Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Parabens, Benfica – Parte 3

Volto à saga do 99.º aniversário do Benfica para falar de superstição. Não é seguramente um desígnio exclusivo da brigada punga. Conta-se aliás que até no maior clube português a superstição fez história. O saudoso António Morais, treinador do Sporting, tinha a pancada de que, em dia de jogo, o autocarro da equipa não poderia de forma alguma fazer marcha atrás, sob risco de comprometer o resultado do encontro. Certo dia, na Covilhã, depois de o condutor errar o desvio para o estádio, o veículo teve de percorrer mais de vinte quilómetros até encontrar uma rotunda onde pudesse inverter a marcha sem fazer a temida manobra. Ganhámos, claro. Os jogadores devem ter ficado tão arrepiados com a graça que decidiram ganhar, não fosse o Morais lembrar-se que, se calhar, para garantir mais vitórias, teria de suturar a carótida de todos os defesas-direitos com uma catanada na véspera do jogo.
Os psicólogos têm um nome técnico para este tipo de indivíduos: chamam-lhes maluquinhos (espero não vos perder com o jargão demasiado específico).
É claro que, se isto aconteceu no maior clube português, onde a maior parte das pessoas utiliza avisadamente os garfos para capturar pedaços de comida e não para raspar a mascarra das unhas, imagine-se as histórias da pandilha de Carnide. Recupero duas.
Como se sabe, o Benfica é o maior especialista mundial em perder finais de competições europeias. Os franceses gozam com o ciclista Raymond Poulidor, eterno segundo classificado da Volta à França, mas o Benfica, benza-o Deus, é bem pior. Em havendo joguinho decisivo, o clube comporta-se como os franceses nas guerras mundiais e atira-se para a trincheira, de rabo para o ar, imitando a proverbial avestruz.
Sabedor da malapata, Toni, treinador dos brumelhos na final de Eindhoven de 1988 (aquele abraço, Veloso!), tentou inverter a sina. Isso, de preparar equipas e ensaiar rotinas, está muito bem, pensou o treinador, mas, volta e meia, uma superstição burgessa é bem capaz de ser a solução. Aconselhado pelo parapsicólogo Delane Vieira (homem com tanta influência divina que tinha o demónio em speed dial), foi a um supermercado de Estugarda, encheu um carrinho de compras e ofereceu o conteúdo ao primeiro transeunte necessitado que encontrou.
Não se sabe ao certo o que falhou em tão genial plano. Talvez o mendigo fosse criterioso e não apreciasse as embalagens reunidas à pressa por Toni (“E o meu amigo não me diz o que vou fazer com três – três, santo deus! – latas de pêssego em calda? Ainda se fosse grão de bico, talvez se fizesse um bacalhau de estalo, com bróculos e tudo. Agora, isto! E o estojo de epilady é para mim? Pode esquecer essa vitoriazinha com os holandeses. Agora é que não ajudo mesmo!) Talvez ninguém tivesse dito a Veloso que os penalties são normalmente concebidos para que os jogadores os marquem.
A verdade é que o Benfica perdeu. Naqueles segundos fatídicos de Estugarda, várias coisas passaram pela cabeça de Toni. Uma delas foi seguramente a vontade de apontar uma pressão de ar à genitália de Delane Vieira numa próxima ocasião.
Veio a final de 1990. E logo em Viena, cidade onde foi sepultado Bela Gutmann, o único treinador do Benfica que ganhou duas finais e que, pela incompetência, logo foi premiado com a dispensa. Correu por esses dias a informação de que o Benfica não era uma equipa merdosa, longe disso!, a culpa era da maldição lançada por Gutmann, segundo a qual mais ninguém ganharia uma final no clube depois dele.
Entra em cena Osébio. Por iniciativa própria, o pantera negra foi ao cemitério de Viena e, junto da campa do malogrado húngaro, pediu clemência para o Benfica no jogo frente ao AC Milan. Ora, eu nem gosto particularmente de futebol, mas de crendice bacoca sou cliente viciado. Intriga-me o que terá corrido mal nesta estratégia. Talvez Gutmann não tivesse escutado bem – diz-se que uma das coisas que se perde mais depressa num cadáver é o discernimento. Talvez o Benfica pudesse ter tentado treinar para o jogo em vez de organizar romarias a cemitérios que, apesar de proporcionarem sempre momentos de grande folgança, não ajudam tanto a ganhar jogos de futebol. Inclino-me porém para uma terceira hipótese. Conhecendo bem Osébio, é bem possível que o pantera negra se tenha prostrado no jazigo de outro fulano qualquer, cuidando que estava à beira de Gutmann. Já lá dizia Plínio, o Velho: In vino veritas… O vinho realça a verdade!

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Parabéns, Benfica parte 2: Faça-se Luz

O acontecimento está na génese da fusão de duas agremiações desportivas, quando, em 1908, o Grupo Sport Benfica se juntou ao Sport Lisboa, como os benfiquistas sabem na ponta da língua bífida: uns, tinham um razoável bando de pontapeadores na bola; outros, era uma cambada de pernetas mas que tinham um pelado de fazer inveja à testa proeminente de João Vale e Azevedo, futuro presidente e – diga-se a talho de foice – bastante injustiçado pelos adeptos e pela justiça podre que sempre reinou em Portugal. Vamos, Vale, levanta-te e caminha e termina a tua obra, vinga-te daqueles que só te querem mal. Justiça popular! Vivó Vale! Vivó Vale! Viv... (desculpem, deixei-me levar pelo entusiasmo na defesa de tão íntegra personalidade que, um dia, a História virá dar razão). Mas retomemos o fio à mealhada, perdão, à meada.
Nos anos seguintes, o jovem clube andou, literalmente, de casa às costas – nada mais natural para quem é filho de pais incógnitos. Andou por aqui e por ali, mendigava aqui e acolá, pedinchava terrenos baldios e até pediu emprestado um troço de terrenos de um clube que já tinha sido fundado há um par de anos, ali para as bandas do Lumiar. O sonho era ter casa própria, desejo legítimo de qualquer parente pobre e, em 1953 – 45 anos depois da criação do SLB’08 – começou a erguer-se o batatal com bancadas. No dia 1 de Dezembro desse ano, a obra estava pronta, e a inauguração foi feita com pompa e circunstância: desfilaram o conjunto filarmónico de Carnide, a associação de protecção das aves de rapina, alguns encarapuçados do Ku Klux Klan, a neta de Cosme Lampião em ceroulas e corpete que levou a turba ao delírio, a sociedade anónima “Afilhados do Garrafão”, um grupo de pauliteiros de Miranda intitulado “Bordoada como o Petit” cujo nome que causou interrogações mas que hoje todos compreendem, umas meninas contratadas à ultima da hora numa casa de alterne da Invicta que desfilaram sob a designação de “Carolinas de Portugal”, algumas figuras do Estado Novo para dar ainda mais brilho à festa e, por fim, um convite especial à equipa do Futebol Clube do Porto para jogar à bola – os amigos servem para estas ocasiões.
Até aqui tudo bem. Os benfiquistas inchavam de orgulho. O pior foi no fim: amigos, amigos, negócios à parte (e os portistas são especialistas nestes assuntos) e, no fim dos 97 minutos (todos os jogos do Benfica a partir de então passaram a ter pelo menos 97 minutos), os encarnados incharam 3-1 dos tripeiros. Nada mau para uma festa de inauguração.
Volvidos 51 anos, o clube embirrou que também queria ter um estádio novo, como outros também tinham. Pedinchou, negociou, intrujou e lá ergueu aquilo que nem vale uma missa – a nova “catedral”. Mas nem os santinhos ajudaram: no primeiro jogo oficial, foram derrotados por um conjunto de pescadores da ria de Aveiro. Sem apelo nem agravo. A festa foi bonita, sobretudo para os auri-negros. E, para que a tradição não fosse interrompida, era bom que todos os fins-de-semana o Benfica inaugurasse um novo mamarracho de betão.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Parabéns, Benfica – Parte 1

Na quarta-feira, dia 28, o Benfica completa mais um aniversário. Para todos aqueles que frequentaram a quarta classe e dominam portanto os princípios elementares da aritmética ou do ábaco, perfaz 99 anos. Para os restantes, completa a idade que se quiser.
A lenda diz que, depois de criar o mundo, Deus, já estafado, guardou as peças defeituosas que lhe restaram para um último projecto: o Benfica, espécie de Frankenstein moderno. É para honrar esta instituição que evocaremos esta semana os episódios mais marcantes da história do Benfica, tal como a recordamos. Deixaremos propositadamente de fora episódios já lembrados, como os 7-0 de Vigo (aqui) ou os 7-1 de Alvalade (aqui, aqui, aqui e aqui). A saga terminará apropriadamente no sábado, dia em que se completam 400 dias sobre o último penalty assinalado contra o Benfica para a Liga…


A Fundação
O Benfica nasceu em 1908, ano de boa colheita, marcado pelo regicídio e pela invenção do contador Geiger. 1908 foi também o ano em que o então jovem Rui Costa completou o exame da instrução primária e Pedro Mantorras ensaiava os primeiros passos com um joelho de aço inoxidável, projecto infelizmente falhado da Junta Ultramarina das Máquinas de Guerra. E, claro, 1908 foi o ano do Benfica. Para trás, ficavam anos atribulados de fusões e cisões, dívidas e arrestos, mas muita, muita paixão.
Para perceber o clube, torna-se aliás fundamental lembrar os seus múltiplos antecessores porque, de certa forma, o Benfica foi filho de pai incógnito, tantos foram os potenciais progenitores.
A máquina do tempo leva-nos a 1904 e ao bairro de Belém. Cheira mal nesta Rua Direita de Belém, beco fétido e putrefacto onde apenas um germe particularmente patogénico poderia prosperar. Joga-se à bola. De um lado, os irmãos Catatau, marinheiros de profissão e súcia de malfeitores que fariam empalidecer de inveja outros irmãos célebres – os Metralha. Do outro, alunos e ex-alunos da Real Casa Pia de Lisboa. Apesar da proveniência, asseguram os historiadores do clube, nem todos os futuros fundadores do Benfica seriam sodomitas. O farmacêutico Pedro Franco era vegetariano e gritava aos quatro ventos que marinheiros não contavam como carne. O jovem Cosme Damião, verdadeiro gentleman, insistia para que o tratassem por Irene. Em vão.
As partidas jogavam-se nas Terras do Desembargador, terreno partilhado com os Regimentos 2 e 4 de Cavalaria [verídico], combinação perigosa e pouco abonatória para os equídeos. A história oficial do clube assegura que os jovens do Grupo Sport não aguentaram ser preteridos pelas prioridades dos regimentos e partiram para outro campo. Hoje, sabe-se a verdade: foram os cavalos que pediram para não treinar no mesmo recinto dos futuros benfiquistas. Quem os censura?
Montou-se entretanto sede. Apropriadamente, ficava na Travessa das Zebras [palavra, há aqui esforço honesto de documentação!]. Voltaram a protestar as zebras. Uma vez mais, os ungulados despejavam o proto-Benfica: 2-0!
A um clube falta naturalmente material. Fez-se um inventário e, no verso de um talão de tinturaria, organizou-se a primeira encomenda. Seguiu para Londres o pedido de três bolas e um apito [verídico]! Os meninos conheciam mal as regras, mas já sabiam que mais valia terem o apito no bolso!
Surgem entretanto vultos no desporto do clube. No atletismo, destaca-se Cabeça Ramos, quanto mais não seja pelo infeliz nome com que foi cunhado. Mas Cosme Damião, diligente, queria definir outras prioridades. Enquanto os sócios pretendiam participar em torneios e disputar jogos, o fundador do Benfica organizou histórica assembleia para definir a primeira questão fracturante do novo clube: o tom e textura dos casacões do equipamento. Acabou por ser votado o traje em veludo cotelet que ainda hoje perdura, com voto contra de Cabeça Ramos, cuja declaração de protesto ecoou, estridente, pelos anais da história:
“Este clube parece-me cada vez mais estranho! Disseram-me para vir jogar à bola, mas já me apalparam três vezes o rabo desde que estamos em plenário. Ora eu não vim de Olival Basto de carroça para me beliscarem a padiola. Está certo que estamos todos de calções e já me disseram que isto se faz muito em Lisboa, mas eu tenho cá as minhas desconfianças. Podem enfiar o casaquinho de veludo onde bem vos aprouver, excelências. Eu tenho um caldeiro ao lume!”
Saiu e, na sala, tombou pesado silêncio. «Irene» Damião levantou-se pesadamente e lançou dichote lendário: “Pois que vá. Foi o primeiro entre todos a sair. E pluribus unum. Que seja esse o nosso lema.”

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

De profundis, tanga lenta!



Todos os anos sinto a agoniante pontada de dor: há uma semana da temporada em que a equipa de futebol do Benfica parece tão mecanizada (que Deus me perdoe!) que me parece possível que venha a ganhar um troféu. Normalmente, acaba por ser a prestigiada Taça “Jean-Pierre Joue Avec Moi et Laisse L’Autre Fiston en paix”, organizada em Paris e comemorada efusivamente com voltas de honra ao campo, emigrantes em delírio febril, o Vieira em cuecas no balneário, os corpos sociais com bebedeiras de caixão à cova e um ou outro jogador, que já representaram o Sporting ou o FC Porto, envergonhados a um canto com aquele pardieiro. Enfim, o costume!
Ora, a semana de 2007 é esta e a dor foi provocada pelas difíceis, mas justas, vitórias dos ogres na Madeira e em Bucareste.
Penetremos nas profundezas da psique (não confundir com psiché, ó massa bruta) sportinguista para perceber melhor a agonia. Para penetrar na psique, peço-vos que sigam em fila indiana atrás de mim, sem javardices, nem empurrões. Cuidado também com os sítios onde põem os pés. Mais vale virem de galochas.
Ora, para a psique sportinguista (suponho que para a portista também, mas eu já não saio tanto como dantes), um segundo ou um terceiro lugar no campeonato não são necessariamente negativos – desde que a brigada punga siga atrás. O que custa é vê-los à frente de nós, barrindo de contentamento, balouçando as caudas de júbilo e meneando a garupa com graça. Isso, senhores, custa muito!
É verdade: já nos rimos muito esta época. Pelas minhas contas, foram sete derrotas em jogos oficiais (três para o campeonato, uma para a Taça de Portugal, três para a Liga dos Campeões). Foram os casos de doping. Foram os bem humorados boletins clínicos, espécie de caixa de sortidos, da qual nunca sabemos que guloseima vai sair. Foram os dálmatas de porcelana e os cortinados de chita arrestados ao Veiga. Foram os discursos do Vieira. Foram os dálmatas e os cortinados devolvidos ao Veiga. E foram, outra vez, os discursos do Vieira. Foram as prometidas saídas do Smeagol e do gigante. E foram as bem intencionadas declarações do engenheiro, sempre que foi buscar lã e voltou tosquiado, balindo de protesto (e, com esta, asseguro que terminaram as prosopopeias).
Mas, seja lá por que artes (é verdade que os controlos anti-doping desta semana só serão divulgados daqui a dois meses), aquele de que não se deve pronunciar o nome está perto de mais do primeiro lugar. Não está a jogar… hrghghnnn… de forma totalmente horrível (Ui, que isto custou!). E tem um calendário mais acessível do que os restantes.
Mais preocupante: não foi AINDA muito ajudado. Beneficiou apenas de quatro penalties (ou seja, quase nada, tendo em conta a média anual estabelecida desde o Reviralho de D. Maria I). E terá recebido pouco mais do que dez pontos de bónus de arbitragem – ou seja, quase NADA.
Temo o pior.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

À carga… com o Miguel Garcia

No futebol como na política, há extremistas de sangue na guelra. Puristas, recusam o compromisso: querem no clube apenas os «seus», os puros, aqueles que sentem o emblema e vertem poças de sangue para ganhar um centímetro quadrado na batalha contra o inimigo. Aqueles que se lançam em «carrinhos» fúteis na pista de bolas que inevitavelmente sairão pela linha lateral. Que pressentimos que não nos trairão. Que juram fidelidade ao emblema com sinceridade contagiante.
Apesar de tontos, adeptos destes são, como índios, capitães da malta, na cantiga do Carlos do Carmo. Contagiam-nos, aplicando, sem o reconhecer, a máxima de Malcolm X: café não se mistura com leite, porque o leite enfraquece o café. Por eles, no clube ficaria apenas um punhado de eleitos – herdeiros da tradição, extensões físicas do fervor da bancada no campo. E nós, claro, os moderados [é verdade, sim senhor, esta semana sou um moderado! Dá-me mais jeito] aplaudimos. Mesmo que a lógica não resista a um simples teste.
No Sporting, extremista que é extremista não quer o Ricardo. Já deu frangos, já custou campeonatos e, pior, é/foi benfiquista. Fora!
Tiago é o maior desastre da história do Sporting, desde que a Isabel Figueira casou com o César Peixoto. Rua!
Ficamos, para já, com o Rui Patrício na baliza.
Vamos para a defesa.
Polga portou-se mal duas vezes com o Sporting (não quis jogar uma vez e voltou tarde das férias no ano seguinte). Hasta la vista!
Caneira? Rescindiu o contrato unilateralmente em 1998.
Tonel? É da formação do FC Porto.
Abel? Nasceu em Penafiel: deve ser «tripeiro».
Veloso? Padece do mesmo problema que Moutinho e Pereirinha: os respectivos pais jogaram no Benfica, devem ter genes defeituosos no sistema nervoso central.
Ronny? Julgo que concordamos todos que um jogador com um bestunto daqueles não serve.
Da defesa, resta o Miguel Garcia.
Vamos ao centro do campo.
Paredes? Guardou o melhor da carreira para o FC Porto e ficámos com os restos. Pode ir lentamente embora.
Custódio? Confidenciou a um jornal de escola que não se importava de jogar no Benfica. Só o facto de ter sido menos inteligente do que um grupo de fedelhos ranhosos diz tudo!
Alves, Farnerud e Romagnoli? São demasiado maus para merecerem mais do que uma linha de explicação.
Tello? Custou milhão e meio de contos. Passados seis anos, ainda dói.
Nani? É benfiquista. E não bate bem daquela cabeçorra.
Carlos Martins? Até é do Sporting, mas é maluco. E, para malucos, já bastam os da bancada.
Alecsandro? Diz que tem um clube português à espreita, pelo que é deixá-lo ir schnell para o Sacavenense.
Bueno? Veio pela mão do Carlos Freitas, custou de mais e já gastou a sua noite de glória
Liedson? Joga quando quer, insulta treinadores e prolonga férias. E baldou-se ao jogo decisivo de 2005 para poder descansar até à final da Taça UEFA.
Yannick Djaló? Pode ficar, mas com termo de identidade e residência até nova apreciação.

Conclusão: restam o Rui Patrício, o Miguel Garcia e o Djaló.
É o mal das limpezas étnicas. A gente entusiasma-se tanto que acaba por cometer excessos…

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Eu acuso!


Recupero hoje o caso Dreyfus, um incidente celebrizado pelo nome de Alfred Dreyfus, capitão do exército francês, injustamente acusado de espionagem e condenado sem provas. Dreyfus, coitado, era alsaciano e judeu, conjugação de atributos que pode ser muito arreliadora, sobretudo para os leitores que vivam na França anti-semita do início do século XX. Felizmente, porém, o capitão foi defendido valorosamente por Émile Zola, no célebre manifesto “J’accuse”. Zola, lembrar-se-ão os mais antigos, viria depois a fazer carreira no Nápoles, envergando a camisola 10 que pertencera a Maradona. Mas, nesta fase, ele preferia escrever: gostos não se discutem, já lá dizia o canibal da minha rua, que foi apanhado com metade da família empacotada em tupperwares no frigorífico, não sem antes ter reescrito a receita do “doce da avó”.
Divagamos, porém.
Recupero este caso porque, ao lado da perseguição que o Conselho Nacional Anti-Dopagem (CNAD) está a mover ao Benfica, o affaire Dreyfus foi, como diria um casapiano, uma brincadeira de crianças. Do alto da sua arrogância, o CNAD já detectou em menos de um ano substâncias proibidas em três atletas da Instituição – o futebolista Nuno Assis, o basquetebolista António Tavares e o jogador de râguebi Paulo Barata. Justificadamente, Luís Filipe Vieira indigna-se. A ele, ninguém coloca a pulga atrás da orelha, apesar de a expansão lamelar do presidente do Benfica até ser francamente maior do que a da maioria dos mortais. E não venham cá com linguagens arrevesadas: apesar da instrução mínima, Luís Filipe Vieira sabe perfeitamente que uma broncopneumonia ocorre quando um bronco se constipa. Por isso, em face da injustiça, Vieira vocifera.
Consulto o dicionário da Texto Editora e confirmo as minhas suspeitas: “perseguir” também quer dizer “ir no encalço de”, “procurar alguém com insistência” e, sobretudo, “importunar”, “molestar” ou “vexar”. Quando o presidente do Benfica se queixa de perseguição do CNAD está justamente a insinuar que o CNAD molesta, vexa e importuna. A lata dos tipos, hein? Vir chatear a malta, pedir para alçar as minhocas (não há, até à data, casos positivos de senhoras ou transgéneros, pelo que a metáfora aplica-se com propriedade) e recolher as “orinas” (palavra da mesma família de “Óropa”, “chóriço” e, sobretudo, “Ósébio, o pantera negra”) com o intuito óbvio de molestar.
Parece-me também que a própria classificação de substâncias interditas é tendenciosa. É verdade que actualmente não é permitido que um atleta consuma 19 norandroesterona, sinasterida ou finasterida, mas ninguém sabe o dia da amanhã. Atrevo-me até a calcular que grande parte dos leitores cozinhou hoje os seus ovos com bacon em óleo de finasterida. Da última vez que preparou um guisado de ervilhas não usou um caldo knorr de norandroesterona? Pois é: que atire a primeira pedra aquele que nunca pecou, como aconselha o manual da Intifada.
Um último ponto merece-me intensa revolta. Com uma sanha torcionária, o CNAD persegue aqueles de nós que perdem cabelos às mãos cheias. Eles dizem que é a verdade desportiva que os move, mas os leitores avisados sabem perfeitamente que o pretexto é outro. É dos carecas que eles não gostem… hruum… perdão… não gostam! Os rapazes fazem o seu tratamento capilar porque sabem perfeitamente que, na obscuridade do balneário, o careca é sempre aquele que se lixa. É o careca que carrega as bolas. É o careca que faz de pateta (vejam o Luisão). E é o careca que arca com as culpas (vejam o nosso injustiçado Vale).
Chamo a vossa atenção para o exemplo deste blogue. O Sancho foi punido por Deus, que só lhe conservou meia dúzia de cabelos ralos na moleirinha. Quando alguém nos penhora as mesas, é sobre o lombo dele que improvisamos uma mesa de reunião. Quando não encontramos o alvo, é ao nalguedo dele que fazemos pontaria com os dardos. Respeitá-lo-íamos mais se ele fosse guedelhudo? Provavelmente, nunca o saberemos. Mas uma coisa garanto: o mundo não precisa de mais brigadas fascistas, que aterrorizem os carecas e persigam os tomadores compulsivos de finasterida e sinasterida. Desta tribuna, lanço pois o meu apelo, trovejando como o João Malheiro: deixem jogar os droguinhas!

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Estragou-se um belo post...

Mentalmente, estava escrito. Ao contrário de trabalhos recentes, estava bem estruturado. Tinha princípio, meio e punch line. Estava bom, caramba, estava bom! E perdeu-se para sempre... Obrigadinho, ó Miccoli...

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Sem luvas…

Frontal como sempre, o Pitons D' Alumínio sintetizou tudo o que penso sobre o actual presidente do Sporting.
Escreveu-o melhor do que eu faria (o elogio dos elogios para um narcisista como eu)! Pergunto: onde anda a vaga de fundo que elegeu aquele cretino?

Ler aqui

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Tocqueville cruza para Pedro Mantorras

Neste blogue, asseguro-lhe, quase todos gostamos de mulheres. Por todos, entendam eu, o Sancho e a dona Helena, que atende os telefones e tem um fraquinho pelas antigas lançadoras de martelo da ex-RDA. A excepção é mesmo o senhor Carvalho, que fazia a assistência técnica do site e que também era condutor do funicular da Bica. Diz que o sobe e desce do engenho faz mal à cabeça da gente e, da última vez que o vimos, andava amantizado com um rapaz muito jeitoso de mãos, que é carpinteiro na Rua da Glória e seccionista do andebol do Benfica.
Desviamo-nos porém do tema do dia. Quando escrevemos há minutos o nosso livro de estilo, preocupámo-nos em sublinhar que não temos o mínimo gosto em ver mulheres tratadas como objecto nas capas de revistas masculinas. Aqui cultiva-se o espírito e não a carne. Aplaude-se a perseverança intelectual e não a frivolidade. Mil vezes uma Rosa Lobato Faria ou uma Agustina Bessa-Luís sobre uma qualquer Linda Evangelista, mais nua do que vestida. Enoja-nos a mulher tratada como objecto! Por nós, aliás, a “FHM”, a “GQ”, a “Maxmen” ou a revista de domingo de “O Jogo” só publicariam ensaios de grande fôlego. Teimosamente, estas publicações recusam dar a capa às feministas com conteúdo ou às sindicalistas com mensagem, gente de garra, como dizia o Fialho, sem medo de mostrar a fieira de dentes desalinhados e bordados de limugens perto da raiz ou os cabelos corredios chorando banha desde Março de 1975. Por isso, a contragosto, nós temos de escrutinar estes pasquins masculinos: afinal, como dizia Tocqueville, o preço da liberdade é a eterna vigilância. E nós fartamo-nos de vigiar.
É por isso natural que este blogue tenha escrutinado atentamente a eleição das 100 mais belas mulheres de futebolistas, promovida por uma revista de vão de escada que merece todo o nosso desprezo. Livrem-se aliás de seguir para aqui. E, sobretudo, Deus tenha piedade da vossa alma se, por qualquer motivo, esbarrarem na 40.ª classificada. É de longe a que tem menos qualificações literárias: dêem-lhe o”Eurico, o Presbítero” para a mão e verão o seu desconforto. Aquilo é moça que está cheia de bicho.
Para além do evidente nojo que este tipo de listas nos provoca, protestamos com veemência pelas omissões. Salta à vista que falta lá a mulher do César Peixoto, embora, em abono da verdade, o Vítor Baía nem sempre saia favorecido nas fotografias.
Outros queixam-se justamente da ausência da Isméria (ou Isménia?), responsável pela súbita ausência de golos de cabeça do Nuno Gomes.
Para nós, acreditem, há duas falhas bem mais graves. Falta esta. E sobretudo esta). Aguardamos rapidamente a correcção. A ver se a gente não se chateia.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Uma vénia, duas vénias, as vénias que ele quiser

Ainda há dúvidas de que ele é o melhor avançado do campeonato português dos últimos quatro anos?

domingo, fevereiro 11, 2007

São capazes de precisar...


... eliminados da Taça de Portugal por uma equipa da Liga de Honra...
... derrotados no campeonato nacional de juniores, em casa, mesmo com um chinês martelado...
... derrotados por um ponto no campeonato nacional de clubes de atletismo...

Se calhar, amigos, estão a precisar de uma almofadinha destas...

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Doce conventual

José Quitério é um dos ídolos do Mãos ao Ar. Se pontualmente este blogue resvala para a crítica gastronómica, a culpa é do brilhante cronista do “Expresso”, o homem que colocou o país a pensar nos itens alarvemente deglutidos e a usar expressões requintadas para descrever um bitoque com ovo a cavalo.
Não sabíamos, porém, que Quitério é adepto incondicional de futebol. Palavra puxa palavra e propusemos-lhe que assinasse a reportagem do último Portugal-Brasil. O contributo que se segue é um rigoroso exclusivo nacional, que se insere na nossa intenção de pontualmente abrir a antena aos vultos da nossa cultura. Um segundo, portanto… Rrrrghhhhnnn! Já está: a antena foi aberta.

«Dêem-se as voltas necessárias para captar o espírito (e a matéria) do subúrbio requintado de Ashburton Groves, onde o deslizar progressivo da arquitectura pontilhou casas iguais na forma e no conteúdo, entremeadas por estatuária de gosto fino, de cavalicoques, soldadecos e agora um novo estádio de futebol – o Emirates Stadium. Sala airosa e confortável, com capacidade para 60 mil mastigantes, mantém traços de alguma impessoalidade que só as entradas do edifício prandial, servidas numa das tábulas de serviço, permite dissipar.
Um grupo de comensais portugueses aproxima-se, faustoso, gerando garabulha e matinada que os mais distraídos tomariam por folia. Impondo os direitos indeclináveis do estômago, rompem a ordem da fila e fazem uso de galhetas bem servidas que aviam os epulários mais ousados que lhes saem ao caminho. Na ocasião, a galheta, seguida de valentes e decididos sopapos, resultou numa feliz e contrastante combinação.
Sentamo-nos no anfiteatro, desfrutando da alegre junção de um jogo de futebol com um invólucro de pipocas semi-aquecidas, por esquecimento deixadas por baixo do nosso escabelo e que sempre alegram a vista e refrescam o paladar. A combinação, à partida insólita, justifica um encómio: os ingredientes portaram-se galhardamente e a miscelânea não desagradou.
Do jogo, pouco há a dizer: cumpriu a função, mas não entusiasmou. Os brasileiros apegaram-se à bola como uma folha crocante de espinafres no céu da boca e foram os portugueses que logo atraíram um coro antifonário de ámenes e hossanas, evocação de velhas memórias, como uma célebre morcela de sangue que seguramente terei enfardado numa espelunca à beira da estrada e que provavelmente defini como um conjunto rico e jucundo, vítima do santo ofício dos grelhados.
Voltei posteriormente a observar os comensais que anteriormente distribuíam galhetas à entrada do espaço de repasto. Desta feita, estavam sendo valorosamente acomodados pelos cacetes de agentes da lei que, com obstinação, lhes redefiniam a posição de vários ossos no corpo. O recurso a exóticos gases pimenta deu à receita um notável travo cosmopolita, mostrando que os costumes da velha e quente Pérsia podem estar ao virar da esquina.
Em sua aparente simplicidade, os corpos espapaçados que da refrega resultaram traduziram-se num comovente quadro de acção policial, à medida que os bastões, quais paus de canela em doçaria conventual, continuavam incessantemente a fazer do nalguedo dos convivas um exótico almofariz.
A pasta resultante, malgrado alguma viscosidade e salpicos de vísceras, mostrou-se belíssima em textura, comparecendo em esplêndida aparência e justificando nova visita em momento de fastio.»

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Ó meu amigo, fecha a porta quando saíres, que o dia está frescote e diz que vai chover

"Se não conseguir baixar o passivo até Junho, vou-me embora" – Filipe Soares Franco, "Público", 8 de Fevereiro

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Apologia do botão dourado

Ninguém me tira da ideia que Jesualdo Ferrreira pode muito bem ser Mohammed Saeed al-Sahaf, o popular Ali, ministro da informação do Iraque, que tanto nos divertiu durante a ofensiva bélica de há três anos e estranhamente desaparecido desde a queda de Bagdade. Mesmo os mais cépticos concordarão que é suspeito que os dois nunca tenham sido fotografados juntos, um indício perturbador de que pode realmente tratar-se do mesmo indivíduo. A imprensa, claro!, cala a conspiração e nunca questiona Jesualdo sobre estas e outras questões, mas nota-se o incómodo evidente na expressão do treinador sempre que lhe falam de Ricardo Costa, Bruno Alves e outras atrocidades.
Vamos a factos e tiremos as ilações, como dizem os treinadores que acabaram de ser espezinhados. Tenho enorme respeito e admiração por Jesualdo Ferreira, um treinador com H grande, que nunca conseguiu ganhar em Alvalade. Acho que há exemplos da geração mais velha de técnicos que deveriam ser seguidos por todos: é com atitudes destas, aliás, que se constrói o tecido ganhador de um clube.
Por falar em tecido, conforta-me o facto de Jesualdo ser o último português que resiste à moda e ainda veste casacos com botões dourados, excluindo talvez os cobradores da Carris (STCP, se me estiver a ler no Porto). Um homem que leva para o banco de suplentes o seu casaco com botões dourados é um homem que tem toneladas de autoconfiança. É um homem que não tem medo de ser alvo da chacota de 30 mil pessoas. É um homem que pensa para os seus botões dourados: “Que me importa? Eu gosto do meu casaco de botões dourados”. Ou então, repito, é um homem que já foi cobrador da Carris e nunca perdeu de vista o sentido estético que um bom casaco de botões dourados proporciona.
Jesualdo ganhou a honra de ser qualificado como professor sempre que o evocam. Licenciado em futebol por uma das melhores escolas de correspondência de Bangalore, o professor transpira competência por todos os poros. E sabe muito de futebol. Raramente o mostra, mas vê-se a léguas que sabe.
Cavalheiresco, perde onde mais ninguém perde, desperdiça o talento do melhor plantel do futebol português e nunca fala de arbitragens mesmo quando é rapinado à vista de toda a gente. Jesualdo acreditará que as atitudes de forte simbolismo, como o fair-play e a isenção, lhe reservarão algo grandioso no futuro, como um título nacional, o respeito da imprensa ou um frango de fricassé. Eu acho bem! E serei o primeiro a confortá-lo quando os rockets dos Super Dragões assobiarem, insinuantes, em seu redor. Ah! Como eu gosto do cheiro do “Macaco” pela manhã!
Recuperando o tema de abertura, lembrei-me de Ali quando escutei Jesualdo avisar que as duas derrotas consecutivas do FC Porto não são, de todo, preocupantes. Nervosos estarão os dois rivais directos, agora que se encontram mais próximos do que nunca! Ali também dizia “Os americanos já estão no aeroporto? Ah ah ah! Deixem-me rir. Ainda agora de lá vim e só vi quatro ou cinco tanques!”
Daqui a 13 jornadas, imagino Jesualdo ultrapassado pela concorrência, mas transpirando confiança: “Eles foram campeões? Ah ah ah! Deixem-me rir. Os infiéis têm a língua mais bífida do que a da serpente. Não têm qualquer hipótese – repito, qualquer hipótese – de serem campeões. Que o meu casaco perca os botões dourados se a profecia se confirmar.”

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Dá-se recompensa

Odeio o Bueno. Sim, esse mesmo, o uruguaio Carlos Bueno. Logo agora, perguntam vocês, que marcou três golos e meio num só jogo? Pois é verdade. As razões de tamanha revolta são perfeitamente compreensíveis, conforme passo a explicar: estava eu descansadinho no meu lugar em Alvalade, já perfeitamente conformado com o resultado adverso, quando el loco resolve em pouco mais de 15 minutos começar a acertar na baliza do Nacional. A cada golo, dei pulos na bancada, comemorando-os efusivamente com os meus amigos e desconhecidos de sector. Sai de barriga cheia de Alvalade, ao ponto de ir beber uma cervejinha numa das roulottes das redondezas. Decidi, então, enviar umas mensagens provocatórias a alguns conhecidos meus (reparem bem que não disse amigos) que nutrem simpatia pelo SLB 1908. Vou ao bolso onde tinha o telemóvel e… nada. Tomado de pânico, apalpei e revolvi tudo o que era bolso e, do telemóvel, nada. Aliás, o bolso onde o tinha guardado encontrava-se estranhamente vazio. Num ápice, voltei ao estádio meia-hora depois. Galguei aquelas malfadadas escadas, subi ao meu lugar e, de coração nas mãos, comecei à procura naquela penumbra de estádio vazio. Olhei, olhei e… encontrei uma tampinha de plástico e uma bateria. Ambos os objectos sós e abandonados. Do resto do telemóvel, nada. Contactei os seguranças, fui aos perdidos e achados, liguei para a ETA, para a Máfia, para a Al-Qaeda, para a Carolina Salgado, para alguém, enfim, que me pudesse auxiliar nesta busca. Mas nada feito. Tenho de me conformar – lá fiquei sem o meu Sharp 903 com câmara de 3.2 megas à conta do Bueno.
Faço, por isso, um último apelo: se alguém encontrou um telemóvel Sharp 903 ou, distraidamente, o levou por engano, ofereço uma bela recompensa – uma nota de 50 mil kwachas da Zâmbia mais a doação de qualquer parte anatómica do Bulhão Pato ao Instituto Gulbenkian da Ciência para experiências genéticas. Aliás, neste desespero, até revelo a sua identidade secreta. Olhem que vale a pena.

domingo, fevereiro 04, 2007

Dos cães e candeeiros

Partilho, sobre alguns críticos de futebol, a mesma opinião que os cães deverão ter dos candeeiros: ocupam um espaço que tem de ser preenchido, levam-se razoavelmente a sério (há candeeiros que têm feitios muito levados da breca!) e têm pontualmente de ser regados com secreções ácidas para perderem as peneiras. (Em reflexão, a metáfora – que começou lindamente – começa aqui a perder brilho.)
Antonino Ribeiro, do Record, é um dos mais estranhos candeeiros da imprensa portuguesa. Na apreciação individual ao jogo de ontem, distribuiu 5 «notas 1», 4 «notas 2», 4 «notas 3» e 1 «nota 4» aos jogadores do Sporting. No total, atribuiu 29 pontos aos sportinguistas, o que perfaz uma média de 2,0 por jogador. Recordo que o Sporting ganhou por 5-1.
De Miguel Veloso (nota 1), escreveu que, a dado ponto, Tello foi «designado para colocar um ponto final nos disparates de Miguel Veloso». De Romagnoli (nota 2), só viu: «Passe para o segundo golo de Bueno e algumas contradições». De Carlos Bueno (nota 4), criticou: «Não fosse a mentira do primeiro [golo], em que se apoiou em Alonso, para alimentar o sonho dos leões, e a esta hora bem que poderia orgulhar-se de um dia ter garantido a nota 5 no Record”.
Infere-se destas linhas que a nota 5 do Record é um dos galardões mais preciosos do mundo – tão raro como a flor de edelweiss, que só resiste três escassos dias nas íngremes montanhas dos Alpes antes de definhar. Para o obter, imagino que o candidato terá de dedicar 25 anos de trabalho de campo junto dos gorilas do Ruanda (ou, em alternativa, concluir duas viagens de camioneta com os Super Dragões). Terá de inventar a cura para o ébola, o dengue ou o Luís Filipe Vieira. Terá de escrever poesia como Pessoa, teatro como Gil Vicente e romance como Marinho Neves.
Ou isso, ou o Antonino, ontem, estava bêbado.
É uma das duas.

A 20 minutos do fim, se me tivessem oferecido o empate, eu fecharia de imediato o negócio.
Mas Bueno resolveu! E, durante uns dias, a malta não vai dizer mal das contratações do Carlos Freitas.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

O Pegador de Toiros


A maior parte das pessoas não lê o jornal "Mirante", de Santarém. Com a devida vénia, recupero a entrevista de José Peseiro à edição desta semana. Entrevista completa (aqui). Estou sem palavras. Guardarei as minhas impressões para a caixa de comentários... depois da massagem cardíaca de reanimação.

José Peseiro em entrevista depois do regresso das Arábias
Um homem sem medos viciado em futebol

Na primeira entrevista de fundo após o regresso da Arábia, o treinador de futebol José Peseiro fala da experiência das arábias, da passagem pelo Sporting e revela que pelo menos nos próximos três anos não quer treinar em Portugal. Aborda as raízes ribatejanas, confessa o orgulho por ter o seu nome no estádio de Coruche e revela um pouco da sua faceta mais íntima. Diz-se viciado em futebol, admite alguma simpatia pelo Benfica, não gosta de falar de política e garante que não tem nenhum medo em especial.

Foi colega de curso de José Mourinho e teve a melhor nota da turma. Isso faz com que seja melhor que ele?
Essa história não é inteiramente verdade. É verdade que fui um dos melhores alunos do meu curso mas o Mourinho não estava no meu ano.

Mas sente de alguma forma o fantasma dessa comparação?
Tenho tido uma relação de amizade com o Mourinho, até porque frequentámos o mesmo curso e fomos mantendo contacto, mas nunca deixei transparecer que tinha de ter alguém como referência. Tenho a minha personalidade, a minha experiência pessoal e futebolística e é isso que me define. Não tem cabimento nenhum haver comparações dessas. Os media é que nos promovem como uma coisa deslumbrante que não somos e como umas coisas horríveis que também não somos. Mas como treinador de futebol temos de estar preparados para quando os miúdos nos mandam parar para pedir um autógrafo ou para mandarem pedras.

É verdade que quando estava de saída do Sporting o seu carro foi vandalizado?
Não. Foi mais um boato.

Numa entrevista a O MIRANTE em 2002 disse que nenhum treinador é um processo acabado. Mantém essa opinião?
Quando eu sentir que já não consigo evoluir na minha actividade tenho de escolher outra e desistir. Se não tiver motivação para ler, para aprender, ou para questionar os meus saberes e o que estou a fazer bem e mal é tempo de me ir embora. Há muita gente que já devia ter feito isso…

E o que lhe falta a si aprender?
Quando cheguei ao Sporting tive sempre um discurso um pouco diferente. Falar de futebol e das coisas boas e más da minha equipa. Entendo que só assim podemos evoluir. Infelizmente chego à conclusão que fiz mal, porque tudo o que dizia mal da minha equipa era usado como capa de jornal para pôr em causa a estabilidade da equipa. Infelizmente há muita gente que não consegue perceber que tratando o futebol como se trata está-se só a jogar no curto prazo e nunca se vai evoluir. Eu disse que vinha de Espanha e tinha uma cultura de espectáculo. Ninguém gostou e fui morto porque esta mensagem não passou. Esta imprensa que vive do espectáculo matou o gajo que queria espectáculo. Eu não sou daqueles que diz que o espectáculo é no cinema. O futebol é espectáculo e prefiro ganhar por 5-4 que por 1-0.

Essa má relação impede-o de voltar a ser treinador em Portugal?
Não. Eu penso que paguei um pouco por uma luta de poder no Sporting. Mas é uma evidência que as mesmas pessoas que estão no Sporting neste momento não me proporcionaram a tranquilidade que hoje proporcionam a quem lá está.

Como é que sobrevive no futebol sem empresário?
Eu não tenho empresário fixo mas tenho vários empresários que me contactam.

Agora quando saiu do Al-Hilal justificou a saída por “falta de condições” e para “não cometer o mesmo erro” que fez no Sporting, em que considera que devia ter saído mais cedo...
Exacto. Eu só comecei a segunda época porque apesar de ser benfiquista como as pessoas dizem…

E é ou não?
Eu posso ser o que for mas um profissional de futebol não se rege pelo clube que tem ou não. Eu nasci numa família de benfiquistas mas chega uma altura na profissão em que sou inócuo a isso. Não estou a dizer que não me dá satisfação ver o Benfica ganhar mas para mim não é isso que conta. O que eu fiz sempre foi colocar o Sporting à frente dos meus interesses. Sempre. E por isso no final da primeira época disse ao presidente Dias da Cunha que queria sair. Ele pediu-me para não sair e disse que as coisas iam mudar mas infelizmente não mudaram.

Era capaz de voltar ao Sporting?
É difícil. Não sei qual é o meu futuro e até estou muito contente por ter treinado o Sporting. Se não tivesse treinado o Sporting não tinha tido 18 convites para treinar quando saí. E continuo a ter. Agora tenho cinco mas se não tivesse treinado o Sporting não tinha nada disto.

Quando vai voltar ao activo?
Proximamente. Neste momento tenho um pré-acordo com uma equipa mas depende se aceita ou não as minhas condições. Porque eu fora da Europa só quero fazer um contrato de 5 meses. No final da época já tenho umas coisas alinhavadas para um campeonato europeu.

A passagem pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita, foi um desafio na carreira, uma oportunidade de ganhar bom dinheiro…
Foi por essas razões e porque precisava de sair de Portugal. Não é que não goste do país, pelo contrário, mas entendi que era melhor sair.

Em Portugal, nesta altura, não lhe servem todos os clubes?
Tenho respeito por todos os clubes, não quer dizer que não os treine, mas neste momento o meu objectivo é estar pelo menos três anos fora do país.

Porque é que se veio embora, estando na frente do campeonato?
Dois meses depois de chegar ao Al-Hilal tive um convite para o Panathinaikos, que até pagava a indemnização, mas não me deixaram sair. Na altura disse-lhes que não saía mas que tínhamos de mudar várias coisas. Depois tive outro convite de Portugal e também não aceitaram. Voltei a falar com eles e a dizer que não estava contente e sentia que não íamos a lado nenhum porque não havia condições. Disseram-me que ia mudar mas no último jogo que fizemos perdemos o segundo jogo em vinte jogos porque quatro jogadores foram dispensados para ir para a reza para Meca. Foram dispensados outros dois, um para ir cuidar da mãe, outro do sobrinho. Eu não concordei e no dia seguinte disse que não valia a pena continuar.

Foi quase campeão nacional, esteve quase a vencer a Taça Uefa, foi elogiado por todos, mas numa semana perdeu com o Benfica e perdeu a Taça Uefa e todos lhe apontaram o dedo. Como viveu essa semana em que passou de bestial a besta?
Esse ambiente que eu tive sempre e que nunca me foi favorável, nunca me proporcionou que eu me sentisse bestial e isso foi bom. Fui sempre uma besta no Sporting. Entre ganhar e perder era sempre uma besta. Nunca tive uma tarja de apoio nas claques. Só tinha Peseiro c….. pede a demissão ou uma coisa dessas.

Mas como é que geria as suas emoções num cenário desses? Sentia-se injustiçado?
Tinha de aceitar. É o mundo em que a gente vive e não se consegue mudar. Na altura o Peseiro era culpado de tudo, nesta altura são os jogadores culpados de tudo. Mas eu ser visto como culpado até era bom porque isso libertava os jogadores da pressão. Eu dizia que a minha equipa era a melhor e fui criticado por dezenas de energúmenos que nem percebem que um treinador se não tem dinheiro para fazer uma grande equipa – e o Sporting não tinha – tem de motivar os que tem. E para quem tem dúvidas eu pergunto onde é que está o Douala, o Paíto, o Sá Pinto, o Pinilha, o Niculae, que eram titulares na altura? Alguns até têm dificuldade para arranjar clube, sinal que não eram assim tão bons como isso.

Teve divergências com alguns jogadores. Há quem diga que lidar com os atletas é a sua maior lacuna como treinador. Concorda com essas críticas?
Em 14 anos de treinador, com quatro subidas ou cinco nunca tive esse ónus da questão. Isso foi maquiavelicamente preparado por pessoas que queriam que perdêssemos. Havia pessoas que queriam que o Dias da Cunha saísse do Sporting – e eu já apontei os nomes – que no dia a dia a única coisa que faziam era desautorizar a minha liderança.

Como reage a sua família a esta vida de viajante?
A primeira coisa que um treinador tem de fazer é preparar a família para isso. Fazer-lhes ver que nem somos astros quando ganhamos nem umas bestas quando perdemos. Agora na Arábia a minha mulher acompanhou-me, os meus dois filhos não.

Como é que eles vivem os seus momentos bons e maus?
O primeiro problema quando a gente perde não é satisfazer os sócios é dar um conforto aos filhos porque não percebem quando o pai perde e é “chingado”. Quando se vê uma filha chorar porque quando ganhava eram os do Benfica que chateavam, quando perdia eram os do Sporting, não é fácil. O que temos de fazer é que eles nos vejam como pessoas normais.

PERFIL
Um ex-candidato a autarca que não gosta de falar de política
A pontualidade parece ser um valor caro a José Peseiro. Antes da hora marcada já o técnico de futebol estava no café Académico, paredes meias com o prédio onde reside no bairro do Sacapeito, em Santarém. O casaco de pele, a camisola preta, e as calças de ganga conferem-lhe um ar informal, que combina com o gel no cabelo. O cachecol ao pescoço combina com o frio que assola a cidade e o país. Pessoa reservada, só se empolga verdadeiramente quando se fala de futebol e, sobretudo, de alguns momentos da sua carreira. Como a sua polémica passagem pelo Sporting, onde dividiu opiniões entre os adeptos leoninos que ainda hoje lhe elogiam o futebol praticado e os que não se esquecem do amargo de boca de nada se ter ganho nessa época.
Já quanto à política e à sua simpatia clubística é mais reservado. Chega mesmo a irritar-se moderadamente perante a nossa insistência sobre se é ou não militante do PCP. Não responde, embora confirme que foi candidato pela CDU em Coruche em eleições autárquicas há muitos anos. “Mas em lugares não elegíveis”. Confessa também que nunca leu “O Capital”, uma espécie de bíblia dos comunistas escrita por Karl Marx. Quanto à simpatia pelo Benfica, comum à sua família, muito a custo lá conseguimos arrancar a confissão: “Não digo que não me dá alguma satisfação o Benfica ganhar”.
Tem quase 47 anos, é mais velho que o seu colega de faculdade José Mourinho, por exemplo, mas não parece. É casado e tem um casal de filhos. Ambos estudam. O filho já se emancipou. José Peseiro descende de uma família de comerciantes. O pai, na sua infância, tinha uma loja. Hoje a família tem um restaurante afamado pelas bandas do Sorraia e não só. Mas o técnico não se mete em grandes cozinhados. Embora desenrasque uns bifes com batas fritas ou uns ovos estrelados se for necessário. Das lides domésticas é que não gosta muito, reconhecendo que a sua ajuda à esposa fica aquém do recomendável.
Foi um puto reguila que gostava de jogar à bola. Mas foi também bom aluno. Licenciou-se pelo Instituto Superior de Educação Física (ISEF), em Lisboa, transformado entretanto em Faculdade de Motricidade Humana. Dali saiu uma fornada de treinadores, o mais emblemático dos quais é José Mourinho. Fez também um mestrado. Viciado confesso em futebol, José Peseiro diz não ter outros vícios ou medos que mereçam menção. Gosta de ver os jogos ao detalhe, mas sem som. Não acompanha a visão com música clássica, como fazia o seu colega Artur Jorge, embora aprecie esse tipo de música.
Tal como também gosta de um bom livro ou de um bom filme. “A Testemunha”, um filme com Harrison Ford da década de 80, é um dos filmes da sua vida. Gosta de tramas bem construídas e onde se possa aprender algo sobre outras civilizações ou comunidades.

(cortesia MSI)

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

A Farsa

Há dois meses, anunciámos com regozijo, baseados na investigação cuidadosa do “24 Horas”, que Luisão se preparava para trocar votos de casamento com a Miss Agro-Pecuária de Minas Gerais. Partilhámos com o defesa brasileiro a alegria do momento, porque, no desporto, não há inimigos. Só adversários de ocasião. Mas nada nos preparou para a nuvem que dois leitores do Mãos ao Ar lançaram sobre o feliz casal de nubentes (aqui).
Dizem os leitores que houve burla, e da grossa, na eleição da Miss Agro-Pecuária de Minas Gerais. Estes concursos, já se sabe, estão minados pelo compadrio e pelos fortes «lobbies» que, muitas vezes, elegem raparigas totalmente desconhecedores dos sistemas de electrocoagulação para tratamento e depuração de efluentes. Mas eu, na minha ingenuidade, nunca esperei que a trapaça fosse tão longe. Brenda burlou-nos. Afinal, ela mentiu-nos quando nos disse, olhos nos olhos, que o sucesso para o bom desmame de um leitão está directamente relacionado com o quanto progressivo o conseguimos tornar. No discurso de aceitação, proclamou, alto e bom som para quem a quis ouvir, que se desperdiça demasiada ração na recria porque é nessa fase que estão os problemas mais críticos, se considerarmos que 70% da ração consumida numa suinicultura estará neste sector.
As mentiras! As falsas promessas! Levou-nos bem, a moça!
Dizem ainda os leitores que ela é horrorosa. Que usa aplique nos cabelos porque o cabelo que ela mostrou na eleição para Miss Agro-Pecuária de Minas Gerais, afinal, não era dela. Mais: que ela é igual a uma vara de pau e que a mãe, sim, “é perfeita. Ela parece um traveco”.
Tenho pelo Luisão uma amizade forte. Quando ele chegou e os adeptos o castigaram, lembrando que aqueles centímetros todos serviam apenas para mudar lâmpadas sem recorrer a um escadote, fui dos poucos que saí em sua defesa. Lembrei que, numa equipa de futebol, não bastam os craques. É fundamental ter também um trauliteiro lá atrás, capaz de perder bolas altas para avançados vinte centímetros mais baixos. Forjámos então – eu e o Luisão – uma amizade duradoura. E é por isso que eu não vou deixar que ele caia na esparrela tecida por esta pseudo-especialista.
Luisão, amigo bom. A rapariga que te preparas para meter no leito não é a especialista em brucelose por que suspiravas. Suspeito mesmo que, se lhe perguntares, ela é capaz de responder que o Bruce Lose era um actor muito conhecido de filmes de artes marciais. Mas, em retrospectiva, com a perspicácia que te caracteriza, é bem possível que já tenhas dado pela marosca.
Se calhar, amigo, foi por isso que começaste a beber.