especularmos e levarmos o teorema para a expressão seguinte, o FC Porto é necessariamente o clube do clero. Há lá papas e coisas assim.
Resta ao Sporting portanto o papel de clube da nobreza.
Ora, eu não sei que livros leram os senhores que repetem, com orgulho, que o Benfica é o clube do povo, mas nos romances de cavalaria que tive oportunidade de consultar ser da nobreza é menos asfixiante do que ser do povo. Em primeiro lugar, saliento que o povo alomba forte e feio enquanto os nobres costumam tocar alaúde. Eu não tenho muita experiência, mas tenho impressão que nunca ninguém morreu a tocar alaúde. (Só se for de tendinite, que parece que dá de repente). Já quem alomba forte e feio não costuma chegar a velho.
Em segundo lugar, imagino que um servo da gleba não seria homem para realizar todos os seus sonhos – excepto se todos os seus sonhos passassem por domir na palha e levar com harpas na cabeça em intervalos regulares. Há muito boa gente que não quer mais nada da vida – estou a lembrar-me do Jorge Palma, por exemplo –, mas eu sou um bocadinho teimoso: julgo que continuo a preferir o alaúde.
Há também aquela questão mais chata das guerras, mas, mesmo aí, os nobres têm alguma vantagem. Para já, não vão a pé, mas sim com a padiola assente no lombo do cavalo, o que significa que o equídeo também alomba e portanto qualifica-se automaticamente para ser do povo (e do Benfica).
E, nas batalhas, enquanto os nobres usam armas chiques como arcos e flechas, o povo é encafuado em áreas exíguas e entretém-se à marretada com coisas perfurantes. Não me levem a mal: cada um entretém-se como pode, mas escusa de salpicar as roupas dos outros com sangue e vísceras. E tenho ainda hoje como muito válido o conselho que a minha avó costumava dar: não brinques com facas que ainda vazas a vista a alguém!
Creio que a insistência dos pregadores do reino em lembrar que o Benfica é o clube do povo é um capricho parecido com o do meu miúdo que, na semana passada, viu um daqueles cuspidores de fogo ou engolidores de sabres na Rua Garrett, daqueles que tem fuligem da cara até aos chanatos e cujo cabelo emaranha para fora do lenço palestiniano que usa à cabeça. Pois o miúdo disse com convicção que aquela era a profissão que ele escolhia. Lá lhe expliquei que não, que um engolidor de sabres tem dificuldades em manter relações estáveis e tem imensas complicações fiscais, que um cuspidor de fogo gasta fortunas em petróleo e outros consumíveis e que, no fundo, aquilo que ele via à distância parecia mais promissor do que a realidade.
É a mesma coisa com o dogma da dimensão popular do Benfica. Ser do povo até é giro. Mas experimentem desenvencilhar um sabre que se emaranhe no duodeno e depois venham cá falar.»

sexta-feira, novembro 16, 2007

Ponhem os olhos no senhor doutor

A utilização de citações clássicas em programas de clubes de futebol tem a grande vantagem de ser extremamente elegante. O presidente – que, por norma, aprendeu a comer com as mãos e não raras vezes cuida que o tecto da Capela Sistina foi pintado pelo Miguel Ângelo dos Delfins –faz de cicerone da cultura perante o auditório de grunhos que o vai eleger.
Normalmente nestas ocasiões, cita-se Confuso, o grande sábio chinês, ou a arte da guerra de Suduku, adaptando passagens da versão com desenhos para colorir. E dizem-se estas coisas com um ar sério, de preferência usando óculos. Porque os óculos, como todos sabemos, exalam sabedoria.
O candidato único à presidência do Boavista chama-se Joaquim Teixeira e não é um desconhecido na Avenida da Boavista. Na verdade, boa parte dos lavatórios de duas cubas ali instalados têm a assinatura deste engenheiro mecânico. Faltava-lhe porém a consagração desportiva. Com o ímpeto dos homens de acção, Joaquim Teixeira tomou duas medidas decisivas: comprou óculos, claro, e citou John F. Kennedy no seu programa eleitoral. O documento pede assim aos boavisteiros para não perguntarem o que o clube fez por eles mas sim o que eles estão dispostos a fazer pelo clube.
Mesmo com estas armas convincentes, a mensagem de Joaquim Teixeira tarda teimosamente em penetrar no tecido social do Boavista e não são poucos os que duvidam que ele seja o JFK da Areosa. Joaquim Teixeira não se rende. JFK tinha um irmão que cativava o eleitorado feminino para a causa democrata. Joaquim Teixeira tem um primo que no mês que vem já sai na primeira precária depois de cumpridos três anos por lenocínio.
E há mais. Do topo do separador da Rua do Campo Alegre [onde, aliás, um jaburdo quase me atropelou na semana passada], o candidato vai arengar as massas com um brusco: Ich been eine torneiren mekanische, grito de guerra que decerto impressionará os 14 caçadores-recolectores que compõem a massa associativa do clube. Porque este homem, a quem os amigos chamam “Marineide”, os clientes "o Khadafi dos radiadores” e os empregados “o porco do patrão”, tem o dom da palavra.
Se nem isso levantar os adeptos da estranha letargia, Joaquim Teixeira tem um último plano. Joaquim Teixeira sabe que a popularidade de JFK subiu em flecha ao ser assassinado nas ruas de Dallas. O preço parece excessivo, mas Joaquim Teixeira não é homem para receios. E, numa inédita e muito saudável iniciativa de campanha, o candidato prostrar-se-á à porta do Centro Comercial Dallas de peito feito para receber as balas alheias — toda a gente sabe, aliás, que permanecer quinze minutos à frente do CC Dallas é um acto de incrível heroísmo, comparável à tomada de Bagdade, a tomar banho sem esperar três horas ou às letras do Jorge Palma.
Se nem isso convencer os boavisteiros, o clube estará irremediavelmente perdido.

terça-feira, novembro 13, 2007

Silêncio

Passaram quatro dias desde a entrevista do recluso Mário Machado ao jornal “Sol”. Aguardei com impaciência por uma tomada de posição da direcção do Sporting. Em vão.
Recordo que o senhor disse que há vários hammerskins entre os adeptos do Sporting e muitos nacionalistas, como ele, na Juventude Leonina. Aliás, foi graças à claque que terá entrado no movimento nacionalista.
Teria sido simpático que o Sporting, tão célere noutras ocasiões, se apressasse a difundir um comunicado repudiando a associação de uma claque oficial e legalizada do clube ao movimento nacionalista.
Teria sido simpático que o Sporting anunciasse a abertura de um inquérito para verificar a veracidade da acusação.
Teria sido simpático que o Sporting pressionasse a claque para expurgar esta gente do seu seio ou, em alternativa, que prosseguisse o seu rumo sem qualquer apoio do clube.
Teria sido simpático que o Sporting iniciasse um processo de expulsão a este associado do clube por desrespeito aos estatutos do clube.
Foi um lapso, seguramente.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Quando escreverem...


... a tragicomédia que é a história do futebol do Sporting, hão-de usar este jogo como exemplo. Mas livrem-se, por favor, de bater na tecla do azar.

Do azar à falta de estaleca para estas andanças vai um curto passo. Ou a diferença entre virar os corn** na direcção certa ou errada.

Nao consigo rir

... do infortúnio de grandes sportinguistas. Levanta a cabeça, Quim. Lembra-te que és dos nossos. Lembra-te que, há 15 anos, calcorreavas quilómetros para ver um jogo do Sporting no Minho. E lembra-te do exemplo do nosso querido amigo Domingos Soares de Oliveira, administrador executivo da SAD do Benfica, também ele sócio e adepto do Sporting que aí está a minar as contas deles com perseverança e dedicação.

terça-feira, novembro 06, 2007

Dos penaltes e dos coliformes


Os budistas acreditam que são precisos anos de treino e concentração para um ser humano esvaziar o cérebro e adquirir novos mecanismos de aprendizagem mental. É evidente que os budistas, lá longe, na Chinatown que a Maria José Nogueira Pinto há-de fazer para eles, nunca leram o fórum do Record online. Não são precisos anos de treino. Para muitos, basta fazer o «login» e a mente esvazia-se num ápice.
Esta semana, debateu-se avidamente o número de penalties de que o Sporting já beneficiou este ano: quatro em nove jogos de campeonato. Sacrilégio! Recordaram-se estatísticas de outros anos e soltaram-se muito perdigotos de indignação face às forças poderosas que auxiliam o clube, tecendo, na bruma, a teia que nos ampara.
Para os sportinguistas, tudo isto é novo, como calculam. Os penalties são tão raros em Alvalade que, quando um árbitro timidamente assinala um, há muito boa gente que cuida que chegou o Dia do Juízo Final, isto até foi giro e tal, mas tudo o que é bom tem um fim e vamos lá então resolver isto a bem e decidir ordeiramente quem vai para o céu e para o inferno, não empurrem que chega para todos, eu tenho um primo que conhece o Vítor Melícias e isso deve contar para alguma coisa, e eis que um parágrafo inocente se tornou um texto do Saramago, Mil mistérios têm os desígnios da escrita e insondáveis são os desígnios da alma, Ó homem, não ponhas tantas vírgulas, Porra, Pilar, posso ter 100 anos mas ainda mando nas questões da pontuação, Está bem, homem, não te irrites, mas assim ninguém percebe nada, O campo debulhado será o que a ceifeira quiser, Não dizes coisa com coisa, mas não te esqueças que o jantar está pronto, Arre, que eu não nasci para isto, Nem eu, Quem é disse isso agora, Fui eu ou tu?, Já me confundiste, Olha, chama o narrador para ele pôr ordem na casa.
(retomando a ordem escorreita da argumentação)
Além disso, intriga-me a indignação alheia. A julgar pela forma como o Moutinho e o Liedson têm marcado as penalidades, dificilmente se pode falar destes castigos como pena capital. Em rigor, o único dano que um penalty a nosso favor pode gerar é um joelho esfolado ao guarda-redes adversário.
Mas vamos ao números. Quatro grandes-penalidades em nove jogos não são per si muitas ou poucas. Chamo a atenção dos senhores para o facto de uma equipa que ataca mais ter, à partida, mais hipóteses de chegar à área da outra. A situação é, a meu ver, comparável a uma estação de tratamento de águas residuais. Coloquem uma ETAR em Aguiar da Beira ou em Odeáxere e outra em Lisboa e verão que a contagem de colónias de coliformes fecais por mililitro será maior na ETAR de Lisboa do que nas outras. Não quero sugerir que as outras ETAR são menos nobres ou têm menos encanto, mas a vida é feita destas crueldades: há mais gente em Lisboa, logo... as colónias de coliformes fecais sentem-se mais felizes aqui para se multiplicar.
No futebol, é igual. Quem coloca mais gente para atacar, quem ataca durante mais tempo normalmente beneficia de mais penalties. Se os senhores atacassem durante os 89 minutos do jogo e não guardassem para o fim as investidas, também os teriam – penalties, bem entendido, porque coliformes fecais há-os, e com fartura!
Em remate, cuido que seria igualmente útil analisar as grandes-penalidades marcadas contra cada um dos «grandes» e o Benfica também. Pelo menos, é o que se faz lá fora, no estrangeiro. E esse relato diz-nos que já foram marcadas duas penalidades contra o Sporting, uma contra o Benfica e nenhuma contra o FC Porto. No caso dos «dragões», que caminham a passos largos para festejar o 400.º dia desde o último «penalty» sofrido, até foi comovente ver a repugnância com que Carlos Xistra apitou para cada um dos quatro penalties a que o Fátima teve direito, no célebre desempate da Taça da Liga. Mas esses, lamento, não contam.