Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quarta-feira, maio 31, 2006

Vitorino Bastos (1950-2006)

Até sempre, campeão.

terça-feira, maio 30, 2006

Já Tratei do México

Hola! Estou no México. E, uma vez mais, a tratar de dignificar o futebol portugues (desculpem lá, mas por aqui os teclados nao tem todos os acentos). Como sabem, os mexicanos sao apontados como os nossos maiores rivais no grupo, pelo que decidi meter-me a caminho e arranjar uma forma de lhes debelar as forcas, se nao físicas, pelo menos morais. Depois de calcorrear o país, encontrei a seleccao concentrada numa localidade chamada Vanalamierda. O nome, que no dialecto azteca significa "pequeno abutre que devora cetáceos", inspirou-me subitamente. Subornei o cozinheiro com pouco mais de dez mil pesos e pedi-lhe para substituir todos os tacos, enchiladas, tortillas e afins por outro tipo de comida - sardinhas assadas, rojoes, tripas a moda do Porto, cozido a portuguesa e vinho tinto da marca Benfica.
Na mouche. Os mexicanos corriam espavoridos rumo a todos os sanitários públicos que se encontravam na área e por lá ficavam concentrados largos minutos. Depois, aliciei a criada que tratava dos quartos (aliciei... bem, voces entendem) e eu próprio me encarreguei de colocar os répteis das garrafas de mezcal dentro dos lencóis e subsitui as penas das almofadas por cactos do deserto de Sonora. Obviamente, aqui, nao esperei para ver os resultados. Já me encontro a caminho de Portugal, plenamente confiante que as minhas diligencias e patriotismo foram coroadas de exito.
P.S. Desculpem lá, mas nao tive tempo de dar uma saltada a Angola e ao Irao. Se alguem se quiser voluntariar, posso dar as cordenadas geográficas. Eu já fiz a minha parte.

terça-feira, maio 23, 2006

E Assim se Fazem Campeões

Conversas entre o ex-árbitro Pierluigi Pairetto e Luciano Moggi, director desportivo da Juventus, acordando árbitros amigáveis para jogos da Juventus. Pairetto, recordo, tinha funções nos comités de arbitragem da Liga Italiana e da UEFA. São horas e horas disto. Obviamente, não há corrupção. São meros diálogos entre gente que se gosta, como diria o Chico Buarque.

Pairetto: Estou?
Moggi: Gigi? Onde estás?
Pairetto: Já saímos.
Moggi: Oh. Que merda de árbitro, este, que nos mandaste...
Pairetto: Oh, Fandel é um dos primeiros…
Moggi (interrompe): Eu sei, mas o golo do Miccoli era válido.
Pairetto: Não.
Moggi: O quê? (…) Além disso, durante todo o jogo, ele só nos criou problemas.
Pairetto: Por acaso, não gostei dos auxiliares, é verdade. Mas eu estava a pensar em [nomear para o próximo jogo] aquele que, da outra vez, não viu o Trezeguet isolado.
Moggi: Isso já é outra coisa(…)

(muda-se o assunto).
Moggi: Oh, para Messina, manda-me o Consolo ou o Battaglia [árbitros italianos].
Pairetto: Já está feito!
Moggi: Quem é que vais mandar?
Pairetto: Creio que o Consolo e o Battaglia.
Moggi: Eh, com o Cassara também, eh?
Pairetto: Sim.
Moggi: E para Livorno: o Rocchi?
Pairetto: Para Livorno, pode ser o Rocchi, sim.
Moggi: E para o Trofeo Berlusconi, manda-me o Pieri, por favor.
Pairetto (alega um negócio pendente entre ambos): Olha que ainda não o fizemos…
Moggi: Vamos fazê-lo mais tarde.
Pairetto: Ok, fazêmo-lo mais tarde.
(a polícia argumenta que o “mais tarde” seria a negociação de um Maseratti oferecido por Moggi a Pairetto.)

(conversa entre Moggi, Morena e Pairetto, na véspera do jogo Djugarden-Juventus, da Liga dos Campeões. Morena anuncia a Moggi a nomeação secreta do árbitro)
Moggi: Está lá?
Morena: Mister Moggi, olá. Queria anunciar-lhe o nome do árbitro e dos assistentes para o jogo da Champions.
Moggi: Quem é o árbitro? É o Cardoso?
Morena: Não, eu vejo o nome de Graham Poll.
Moggi: Uhm… De onde é que ele é?
Morena: É inglês.

(Moggi liga a Pairetto, irritado)
Pairetto: Está?
Moggi: Bom dia
Pairetto: Bom dia para ti também!
Moggi: Oh, então não era o Cardoso, eh?
Pairetto: Eh!
Moggi: Paul Green (Moggi confundiu os nomes de Graham Poll e Paul Green)
Pairetto: O quê?
Moggi: Paul Green
Pairetto: Então, aconteceu alguma coisa à última hora. Já tinha escolhido o Cardoso, deve ter acontecido alguma coisa… Deve ter adoecido ou qualquer coisa assim.
Moggi: Informa-te.
Pairetto: Sim, sim, vou já fazê-lo.

(por fim, diálogo antes do Ajax-Juventus)

Moggi: Estou?
Pairetto: Olá! Eu sei que já te esqueceste de mim, mas eu não.
Moggi: Vá lá…
Pairetto: Nomeei-te um grande árbitro para o jogo de Amesterdão.
Moggi: Quem?
Pairetto: O Meier (Urs Meier)
Moggi: Excelente!
Pairetto: Vês como eu ainda penso em ti, mesmo quando tu já te esqueceste de mim…
Moggi: Não comeces. Vais ver: quando eu voltar, vais ver que eu não me esqueci de ti.

Depois digam que é por azar que o meu Inter não ganha o Scudetto há 17 anos!!!

quinta-feira, maio 18, 2006

As Opções do PM

Chegou a divertida altura do ano em que os governantes divulgam os seus rendimentos anuais e a imprensa séria e competente os escarrapacha nas folhas de jornal. Para além da imprensa séria e competente, o Diário de Notícias também o fez este ano, motivo pelo qual fiquei a saber quanto ganham e quanto investem os ministros da República.
O leitor conhece-me e sabe que eu não o maçaria com pequenas minudências não fosse o superior interesse público da informação. E a verdade, nua e crua, é esta: somos governados por um pelintra. Pior: o pouco que o pelintra tem gasta-o mal.
Segundo o DN, Sócrates apresentou um crédito à habitação de 75 mil euros. Ganha uma merdice de 89 mil euros anuais e, como posses, declarou um apartamento na Rua Braancamp, um Mercedes 230 SL e… 2.500 acções do Sport Lisboa e Benfica. É verdade, amigo leitor. Com poucas posses e obrigado a investir avisadamente as poupanças numa única sociedade, Sócrates peneirou o mercado e optou por comprar acções do Benfica!
Como na proverbial fábula do rei em ceroulas, caímos todos no logro. Metade do país acusa-o de insensibilidade, desonestidade ou maldade. A ooutra metade queimá-lo-ia de bom grado se não trabalhasse no mesmo governo que ele. Mas Sócrates não é insensível, desonesto ou maldoso. A avaliar pela sua carteira de acções, Sócrates é apenas ingénuo como uma criancinha de três anos.
Imagino-o no banco, prestes a partir o mealheiro e a investir os cêntimos da semanada arduamente poupados. As palmas da mão suadas, ele muito nervoso, ofegante, com o peso da decisão a tomar.
“Ora, posso comprar acções do BES, da PT, da EDP ou da Brisa. Não, vou investir no Benfica. Diz que é mais seguro.”
Isto preocupa-me. É bem provável que, se Sócrates seguiu esta linha de raciocínio, possa ser enganado regularmente na gestão da coisa pública. Afinal, quem compra acções do Benfica (2.500, senhor! 2.500) também pode trocar títulos do Tesouro por rifas da festa da Anunciada em Cabeçais de Alguidares. Ou abdicar da zona de pesca exclusiva para os espanhóis por troca com “aquele pedaço de mar entre a Atlântida e um dos catetos do triângulo das Bermudas”.
Ó Sócrates. Se os nossos antepassados te vissem coravam de vergonha. Logo eles, que levaram missangas e bugigangas para os índios e trouxeram de volta ouro e madeiras preciosas.

terça-feira, maio 16, 2006

O Paizão

Os Patrícios, os Lusitanos, os Magriços.
As alcunhas evocam imediatamente campanhas passadas, vitórias e derrotas, heróis e vilões. Naturalmente, e tratando-se da selecção portuguesa, também evocam discussões salariais, prostitutas nos hóteis, ejaculadores precoces (sim, sabes bem que é para ti, Secretário) e murros de João Pinto a torto e a direito.
Pensamos nos Magriços e recordamos imediatamente os desarmes do Alexandre Baptista, as defesas do Carvalho ou os golos do Figueiredo. Talvez esta evocação tenha o seu quê de parcial, mas asseguro que raramente me vem à memória gente do Benfica. É com memórias dessas que se apanham doenças graves.
Escutei atentamente a lista dos 23 afilhados de Scolari e tive de repetir insistentemente para os meus botões que não se tratava do boletim semanal da Cruz Vermelha. Costinha? Da última vez que jogou, Santana Lopes ainda era primeiro-ministro. Maniche está parado como um cavalo gasto a quem o dono poupou inexplicavelmente o abate. Hugo Viana acumulou um quarto de hora – inteiro! - na Liga Espanhola deste ano. Quim tem uma vaga memória do que é uma baliza. Nuno Valente sabe que chegou, em tempos, a jogar futebol, mas não consegue precisar a data. Simão e Nuno Gomes estão de gatas, o que, convenhamos, no caso do anão invertebrado, até é uma proeza! E, para compor o ramallhete, vai também o Ricardo Costa… nem ele sabe bem porquê.
Scolari delira com estas convocatórias. Gere estes processos como um padrinho siciliano – ora dando rebuçados inexplicáveis, ora aplicando castigos injustos. Confunde o respeito que qualquer jogador deve sentir pelo treinador com devoção religiosa. Scolari não quer um balneário. Quer uma seita de fanáticos, todos juntos a seu lado, incapazes mas dedicados. Na esteira dos Magriços, dos Lusitanos e dos Patrícios, contenho-me e não cunho o épico cognome de… As Patrícias.
Olhando para a forma física e para a veterania do grupo, creio que o grupo de pensionistas que seguirá para a Alemanha passrá jovialmente à história como "Os Enfermos". Definitivamente, isto promete.

segunda-feira, maio 08, 2006

A Teoria do Gordo

Há algumas semanas, o Pedro Neto, do blog Encarnados, deu o pontapé de saída para um debate que me interessa sobremaneira. Diz o Pedro que nunca o ódio contra o Benfica foi tão exacerbado, tão intenso. Tenho produzido intensa investigação sobre o tema [falta-me apenas o aval da Fundação para a Ciência e Tecnologia para realizar três dissecações de adeptos do Benfica] e creio que posso dar um contributo sério e racional ao debate. Em reflexão, talvez não seja sério, mas racional será com certeza.
O Pedro argumenta que não há um momento identificável de transição, um evento que, de alguma forma, potenciasse o ódio da turba sobre o Benfica. Eu creio que há. Ele começou em 1908, no minuto exacto da fundação do Benfica!
Brinco, claro.
Foram precisos pelo menos cinco minutos para que os pacatos adeptos dos outros clubes dessem conta da gente que aí vinha…
Uma das falácias deste tipo de discussões é o velho silogismo enviesado: 1) o Benfica é muita bom. 2) Ele não gosta do Benfica. 3) Logo, ele tem um recalcamento com o facto de o Benfica ser muita bom. Verdade? MENTIRA. O silogismo exala a bafio e carece de validação.
Em primeiro lugar, os tempos em que o Benfica ganhava canecos já estão definitivamente fechados no mesmo baú em que colocaram o Salazar, a exposição do Mundo Português, os discos de vinil de 75 rotações e as pernas da Dina Aguiar. Já passaram. Salazar está morto, a exposição foi um fracasso, os discos de vinil já só rendem 20 cêntimos na Feira da Ladra e as varizes da Dina Aguiar parecem os afluentes do Tejo.
Quando a poeira dissipa, verifica-se que o FC Porto é o melhor clube português da modernidade, o Sporting tem mais troféus na última década, e o Benfica tem apenas para mostrar um campeonato ganho a meias com o Estoril e a APAF. Não é mau, mas o Boavista também tem um nas mesmas circunstâncias.
Segundo ponto da discussão: eu não invejo quase nada no Benfica. Não gosto dos dirigentes do meu clube, mas desconfio que não andariam à pancada no aeroporto por um guarda-redes de terceira categoria [a propósito, o golo de ontem também terá dado vontade de rir ao Koeman?]. Caramba! Se vão andar à bofetada que o façam pelo Deco ou pelo Maniche. Ou, melhor ainda, dispensem a fase da pancadaria e avancem directamente para a etapa da contratação. Parece descabido, mas poderá fazer sentido.
Está implícito na análise do Pedro que os adversários deveriam venerar a tradição do Benfica, prestar-lhe vassalagem. O lamento faz-me lembrar os queixumes do gordo da turma. Por lei, todas as turmas têm um gordo. E, por lei também, o gordo é sempre ostracizado pelos outros. Pior: o gordo nunca percebe por que raio os outros gozam com ele, mas desconfia que não é a figura mais popular do recreio.
A perversão do sistema começa no momento em que os professores sentem que o gordo é maltratado (legitimamente, caramba! Quem nunca bateu no gordo que atire a primeira pedra!) nas curvas da vida e tendem a tratá-lo com carinho adicional, beneficiando-o nas notas porque, coitado!, o gordo sofreu tanto este ano.
O Benfica é assim, Pedro. É o gordo da I Divisão. E isso, parecendo que não, chateia os adeptos dos outros clubes.

sexta-feira, maio 05, 2006

A Mais Saborosa - 5/5/06

Alkmaar, 5 de Maio de 2005.
Há um ano, mais ou menos a esta hora, o Sporting tinha acabado de perder com o AZ por 3-2 e estava na final da Taça UEFA.
Há um ano, mais ou menos a esta hora, ninguém acreditava que a temporada do Sporting ainda poderia ser desastrosa.
Há um ano, mais ou menos a esta hora, eu circulava tontamente o edifício da Maternidade Alfredo da Costa à espera que a noite ainda trouxesse mais uma boa notícia (enfatizo a palavra "mais").
Há um ano, mais minuto menos minuto, eu tentava convencer a mãe exausta a chamar Miguel Garcia ao rebento recém-nascido. Em vão.
Lá teve de ficar Hector Acosta Peyroteo.

terça-feira, maio 02, 2006

Deixa-me rir

Koeman faz-me rir. Mas, reconheço, já lhe achei mais piada. Dá-me prazer recordar, nas conferências de imprensa depois dos jogos, aquele ar acabrunhado de doninha-almiscarada para justificar as decepções que lhe vão na alma, as desculpas esfarrapadas e o número de vezes que atirou a toalha ao chão para no dia seguinte inflectir o discurso. Koeman até me parecia, inicialmente, um tipo simpático: sorriso bonacheirão, bons modos, casaco de bom corte a condizer com a gravata, aquele ar de lagosta suada que tão bem fica nos europeus do norte. Parecia um “gentleman e cultivava o mesmo “fair-play” que lhe reconheci enquanto jogador. Ficou-lhe bem, mesmo que à força de uma evidência incontestável, ter reconhecido a superioridade do Sporting no “derby” da Luz, mas depressa lhe passou a lucidez e a coerência. Koeman ficou desorientado, agressivo, irritável e irritante. E teimoso que nem uma mula – sem ofensa para os quadrúpedes.
No último fim-de-semana, o Koeman-justiceiro conseguiu o feito de ter proferido a frase mais ridícula da época inteira. Pelos vistos, os golos do Sporting em Vila do Conde fizeram-no rir. Parabéns, a mim também, embora por motivos diferentes. Habituado a um país de brandos costumes, onde as vaquinhas convivem alegremente com os moinhos, deu-se conta de que, agora, está a trabalhar num país pouco civilizado habitado por sujeitos boçais e grosseiros e que todos, mas todos, estão decididos a montar uma conspiração à escala universal só para o tramar. Os árbitros, quando não beneficiam o Benfica, erram, mas os mesmos árbitros, quando beneficiam os “encarnados”, têm actuações isentas e não merecem reparos do treinador. Depois dos árbitros e fiscais-de-linha, são os jogadores das equipas contrárias. Que injustiça, clama Koeman do alto do seu pedestal: as outras equipas só jogam bem contra nós, os malvados! Contra os outros é só facilidades, até parecem que perdem de propósito.
Acho que Koeman não acredita, sequer, naquilo que disse. Seria demasiado imbecil. Os jogadores do Rio Ave perderam de propósito? Apeteceu-lhes, assim de repente, descer para a Liga de Honra? É verdade que os golos do Sporting foram facilitados, mas não o foram nem mais nem menos do que os jogadores do Benfica fizeram com o Gil Vicente, com o Marítimo, com o Guimarães e, sobretudo, com o Sporting. Será que Luisão, a avaliar pelas vezes que Liedson faz dele o que quer, é o chefe desta quadrilha conspiradora para tramar Koeman? E o treinador holandês nem sequer tem moralidade para falar de jogos em Vila do Conde. Aí, não foi foram necessários deslizes dos débeis defensores locais, o árbitro encarregou-se de dar uma ajudinha. Se se consumar a provável descida de divisão do Rio Ave, os adeptos locais não devem pedir satisfações aos jogadores que erraram com o Sporting, mas sim à forma como lhes foram sonegados 3 pontos preciosos no jogo com o Benfica.
Koeman remete-me directamente para a célebre música de Jorge Palma. Esta história não é, realmente, tua. O Koeman-treinador é uma sombra do Koeman-jogador que admirei no PSV e no Barcelona. E, como concordam muitos benfiquistas, não faz cá falta nenhuma.