Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

sexta-feira, junho 30, 2006

Humor Irresponsável

Como promotores de um blogue que é fonte de informação credível para milhões de pessoas, temos uma responsabilidade. Sabemos bem que você não sai de casa sem catrapiscar o Mãos ao Ar e dele beber avidamente o conteúdo diário. Gostamos sinceramente de pensar que somos importantes, e esse estatuto tem sido fundamental para a manutenção da nossa inviolabilidade [no sentido restrito do termo] aqui, na ala dos loucos furiosos, do Hospital Miguel Bombarda.
Ora, nestas semanas de Campeonato do Mundo, poucos temas ousaram furar a barreira do futebol e penetrar na agenda dos media. Até os pirómanos estão quietos e entretidos com a bola, deixando para Julho os incêndios que poderiam estar já a atear. Que me lembre, e com excepção para o já célebre boné da sorte do professor Marcelo (que diz tanto, tanto!, sobre a personagem), só me ocorre o caso do serial killer de Santa Comba Dão.
Uma das coisas lamentáveis nos serial killers é a sua falta de humildade. Aquilo é gente que continua, e continua, sempre à procura de um acto criativo mais perfeito, mais absoluto. Talvez o serial killer de Santa Comba Dão não tenha resolvido satisfatoriamente, como Gilles Deleuze e Manuel Maria Carrilho, o paradoxo kantiano do Eu e dos outros Eus, abafados e confusos, até ao ponto em que o sujeito reconhece que a sua verdadeira natureza é incompreensível para os sentidos. Todavia, e que se saiba!, Deleuze e Carrilho não saíram à rua para matar os vizinhos numa fúria incontrolável, enquanto o serial killer de Santa Comba Dão cedeu aos desejos mais mundanos. Parecendo que não, faz diferença. Sobretudo se o leitor viver em Santa Comba Dão.
Nada disto é muito relevante para um blog sobre futebol, modalidade onde, reconheço, os serial killers não abundam [descontando o Fernando Seara, mil vezes culpado de atentados contra o bom senso, a decência e a gramática]. O Jornal de Notícias, porém, escavou mais fundo do que os outros e revelou um traço decisivo da personalidade do ex-cabo da GNR de Santa Comba Dão.
É verdade. Este sexagenário, pacato vereador da junta de freguesia local [pelo PSD, eh eh eh!] e animador de bailaricos e festas regionais, era o grande dinamizador da Casa do Benfica de Santa Comba Dão. Bem sei que isso não quererá dizer que todos os associados da Casa serão serial killers. Não me custa a admitir que alguns, poucos, não o serão. Mas penitencio-me respeitosamente perante o Benfica e os benfiquistas, mesmo dispensando o cilício: quando Luís Filipe Vieira dizia que os benfiquistas são realmente os adeptos que saboreiam a vida até à medula, eu nunca acreditei que ele estava a falar a sério.

quinta-feira, junho 29, 2006

Fervor patriótico

Com a devida vénia ao Zé Bitaite:
(clicar na imagem).

quarta-feira, junho 28, 2006

Carta Aberta ao Toni

Meu caro. Bem sei que o Churchill dizia que todos temos o direito de pronunciar nomes estrangeiros como entendermos. Bem sei também que o ANDREA PIRLO está mesmo a pedir que passes o jogo inteiro a chamar-lhe PILRO, tanto mais que o palerma da SportTv que te acompanha repete a proeza com volúpia.
Já me parece um bocadinho de mais que confundas o ALBERTO GILARDINO. Até é refrescante quando escuto o nome dele lido na mais portuguesa das acentuações: Gilardino lido como Monjardino. Ou cabotino. Afinal de contas, se a palavra é grave em português, quem é que os italianos julgam que são para a transformarem em esdrúxula? Tu não tens culpa: se te dissessem que se trata de uma proparoxítona e não de uma paroxítona, tu, bonacheirão, julgarias que falavam de comprimidos.
Já me parece mais arrojado que passes todo o Itália-Austrália a tratar o homem por GIRALDINO. Santo Deus do céu! GIRALDINO? Como o da Praça em Évora?

terça-feira, junho 27, 2006

Aliança Luso-Britânica

Aproxima-se o ansiado duelo dos quartos-de-final entre Portugal e a Inglaterra. Depois do passeio na fase de qualificação e depois da tranquilidade da primeira fase, só após a batalha de Nuremberga se ficou a conhecer as potencialidades do seleccionado luso. Mais do que ter ganho uma equipa – esse espírito já havia transparecido na união familiar promovida por Scolari desde o Euro’2004 – ganhou-se a confiança de um povo. Mas vai ser o confronto com os ingleses que vai dizer o que esta equipa é capaz: ou fica por aqui e fica-se com a noção do dever cumprido, ou passa às meias-finais e abre perspectivas que poucos se atreveriam a sonhar.
Nos últimos tempos, os ingleses têm sido uns gajos porreiros. No último Europeu não perderam, é verdade, mas também não ganharam – foram eliminados nos penalties em que o mais improvável jogador se tornou duplo herói: Ricardo. Antes, no Euro’2000, deixámo-los acreditar que seria fácil: demos dois de avanço para de repente, numa penada épica, enfiarmos três na baliza de David Seaman – Figo, João Pinto e Nuno Gomes selaram a reviravolta. Depois, é preciso recuar no tempo, até ao Mundial do México’86: ficámos num grupo com ingleses, polacos e marroquinos. Fizemos o mais difícil ganhando aos ingleses, mas, depois, após a eclosão do caso-Saltillo, afundámo-nos com a Polónia de Lato e Mlynarzik e com Marrocos de Bouderbala e uns quantos pernetas e pastores nómadas do Alto Atlas. Perante estes indicadores, “já” estamos nas meias-finais face ao Gana ou França (ou até, mais improvavelmente, Espanha ou Brasil).Posso garantir, aliás, que está tudo combinado e que vamos mesmo ganhar.
Tudo começou em 1373, quando se assinou um tratado entre Portugal e Inglaterra, a mais antiga aliança da Europa. Inicialmente, parecia um acordo comercial, que metia a lã inglesa e os vinhos portugueses. Os tintos lusitanos tiveram tanto êxito (quem diria que, volvidos tantos séculos, seria substituído pela cerveja nas preferências britânicas...) que, ainda sob o efeito dos vapores etílicos, os ingleses vieram ajudar-nos na batalha de Aljubarrota. Mandaram uns quantos condenados à morte e presidiários com prisão perpétua e disseram-lhes “Vão lá a Portugal ajudá-los contra os castelhanos. Mesmo com vocês, a desproporção é de quatro para um". Consta que os ingleses recusaram, que preferiam morrer ou ficar prisioneiros para sempre do que vir aturar as nossas guerrinhas, mas lá os convenceram que Aljubarrota era mesmo ao lado da Praia da Rocha e eles vieram. Não eram precisos, bastava uma simples padeira para despachar os castelhanos, mas viemos a sofrer as consequências: D. João I teve mesmo de casar com a horripilante Filipa de Lencastre, que o rei inglês não conseguia impingir a mais ninguém – nem mesmo aos príncipes do Togo. Depois, foi só renovar o tratado, desde o de Metween, em que o vinho do Porto (mais uma vez o vinho) tinha preferência no marcado britânico, até que os ingleses se chatearam e nos forçaram a assinar o mapa cor-de-rosa. Uma cor que lança suspeitas sobre a masculinidade dos súbditos de sua majestade: primeiro, a cor deste mapa, depois, o símbolo que aqueles sujeitos boçais e brutamontes do râguebi usam ao peito: uma rosa, ai.
Por questões históricas, os ingleses estão, portanto, obrigados a ajudarem-nos. Eriksson e Scolari são os D. João I e as D. Filipa de Lencastre dos tempos modernos. Eriksson, claro, faz de Filipa, Scolari, obviamente, vai fazer de Felipão.

segunda-feira, junho 26, 2006

Ponderação

... valha-nos a sobriedade de Maniche que, pressionado, lá confessou que foi um "só um golo, que valeu três pontos".
Ah homem!

quinta-feira, junho 22, 2006

Xaropada LIVE

Gosto muito do Carlos Daniel, da RTP. Parece-me extremamente louvável que ele tenha estômago para ouvir na mesma noite, sem se rir, as apreciações tácticas de um Luís Freitas Lobo ou os comentários de uma Cinha Jardim, normalmente encadeados, para criar ritmo. Acho impagável o esgar que ele faz sempre que o Luís Freitas Lobo diz que o Arnaldinho, do Togo, é um jogador fantástico.
Há quem diga que três horas de debate televisivo sobre o Mundial são algo exageradas, sobretudo quando a estação pública só dispõe de autorização para difundir resumos de três minutos. Oiço dizer também com frequência que o programa da RTP sobre o Mundial não tem aquela qualidade que nos prende ao sofá. Eu acho que tem! Confesso que não sou especialista em futebol. Mas a equipa da RTP demonstrou-me, sem espaço para dúvidas, que os há em Portugal. E bons!
È certo que, por vezes, me ocorre que, dentro da cabeça de alguns daqueles comentadores, existe, de facto, um cérebro. Um cérebro com terríveis danos na zona que controla a fluência do discurso [no caso do Lobo] ou a postura bípede [no caso da Cinha], mas um cérebro, caramba!
Também gosto dos directos. Normalmente são nocturnos, como as composições de Chopin. E igualmente depressivos. São invariavelmente apresentados por um comentador que enverga um colete. Após várias horas de observação, creio que identifiquei o sistema de hierarquização dos repórteres da RTP: quanto mais bolsos o colete tiver, mais veterano é o jornalista. Só não dá para perceber os galões do Alexandre Albuquerque, porque ele faz batota: a careca luzidia ocupa três quartos do ecrã e não temos oportunidade de contar os bolsos, Pela tarimba, porém, vê-se que é experiente.
Se me é permitido ousar, gostaria que, um dia, o grupo debatesse, com profundidade, uma questão que me atormenta: por que diabo, em 32 selecções presentes no Mundial, só há um treinador negro? Atrevo-me a antecipar a resposta da Cinha:
- Não há treinadores negros? Será que eles pensam que são bons de mais para o cargo?

terça-feira, junho 20, 2006

Tiroleses em Suspensórios

Hordas de comentadores credenciados (e, para além desses, o José Peseiro) interrogam-se sobre os motivos para as habituais quebras de rendimento da Espanha nas grandes provas de selecção.
Creio que guardo a solução. Estou convencido há muito tempo de que o problema da selecção espanhola é exclusivamente musical. Alguns leitores dirão que a opinião é bastante idiota, mas eu não aprecio particularmente esses leitores.
Somemos dois e dois. Não falta talento à selecção. Tem garra para dar e vender. Dispõe de um maestro no banco de suplentes e de um goleador no eixo do ataque. O problema, repito, é musical: falta-lhe um hino de guerra.
Os alemães começam cada jogo depois de urrarem que a Alemanha está acima de todos, particularmente da Polónia. Os ingleses prestam vassalagem à rainha e animam-se com isso (ele há gente para tudo!). Os franceses gabam-se de pisar rios de sangue vertido pelos inimigos, como se nós não soubessemos que a França perde todas as guerras em que se envolve, incluindo aquelas em que, não querendo envolver-se, apanhou na mesma. E os portugueses inspiram-se com a excentricidade de marchar destemidamente contra canhões imaginários (livra!).
Ora, o hino espanhol não tem letra. Enquanto o mundo futebolístico grita palavras de ordem e exulta com a descrição das suas virtudes, os jogadores espanhóis inspiram-se cantarolando... Lá lá lá lá, pum pum pum (procurar aqui).
O hino espanhol está para os hinos civilizados como os cantares tiroleses estão para as marchas militares. De certa forma, os espanhóis apresentam-se como tiroleses, de calções justos e suspensórios, no dia da batalha. E naturalmente levam forte e feio na corneta.

segunda-feira, junho 19, 2006

O Legado de Lazaroni

Tenho, com a selecção brasileira, um problema de afecto mal resolvido. Exijo-lhe mais do que às outras: comovo-me quando a vejo em pleno, respeitando o legado de Pelé, Rivelino ou Sócrates, mesmo que perca; não a poupo quando a vejo jogar para o 1-0, feia, atlética, igual às outras, mesmo que ganhe.
Qualquer selecção brasileira num Campeonato do Mundo oscila, para mim, entre dois pólos: de um lado, está a perfeição, o respeito por um estilo único, feito de passes curtos, drible fácil e qualidade técnica acima da média de TODOS os jogadores. Esse é o pólo a que chamo Telé Santana, em homenagem ao seleccionador de 1982, que transformou os jogos da «canarinha» nos recitais mais brilhantes que vi num Mundial.
Ao pólo oposto chamo-lhe Sebastião Lazaroni, por castigo ao seleccionador de 1990, que traiu o estilo e a história do futebol brasileiro, que italianizou a selecção brasileira e que lhe incutiu músculo em vez de arte.
Numa análise muito pessoal, diria que a selecção de 1986 esteve perto do pólo Telé, ao passo que a equipa de 1994, mesmo campeã, foi dolorosamente parecida com a de 1990. As representações de 1998 e 2002 foram casos híbridos: a espaços, interessantes, na maior parte das vezes geraram bocejos incontroláveis.
As equipas de Parreira [1994] e de Scolari [2002] foram campeãs, argumentará o leitor mais prático. Pois que lhe façam bom proveito. Aqui fala-se de estética. De Arte. De triar aqueles que justamente celebram a pureza do jogo dos outros, os que o tornam cerebral – triste eufemismo, este! – e maçador.
Depois dos jogos do Brasil com a Croácia e a Austrália neste Mundial, tento encaixar a actual equipa de Parreira sem injustiças e sem julgamentos precipitados. Mesmo com essas cautelas, a selecção brasileira parece-me perigosamente perto dos índices de 1990. É lenta. Terrivelmente lenta.
Está envelhecida e tresanda a naftalina, gasta como um vestido carcomido pela traça.
Defende mal.
Joga com sobranceira, certa de que a sorte lhe deve o resultado e, mais cedo ou mais tarde, a favorecerá.
Até pode passar dos oitavos-de-final. Até pode chegar às meias-finais. Até pode ser finalista. Até pode levantar o caneco! Tenham paciência, mas NÃO CHEGA! Aos guardiões da genialidade do jogo, pede-se sempre mais. A imortalidade conquista-se no coração dos adeptos – não é decretada pela FIFA, nem é garantida automaticamente quando se ganha um troféu.
Talvez seja por isso que, ainda hoje, recito de cor o onze de 1982 * e tenho sérias dificuldades em lembrar-me de mais do que dois jogadores de 1994 [Bebeto e Romário].

* Valdir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho, Júnior; Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico; Serginho e Éder

quarta-feira, junho 14, 2006

E se Fosses Bardamerda, Zé Pacheco?

Num mundo perfeito, José Pacheco Pereira teria um púlpito em vez de um blogue.
Num mundo perfeito, as pessoas beberiam cada palavra do profeta com avidez em vez de se rebolarem no chão, em fartas gargalhadas, com a imbecilidade do personagem.
Num mundo perfeito, só existiria o Zé Pacheco Pereira, as 14 pessoas que lêem o Y à sexta-feira e a orquestra sinfónica de São Petersburgo.
Num mundo perfeito, o corrector automático do computador de José Pacheco Pereira funcionaria sem erros ou, em alternativa, José Pacheco Pereira voltaria à escola.
José Pacheco Pereira está, porém, fadado a viver num mundo imperfeito. Um mundo onde duas resmas de citações em inglês o tornam erudito. Um mundo onde os advérbios de modo ganham subitamente (ou súbitamente) acentos agudos. Um mundo onde ele pressente, horrorizado, uma semana de feriados e pontes aproveitada pela classe média-baixa para ir a banhos.
Diz o Zé Pacheco que os blogues pararam esta semana de produzir e comentar conteúdos precisamente porque a classe média-baixa, que os alimenta, foi a banhos. Felizmente, ficou ele para manter guarda ao castelo. Ficou ele para vigiar impiedosamente usos e abusos. Ficou ele para lembrar à populaça que, não sendo da classe média-baixa, resistiu e ficou em casa. Orgulhosamente (ou orgulhósamente) só, presume-se. Só ele, o Abrupto e as previsões da metereologia (Sic) que, de tão chocadas, perderam o arreliador “o”.

segunda-feira, junho 12, 2006

Do Hélio com Carinho...

«...ocorrido após a final do Torneio da Amadora, disputado entre as equipas infantis do Sporting e do Atlético de Madrid, em que a equipa espanhola venceu por 2-1 (...). Quando o jogo terminou, o delegado do Sporting dirigiu-se educadamente ao árbitro Hélio Santos, chamando a sua atenção para o facto de o primeiro golo da equipa espanhola ter sido marcado num lance iniciado depois de a bola ter estado fora do recinto de jogo, o que, aliás, foi confirmado pelo árbitro assistente.
A resposta desabrida de Hélio Santos foi exemplar: "Vão para o c... Vocês são gente que não interessa a ninguém!»
In jornal "Sporting", 6 de Junho de 2006, página 7

quinta-feira, junho 08, 2006

Consultório jurídico

A maioria dos leitores não desconfia, mas eu não sou especialista em direito desportivo. É certo que o meu domínio da jurizpr… juizprud… juriprus… enfim, dos precedentes jurídicos, é avassalador, mas, ao pé dos especialistas, eu vergo-me com resignação.
Entre os especialistas, há um mais especializado do que os outros. Falo, claro, de Rui Santos, um homem que sabe um grande número de coisas. Na maior parte das vezes, não as diz. Mas vê-se que as sabe.
Ora, na modéstia que a minha bagagem jurídica permite, eu gostaria de contrapor a tese de Rui Santos, segundo a qual a recente despromoção do Gil Vicente e consequente ressuscitação do Belenenses não faz sentido. Em linguagem jurídica, como nós gostamos de dizer, a posição de Rui Santos é uma barbaridade [peço desculpa se vos estiver a perder com o jargão jurídico. Tentarei não abusar]
Facto 1: Ninguém gosta do Gil. O Sporting faz quase sempre asneira em Barcelos, e o Benfica costuma passar imaculado por lá. Gente desta não interessa a ninguém.
Facto 2: Quem apresentou aquele pardieiro, que era o Campo Adelino Ribeiro Novo, como recinto deveria penar 20 anos nas divisões secundárias. Uma vez, vi lá um jogo e ia levando com o Balakov em cima. Ele fez um carrinho junto à linha (que, por coincidência, estava pintada por baixo do muro onde começavam as bancadas) e, quando demos por nós, já ele estava sentado ao meu lado. O Balakov era um grande jogador, e eu gostava muito do Balakov, mas deixar que ele aterrasse em cima do meu perónio não era a minha ideia de uma tarde bem passada.
Facto 3: O presidente do Gil tem muito pior aspecto do que o do Belenenses. E é mais básico. Escutei-o na TSF, argumentando que “acredito que se tratem de manobras. Há alguém interessado em prejudicar o Gil Vicente”. Caramba! É evidente que há algém interessado em prejudicar o Gil Vicente! Pode acreditar à vontade que o Belenenses quer prejudicar o Gil Vicente. António Fiúza, o presidente em causa, é, como nós, os juristas, gostamos de dizer um “anjinho”. E um puro de espírito. A história do mundo revela que, no final, os anjinhos puros de espírito são sempre aniquilados pelos fortes e brutos.
Facto 4: Se a decisão for validada, isso quer dizer que, por uma vez, a “A Bola” acertou uma manchete e isso enche-me de regozijo. Afinal, sempre é verdadeira a maxima que indica que, mesmo o mais inveterado dos cábulas, pode ter um dia de glória.

Acreditam os gilistas que o Conselho de Justiça da FPF vai ouvir a razão, que é como quem diz, lhes vai dar razão. Se me permitem um argumento jurídico, sempre achei o conselho jurídico da FPF muito parecido com aqueles macacos animados que víamos em Badajoz e que diziam: «Hola! Yo soy un mono. Dame dinero para hacermos amistad!»
O Conselho de Justiça da FPF não se preocupa com coisas tão prosaicas como ouvir a razão. Pouco lhe importa a jurizpr… a juizprud… a juriprus…, arre!, os casos anteriores. Dêem-lhes a moeda certa e vão ver que a balança da Justiça tombará apropriadamente para o lado indicado. Não é a atitude mais nobre, não senhor. Mas já lá dizia a minha avô: antes rico e aldrabão que honrado e suicida. Afinal, ninguém gosta dos pobrezinhos.

terça-feira, junho 06, 2006

Tenham lá paciência...

... mas a gente emociona-se com facilidade. Ele é o Sá que se vai embora. Ele é o Carlos Freitas que não vai . Ele é o Vitorino Bastos que morre sem esperar para ver alguns dos seus meninos no Mundial.
E depois é isto.
Um grande vídeo APESAR DO MIGUEL ÂNGELO. E olhem que as violinistas não são nada horríveis.

segunda-feira, junho 05, 2006

Stand-Up Comedy

Reconheço que é fácil fazerem-me soltar gargalhadas. Dêem-me um bom Badaró e rio a bandeiras despregadas. Uma performance de Marina Mota provoca-me risadas incontroláveis. Uma exibição dos Malucos do Riso, então, leva-me às lágrimas. Literalmente.
Porém, no panorama de humoristas portugueses no activo [o que exclui de imediato o Herman, morto e enterrado há mais de dez anos, embora ninguém ainda lho tenha dito], não há profissional do riso mais capaz do que o dirigente de futebol. Ora atentem neste:
Há semanas, o Sindicato dos Jogadores denunciou os clubes com meses de salários em atraso. Como sempre, o Estrela da Amadora liderava, folgado, o ranking. Aliás, esse é apartado que o clube da Reboleira domina com vantagem. Enquanto os restantes clubes medem o sucesso de uma época em golos, defesas, remates e pontapés de canto, o Estrela mede-a em penhoras, défices e buscas da Polícia Judiciária. Esta época foi aliás muito positiva: a PJ só foi à Reboleira duas vezes.
No Record de quinta-feira, 11 de Maio, um humorista com muita graça – que acumula o cargo com as funções de presidente do clube – queixou-se do comunicado do sindicato.
Vociferava então o senhor António Oliveira [não confundir com o outro] que alguns «atletas estavam em dia!»
O reporter lá lhe lembrou que o comunicado falava em três meses de atraso. Impávido, sem se rir, António Oliveira retorquiu: «Isso não corresponde à verdade. Temos salários em atraso, como temos tido sempre, mas na casa dos dois meses!»
Assim, sim, caramba! Vamos lá pôr os pontos nos ii ou qualquer dia estão a dizer que somos caloteiros.
António Oliveira tinha naturalmente explicações para o défice de tesouraria. Como não quero estragar o efeito da piada aos leitores, reproduzo fielmente a anedota: «O E. Amadora não teve um tostão para gerir durante a época. Todo o dinheiro foi penhorado pela administração fiscal, fomos o único clube que não recebeu o dinheiro da publicidade, das receitas, da televisão e dos patrocínios.» Em anedota que se preze, há sempre uma punch line. Cá vai ele: «Se tivéssemos esse dinheiro estava tudo em dia.»
NATURALMENTE. A administração fiscal tem a mania de penhorar abusivamente as receitas do Estrela, ano sim ano não. A mania desta gente que só está bem a estragar a vida dos outros. Assim, realmente, não dá!

sábado, junho 03, 2006

Explosão Gaúcha

«Claro, há quem o critique [Scolari].
- Uns quatro ou cinco intelectuais - rosnou. Aqui, quando eu falo em bandeira, em pátria, em nacionalismo, é porque sou pregador. Na verdade, é preconceito contra brasileiro mesmo. Ele têm bronca, raiva e inveja dos brasileiros.
Felipão tem de cabeça a curta lista de desafetos:
- Um diz que é cineasta. O outro, o pai dele foi um grande escritor. O pai, né, porque ele é uma bosta. Um terceiro ganhou uma herança do tio e ficou rico. E tem uma mulher famosa aqui, que diz que é a Marília Gabriela de Portugal. Só. Não entendem nada.»

Luiz Felipe Scolari, em entrevista ao jornal brasileiro "Zero Hora". Entrevista na íntegra aqui.

Não sou particularmente fã de Scolari, mas ainda me ri com a descrição dos intelectuais. Só um reparo: foi a mãe do intelectual que se tornou uma grande escritora. O pai não! Mas o filho, reconheço, é uma bosta! As verdades têm de ser ditas.

quinta-feira, junho 01, 2006

Réplicas

O Sporting inaugurou pomposamente, na Academia Puma de Alcochete, um polidesportivo destinado à prática do basquetebol. Trocando por miúdos, como diria um casapiano, o clube limitou-se a cimentar meio hectare de um terreno baldio, pintalgou meia dúzia de linhas de marcação e delimitou-o com duas tabelas. Chamou-lhe polidesportivo do basquetebol como quem chama Museu Nacional de História Natural ao depósito de quarto fósseis e um painel explicativo da Rua da Escola Politécnica. São exageros tontos, mas percebem-se: são vaidades perdoáveis a quem, como Pedro Sem, já tudo teve e agora nada tem.
Não sei se hei-de rir ou chorar. Entre duas berleitadas ao cesto, Ernesto Ferreira da Silva recordou que o Sporting tem grande tradição na modalidade, ele próprio jogou 12 anos e tem grande carinho pelo jogo, mas os tempos não estão fáceis, a economia está em quebra, os chineses dão cabo de tudo, o dinheiro vai faltando, no Vale do Ave já não há fábricas de cortumes. Enfim: não há basket para ninguém! Mas há o polidesportivo.
Toda a sessão de relações públicas do Ernesto e restante rapaziada enuncia a emergência de um novo paradigma no Sporting: o das réplicas. Não temos dinheiro para manter uma secção de basquetebol, mas temos um polidesportivo para jogar a modalidade.
Rogo-vos que não parem por aí, rapazes.
Acabem com o andebol e criem um campinho de andebol em Telheiras. Melhor ainda: acabem com o atletismo e, em contrapartida, mostrem às pessoas fotografias e vídeos dos ex-atletas que já tivemos. Não temos ciclismo, mas há no museu quadros dos tempos em que o tínhamos. Não temos hóquei em patins, mas, se não chover, podemos usar o empedrado em frente ao edifício-sede para patinar um bocadinho. A natação de competição é cara, mas podemos substituí-la por banhocas nos charcos do Campo Grande. As réplicas são preciosas, na medida em que imitam a realidade e só custam tostões.
Pensando melhor, porém, nem tudo é negativo. Pode ser que, levando o modelo ao extremo, um dia possamos substituir a direcção vigente por quadros do museu, do tempo em que tínhamos dirigentes a sério.
Atrevo-me a sugerir que um quadro do João Rocha dirigia melhor o Sporting do que esta gente de carne e osso.