Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

sexta-feira, dezembro 30, 2005

Ó Zé, Rescinde à Vontade

Os ingleses dizem que nasce um tonto por minuto. É bem possível que um dos tontos de 1954 tenha nascido em Setúbal e tenha recebido dos paizinhos o ingrato apelido de Chumbita.
Nos últimos meses, Chumbita Nunes foi o saco de pancada do país futebolístico. Nestas coisas dos apedrejamentos públicos, o que custa mais é a primeira pedra. Depois, até nos admiramos por que diabo demorámos tanto a lapidar o infiel.
Desde Setembro que não há gato pingado que não tenha lançado o seu calhau sobre o presidente do Vitória. Do herói da noite em que ninguém dormiu em Setúbal, graças à conquista da Taça, pouco restou. Chumbita foi crucificado pelos jornais, os tribunais modernos que juntam julgamento e condenação no mesmo procedimento jurídico. Foi bem feito. Até no Wikipedia, é possível encontrar glosas ao rapaz.
É evidente para mim que Chumbita personifica lindamente o nosso dirigente desportivo. Age por impulso, reage por paixão. Concebe o debate como um momento inaceitável de contestação à sua augusta pessoa. Aprova orçamentos baseado nas imponderáveis variações do ábaco. Promete o que não tem e invariavelmente não cumpre o que promete. Se colocassem um indígena da Papua Nova-Guiné a gerir o orçamento do Vitória de Setúbal, o resultado não seria pior.
Até esta semana, não tinha Chumbita na conta de um tonto. Pensava nele como o bom aldrabão português, malicioso mas não maldoso, cheio de lábia, truques e estratagemas. Admito, porém, que lhe tirei mal as medidas. No vaudeville de gosto duvidoso em que se tornou o Vitória de Setúbal, Chumbita não faz o papel do agiota astuto. Ele é o bobo da corte, o tolinho de quem todos se riem e que se coloca no centro do palco para escárnio da audiência.
Atentem na sequência, apresentada em jeito de silogismo socrático para melhor compreensão: José Fonte era titular do Vitória. O Vitória ia jogar com o Benfica. O Benfica tinha receio desse jogo. José Fonte rescindiu na véspera do encontro. O Benfica ganhou e apresentou de seguida Fonte como reforço de Inverno. Moral da história: Chumbita Nunes agradeceu à direcção do Benfica a conduta honrada durante o processo!?!
Terá passado pelo sobrecarregado cérebro do nosso bobo que o Benfica possa ter acelerado a rescisão de Fonte para enfraquecer o Vitória na véspera do jogo? Ó Zé, rescinde lá hoje que nós jogamos aí na quarta!..
Claro está que, de "A Bola", tribuna séria e soberana, não tardou a chuva de elogios. O bom exemplo que vem da Luz, a nobreza de carácter dos dirigentes que indemnizaram o Vitória, as virtudes da nova geração que serve o Benfica. Que verborreia!
Chumbita, esse, tomou o seu lugar. No centro do palco, ele ri candidamente, mas não sabe ao certo de quê. Usa um chapéu pontiaguado e garrido e bate palmas desenfreadamente para a multidão. Quanto mais se mexe, mais o público se desmancha em sonoras gargalhadas. O bobo foi tristemente enganado e o Benfica somou três pontos. Que melhor requiem para o ano que amanhã finda?

segunda-feira, dezembro 26, 2005

O Camaleão

Em relevante trabalho jornalístico, o jornal “O Jogo” publicou ontem uma extensa entrevista com José Mourinho. Do amplo quadro de citações, realce para quatro mutações cromáticas do treinador do Chelsea, ao nível do mais prendado camaleão.

1) «Um jogador em Portugal, Espanha ou Itália, simula e consegue um penálti, ganha com esse penálti... é um jogador extremamente inteligente, experiente, perspicaz, que entende o jogo. Em Inglaterra um jogador que consiga um penálti por simulação é um batoteiro! É um batoteiro! É um jogador que tem dificuldades de sobrevivência»

Será a mesma pessoa que, na meia-final da Taça UEFA de 2002/2003, impediu um contra-ataque perigoso da Lazio, entrando no campo e cortando uma reposição pela linha lateral?

2) «Na Grã-Bretanha o futebol é limpo! Há a cultura da honestidade, do jogo pelo jogo (…). Nesse aspecto os britânicos são campeões do mundo, com distância. Porque, de facto, estes conceitos de cultura desportiva são lindos.»
Será a mesma pessoa que aliciou um jogador [Ashley Cole] de um rival, sabendo que ele tinha contrato duradouro? Ou que chamou voyeur a um treinador rival? Ou que recusou cumprimentar Wenger porque este não leu o seu postal de natal?

3) «A maioria delas [as polémicas] é consequência de uma filosofia de comunicação social que não crítico - de quando em vez até me divirto imenso com isso... - mas que é uma forma de estar e de ser que prefere dar atenção e explorar determinado tipo de coisas em vez de outras, e que acaba por ter uma grande responsabilidade nesse tipo de ambiente...»
Será a mesma pessoa que antes do Benfica-Sporting de 2003/2004 disse sobre o desfecho do jogo: “Agora matem-se à vontade?" Ou que explodiu, depois do Sporting-FC Porto do mesmo ano: “Quero que o Rui Jorge morra em campo”.

4) «Sinceramente, acho que não discuto muito com árbitros, principalmente em comparação com o que fazia em Portugal. Aqui os árbitros erram como em todo o lado, mas não há suspeição. Acreditamos neles; sabemos que são profissionais, vivem para o futebol como nós, são independentes, e as nomeações não surgem em sequência de determinado tipo de pressão ou de influências.»
Será a mesma pessoa que, no ano passado, depois de perder com o Barcelona, levantou um pé-vento, alegando, sem justificação, que Frank Rijkaard visitara a cabine do árbitro Anders Frisk?

domingo, dezembro 18, 2005

Carlos Ferreira e as Modalidades Amadoras

Com algum atraso, mas com a mesma relevância, o Mãos ao Ar afixa parte significativa de uma entrevista do antigo guarda-redes de andebol do Sporting ao jornal "O Jogo". Entrevista na íntegra disponível aqui.

"Como sportinguista, ex-atleta e ex-capitão do Sporting, quero expressar o meu lamento pelas palavras do jornalista, escritor e sub-director do jornal do Sporting (Fernando Correia). E pergunto: Acabar com as modalidades amadoras do Sporting porquê? Será que o orçamento das amadoras dá para pagar sequer a um jogador de futebol profissional? É que profissionalismo não é só um estatuto, mas sim uma maneira de estar e sentir o desporto que se pratica. Ou será que profissionalismo é insultar o treinador, não cumprir os regulamentos internos do clube e dizer que não se quer jogar ou dizer que não reconhecem o seu valor no clube porque se ganha pouco? Sem querer generalizar, e falo por experiência própria, pelos 20 anos de andebol sénior, onde fui campeão em todas as equipas, ter amor à camisola é jogar lesionado, com entorses, fracturas, gripes, febres, hérnias ou lesões que tais e, já agora, devo dizer que mialgias não existem no vocabulário das amadoras. Ter amor à camisola é viajar no próprio dia do jogo, fazer viagens de horas intermináveis, desde avião, comboio e autocarro numa só deslocação, comer no McDonald's de madrugada e sob temperaturas negativas ao ar livre, porque nada mais há e levar comida de casa. Ter amor à camisola é dormir em hotéis duvidosos, sem aquecimento, sem água quente, com lençóis comidos por baratas e sabe-se lá que mais e ter, por isso, de dormir vestido. Tudo isto em vez de termos voos charter, hotéis luxuosos e cozinheiro particular. Se isto não é amor à camisola, então não sei o que é?", disse, de uma assentada, o internacional A português, que continuou praticamente sem se deter: "Se calhar, e digo se calhar, é por pessoas como este senhor que o nosso belo país tem a mentalidade e cultura desportiva que tem, já que tudo é futebol em Portugal, onde se fazem todos os sacrifícios apenas para se levantarem belos e estrondosos campos de futebol. Mas este é um país onde as amadoras trazem títulos e medalhas que não vale a pena enumerar por serem muitas e do conhecimento geral, e no qual as federações têm de pagar às televisões para que os jogos dos que têm amor à camisola sejam transmitidos, seja na TV pública ou não e muitas vezes nem assim...".

sábado, dezembro 17, 2005

A cavalgadura

Há muito tempo que um jogador do Sporting não me irritava tanto. João Alves é uma aberração, um fenómeno do Entroncamento.
Desde já me comprometo a doar um testículo à ciência se o Alves chegar a marcar um golo que seja pelo Sporting.
Oferta limitada ao stock existente!

sexta-feira, dezembro 16, 2005

A Odisseia dos Sete - Parte 4

Encerram-se hoje as comemorações da Odisseia dos Sete. Mais que uma odisseia homérica, mais que uma saga escandinava, mais que uma epopeia medieval e mais que uma gesta lusitana, o jogo do nosso contentamento, o tal dos 7-1 (ou, como toda a gente diz, dos “setaúm”), perdurará para sempre na gaveta mais limpinha do nosso arquivo de memória. Todos recordam as peripécias que envolveram o jogo, todos têm as suas histórias pessoais para contar, alguns, de peito cheio e orgulho inflamado, podem bradar “Eu estive lá!”, outros arrependem-se para o resto das suas vidas e lamentam-se de não terem lá estado.
Os 7-1 são um marco no futebol português, mesmo que não tenha sido a maior goleada infligida pelo Sporting ao velho rival da Luz. Como diz o Bulhão, o Sporting não ganhou o campeonato, mas também eu não trocava o título por esta goleada. Soletrem comigo: “Se-te-a-um”, se-te-a-um”, “se-te-a-um”. A frase ribomba como um martelo na cabeça de cada benfiquista em qualquer parte do mundo.
Qualquer epílogo não ficaria bem se não se recordassem os personagens principais. Pois bem, nessa bela tarde de 14 de Dezembro, o Sporting alinhou com Vítor Damas na baliza, o quarteto defensivo era formado por Gabriel, Venâncio, Virgílio e Fernando Mendes; Oceano jogou a “trinco”, a linha média contou com Litos, Zinho (emprestado pelo Braga) e Mário Jorge, e os atacantes de serviço eram Meade e Manuel Fernandes. Manuel José (o tal que foi posteriormente despedido do Benfica por “incompetência”) ainda fez entrar Silvinho e Duílio.
Os outros heróis do jogo foram Silvino, Veloso, Dito, Oliveira, Álvaro, Shéu, Chiquinho Carlos, Diamantino, Carlos Manuel, Wando e Rui Águas. Não deixa de ser curioso atentar no percurso dos jogadores benfiquistas, e estou a citar de memória: Silvino, hoje no Chelsea, andou alguns anos pelo FC Porto; Veloso, além do momento alto de ter falhado um penalty em Estugarda, tem como coroa de glória ter um filho que é jogador do Sporting; Dito deve estar a cumprir acções de formação em psicologia em Braga; Oliveira é fiel seguidor do “capitão” Manuel Fernandes; Álvaro está a treinar um clube que equipa à Sporting; Shéu deve ser secretário-qualquer-coisa no Benfica; Chiquinho Carlos deve ter desaparecido, tal como aquele com o bizarro nome de Wando; Diamantino, relembro-o de leão (ainda não tinha sido inventado o galgo) ao peito quando treinava o Sporting Clube Campomaiorense; Carlos Manuel arrependeu-se do seu passado de vilão e juntou-se aos heróis de Alvalade uns anos depois; e Rui Águas ainda merece algum crédito depois de se ter mudado com armas e bagagens para o FC Porto.
Por fim, a actriz principal: a bola do jogo. Manuel Fernandes, mal acabou o desafio, agarrou-se a ela e não mais a largou – ainda tinha as marcas dos quatro golos que apontou. Hoje, encontra-se no Mundo Sporting, o museu de Alvalade. Eu, venero-a mais do que a relíquia de Buda (nesta caso um osso) que roubei num templo de Myanmar e que faz parte do meu espólio pessoal. Está lá, é meu, tal como guardo religiosamente as imagens dos melhores 90 minutos da minha vida.
E pronto, chegou ao fim a semana de festividades, mas não fiquem tristes nem desmoralizem – para o ano há mais e o Mão ao Ar vai comemorar condignamente, com pompa e circunstância, a efeméride.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

A Odisseia dos Sete - Parte 3

(estranho e peculiar ensaio sobre o nariz de John Mortimore)
(ocasião também para honrar os vencidos. Ou nem por isso...)

John Mortimore tinha um nariz descomunal. Julgo que a proeza nunca foi documentada de forma rigorosa e científica, mas nunca vi nariz maior no futebol português. Nem antes nem depois. Não me interpretem mal: o treinador do Benfica era realmente senhor do seu nariz. No caso concreto, era senhor de pelo menos dois metros quadrados de nariz.
É certo que na história das artes e das ideias não é invulgar encontrar seres extremamente dotados, mas castigados pela natureza com narizes desproporcionais. Pinóquio teve o destino que se conhece. O lobo mau foi desmascarado pelo preconceito do capuchinho vermelho, que lhe descobriu um nariz maior do que os padrões da época. Cyrano de Bergerac tinha o bom senso de se esconder – a si mais à sua disforme chaveta. Mortimore, porém, saía à rua. E torcia o nariz aos críticos.
Naquela tarde concreta de 14 de Dezembro, Mortimore ficou nitidamente com nariz de palmo e meio. Tal como os jogadores da sua equipa, o treinador paralisou e ficou de nariz à banda perante o furacão que varreu Alvalade durante a segunda parte. A acção precipitava-se ali, a poucos metros do seu nariz, mas Mortimore, (con)gelado, não reagia. Tirou Shéu Han (Hã? Shéu Han. Hã? Shéu Han. Hã? Etc, como compreenderão, no interesse da legibilidade do post) e colocou Nunes, também ele um estudo de caso para os anais da rinoplastia nacional. Substituiu Diamantino por César Brito. Mas as mudanças não passaram de narizes-de-cera.
O revisionismo histórico do Benfica fez saber que, depois desse jogo, o treinador se fechou no balneário com a equipa, de tal forma que os dirigentes «encarnados», quando lá chegaram para pedir satisfações, bateram com o nariz na porta. Que se fossem embora e que não metessem o nariz onde não eram chamados, mandou o inglês dizer. Que, aliás, não era flor que se cheirasse.
Com toda a honestidade, pouco me importa que o Benfica tenha sido campeão nessa temporada ou que o Sporting não tenha ganho nenhum dos seis jogos seguintes. O triste cenário da Bancada Norte a arder lentamente, alimentada por pequenas fogueiras dispersas, é uma das imagens mais reconfortantes da minha vida.
Creio, porém, que é justo dizer que os benfiquistas foram solidários com a faceta mais saliente do seu treinador. Nesse dia, não houve adepto encarnado que não experimentasse a mostarda a subir-lhe ao nariz. Mortimore, esse, ficou para sempre convencido de que, no Benfica, havia macaquinhos no sótão.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Julgávamos nós...

Julgávamos nós que os 7-1 já estavam esquecidos! Siga para aqui para acompanhar um Fórum sobre a efeméride, ver a primeira página de "A Bola" do dia 15/12/1986 e fazer download de dois dos golos do Manel.

A Odisseia dos Sete - Parte II

O dia 14 de Dezembro, imerecidamente, não consta da lista dos diversos feriados nacionais. Se há feriados civis e religiosos, porque não há feriados desportivos, melhor, feriados sportinguistas? Se há o dia da Imaculada Conceição, porque não há-de haver o dia da Suprema Humilhação? Segundo a versão benfiquista, se o 1 de Novembro é dia de Todos-os-Santos, então o 14 de Dezembro deveria ser o dia de Todos-os-Prantos, se o 1 de Maio é o dia do Trabalhador, o 14/12 seria o dia do Estertor, se o 1.º de Dezembro de 1640 foi o dia da Restauração da Independência, o 14 de Dezembro de 1986 teria de ser o dia da Implantação da Demência.
Hoje, portanto, é feriado. Pessoalmente, sempre gostei dos feriados, mais a mais quando um feriado como o de hoje calha num dia da semana, bem basta o Natal e o Ano Novo calharem em fins-de-semana. Para mim, todos os 14 de Dezembro são dias gloriosos – mesmo que chova a cântaros, é um dia de sol radioso; se há um ciclone, para mim é como estar no solene silêncio do deserto do Mojave; se há um terramoto, sinto-me a planar no vácuo de uma nave espacial; se faz um frio de rachar, até parece que estou de t-shirt numa esplanada de Nairobi.
Lembro-me como se fosse hoje. Ainda não conhecia o Bulhão, fui ao jogo com o meu irmão e sentei-me, como de costume, no lado esquerdo da Bancada Nova, sensivelmente a meia-altura, um pouco acima da Juventude Leonina. Na primeira parte, ainda houve algum equilíbrio, mas o Silvino, ao melhor estilo mata-moscas, lá conseguiu encaixar dois golos. Na segunda parte, foi a degola dos inocentes, a violenta carga da cavalaria leonina sobre os “sitting bulls” encarnados, o avanço da infantaria sportinguista a carregar sobre o inimigo, que deixaria Alexandre Magno invejoso quando infligiu pesada derrota ao exército persa. É nestes momentos que todos os que assistiram sabem que se está a fazer e a escrever História.
E é por isso que, ainda hoje, prefiro os livros de “Os Sete” aos de “Os Cinco”, com a devida permissão de Enid Blyton, essa empedernida sportinguista.

terça-feira, dezembro 13, 2005

A Odisseia dos Sete – Parte 1

Associado às comemorações dos 19 anos da esmagadora vitória de 7-1 sobre o Benfica, o Mãos ao Ar sintoniza a sua antena exclusivamente neste evento definidor da modernidade. Até final da semana, brindaremos os amáveis leitores com um texto diário dedicado à efeméride. Esperemos que os siga com a mesma atenção do guarda-redes Silvino naquele fim de tarde de 1986.

Começo por dizer que, se todas as pessoas que já me garantiram terem estado no estádio José Alvalade nesse 14 de Dezembro de 1986 tivessem efectivamente lá ido, o estádio teria enchido seis vezes. Como não consta que a capacidade do recinto fosse então de 300 mil espectadores, há forçosamente muito mentiroso entre os meus contactos.
Eu estive. Por inacreditável e feliz coincidência, tive acesso a bilhete menos de duas horas antes do início da contenda. Vi o jogo na antiga Bancada Nova, virado para o lado sul – aquele em que o Silvino chupou cinco golos. Confesso que cheguei a ter pena do homem. Mas passou rapidamente.
Desse jogo, como em todas as grandes batalhas, gerou-se um mito, um herói incontornável. Atrevo-me a dizer que, se no final do jogo, o Manel tivesse pedido que todos os adeptos se tornassem católicos, até o mais empedernido ateu juraria amor à virgem de Guadalupe. Tivesse o jogo ocorrido na NBA e o número 9 teria sido retirado do lote para nunca mais ser usado.
Para os sportinguistas, os 7-1 são o momento definidor, como a tomada da Bastilha para os franceses ou a batalha de Trafalgar para os ingleses. Só que felizmente o Manel não teve de perder braços, nem pernas, nem rins, como o almirante Nélson.
O 7-1 é categórico. É indiscutível. Eterno como a chama olímpica. Por muitos anos que passem, este fogo não se apaga. E é o derradeiro argumento para ganhar discussões.
Com portistas:
- Ah, e tal! Ganhaste a Liga dos Campeões mas nunca esmagaste o Benfica por 7-1.
- Glup [portista a engolir em seco]

E com benfiquistas:
- Por muitos campeonatos que tenhas ganho no tempo da Inquisição, os 7-1 são uma nódoa que não sai nem com benzina.
- Chuif [benfiquista a soluçar] ou Hic [benfiquista bêbado a soluçar]

Há alguns anos, por motivos que agora não vêm ao caso, tive oportunidade de falar com o Carlos Manuel sobre o jogo. Perguntei-lhe o que discutia ele com o Diamantino no centro do relvado das sete vezes em que lá teve de ir tocar a bola para reatar a partida.
Resposta do Carlão: Perguntávamos um ao outro com quem nos dávamos bem na equipa do Sporting para pedir pelos santinhos que o massacre acabasse.
Os deuses, porém, acabaram por ser benevolentes para o Benfica.
Se Vítor Correia não tem apitado para o fim do jogo, o resultado poderia ter sido histórico!…

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Os Centímetros Fazem Diferença

Desiludam-se os que esperavam de um post com este título uma história de prazeres carnais, virgens ofendidas e transformistas filhas de capitães do Benfica. O post é sério e o autor, na maior parte dos dias, é honrado.
Ocorreram-me, enquanto saía do estádio na sexta-feira, dois pensamentos originais: em primeiro lugar, já basta de lutar contra o destino. É evidente que, sempre que o Sancho Urraco vai à bola, há coisas destas. O Rei Midas alegadamente transformava tudo o que tocava em ouro. O Sancho azeda todos os jogos a que se digna a assistir. Já o chamaram à razão, já lhe ofereceram dinheiro e já lhe ofereceram pancada Mas sua excelência prefere continuar a agoirar. Que seja. Mesmo que isso signifique que, para o ano, estaremos a jogar com o Marco e o Gondomar na Divisão de Honra.
Mas dizia eu que, para além da vontade incontrolável de enviar o meu colega de sector em voo rasante até às profundezas da Terra, senti que este foi um… daqueles jogos. Em todas as temporadas, há jogos-chave. Jogos determinantes, nivelados no resultado e decididos por ínfimos pormenores. Ganhá-los ou perdê-los é muitas vezes uma questão de centímetros (explicação que o popular Reinaldo seguramente tentou oferecer à menina das Doce já lá vão umas boas décadas).
Recordam-se do título de 1999/2000? Muitos consideram o jogo com o FC Porto em Alvalade (saravá, Secretário) o jogo decisivo. Para mim, tão importante como esse, foi um jogo com o Campomaiorense na primeira volta. O Sporting iniciava a recuperação pontual face ao líder, mas fez uma exibição paupérrima contra os alentejanos. Um tal Laelson falhou três bolas na cara do Nélson. Devíamos ter perdido esse jogo e, se isso tivesse ocorrido, o título teria sido uma miragem. A cinco minutos do fim, Vidigal (?), de longa distância (??) e em remate de primeira (???) marcou o golo da vitória. Este foi um jogo… daqueles.
No título de 2001/2002, o jogo-chave foi em casa com o Setúbal. A cinco minutos do fim, Niculae lesionou-se… aparentemente até ao fim da carreira. Jardel e João Pinto já tinham cartões amarelos, o que tornava a tarefa do jogo seguinte, em Alverca, ainda mais ciclópica e irritava, ainda mais, as bancadas. O tempo avançava e não se marcava. Aos 90’, Jardel marcou o golo redentor. O resultado poderia ter tombado para qualquer lado da fasquia. Tombou para o nosso.
Acredito que o resultado de sexta-feira se enquadra nesta categoria. O Sporting construiu hipóteses flagrantes para ganhar com margem folgada. Falhou tudo. O Estrela teve duas hipóteses. Marcou uma. Poderíamos e deveríamos ter, no mínimo, empatado. Mas este era um jogo… daqueles. E tombou para o adversário.
Estes momentos definem uma equipa, marcam-na para o futuro. Abalam-na ou fortalecem-na, consoante o desígnio que o centímetro a mais ou a menos produz. São equivalentes à bola de ténis que toca na rede e cai, ora para um lado, ora para o outro, como se tivesse vontade própria e quisesse premiar aleatoriamente um dos atletas. Minam o moral e arruinam a confiança.
A resposta da equipa na Figueira da Foz é, por isso, decisiva.

Nota final: Nos três exemplos que dei, há uma lição adicional a retirar. O Sancho não pôde ver os encontros com o Campomaiorense de 1999 e com o Setúbal de 2001. Mas sexta-feira esteve em Alvalade. Alguém tem um bastão?

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Rodrigo, o Leão

Há mais de 40 vulcões activos no Chile, mas, com a pontaria que nos caracteriza, recrutámos um sem chama, espécie geológica sem interesse nem utilidade pública. Há quatro anos que aguardamos por uma faúlha, um mero vestígio de actividade. Em vão. Da montanha Rodrigo Tello, acreditem, não saem mais do que soluços.
Tello desempenha uma das posições mais ingratas do futebol moderno – colado à linha, mandam-lhe que vigie uma faixa de 60 metros, verdadeiro pesadelo para um atleta pesado e sem velocidade. Nos cantos e livres, cabe-lhe o lugar do morto – lá atrás, longe da acção e sujeito às investidas galopantes de um qualquer N’Doye. A tudo, Tello diz que sim, submisso, ou não fosse súbdito do país que aturou Pinochet durante décadas a fio. *
No Sporting 2005/2006, nada há a temer para além do próprio medo. Ah! E um erro qualquer do Tello. Disso também temos de ter medo.
Raro é o jogo em que ele não compromete – ou porque falha um passe estratégico, ou porque é perna-curta e não desfaz um cruzamento ou ainda porque é mais vulnerável às investidas contrárias do que a modelo Rute Marques.
No Dragão, em jogo de escassas oportunidades, a hipótese mais flagrante do FC Porto foi despoletada por uma intercepção infeliz do chileno. Como sempre, tapou a cabecinha com as mãos e lamentou a má sina. Para além de tudo, o nosso homem reage malzinho ao infortúnio.
Há quem goste dele. Quem? A mãe, o pai e possivelmente a esposa. E um escasso nicho de adeptos que a deusa pagã do acaso colocou sarcasticamente no meu sector.
Esta gente – que prefiro não identificar, porque eles sabem bem quem são – vê no Tello o prodígio da alquimia. Onde Alvalade vê um passe deficiente, o grupo Pró-Tello antevê uma desmarcação. Onde o estádio identifica um cruzamento defeituoso, vêem eles um golpe de génio. Onde TODA a gente vê um marcador banal de bolas paradas, pressentem eles o Platini de Santiago do Chile.
Há coisas de que Tello não tem culpa. Não tem culpa de não saber passar com o pé direito. Não saber cabecear. Não saber centrar. Não saber defender. Não saber correr. Não saber respirar. Não tem culpa de nada, o pobrezinho. Mas o milhão e meio de contos que com ele foi gasto dava para sustentar a Academia de Alcochete (Academia Puma, ao que dizem agora) durante sete épocas e meia. Caramba! Em sete temporadas e meia, saiu de lá o Nuno Valente, o Paíto (argh!), o Valdir, o André Marques e outros de que nem ouvimos falar. Sou só eu que acho absurda esta forma de gastar dinheiro?

* A propósito de Pinochet, não resisto a contar uma velha piada: sabem qual é a semelhança entre o Benfica e o General Pinochet? Ambos reúnem milhares de pessoas em estádios e torturam-nas sem piedade.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

A não perder...

... o divertido texto de Joel Neto, no Futebol: Mesmo. Chama-se "The End, Perdão, Intervalo" e junta Luís Filipe Vieira, Peseiro e Dias Ferreira. Aqui

O golo de Nani

Bem sei que já passaram alguns dias desde o último “clássico” do futebol português. Desde então, muitas coisas aconteceram que deixaram pouco espaço para que se voltasse a falar do FC Porto-Sporting – o Nacional perdeu a ocasião de saltar para a liderança graças ao golo mais estúpido do mundo de Meyong, o Vitória de Setúbal está a fazer um brilharete, os portistas já foram eliminados das competições europeias, o Unhais da Serra é líder isolado da II Divisão da Associação de Futebol de Castelo Branco depois de ir vencer ao campo do Escalos de Baixo, o Nuno Gomes até já foi ouvido na Liga a propósito do gesto altruísta que teve no Municipal de Braga.
Mas, mesmo após tantas peripécias ocorridas na última semana no futebol português, continuo a pensar no jogo do Dragão. O resultado aceita-se e, como é uso e costume, portistas e sportinguistas lamentam-se em relação à actuação da equipa de arbitragem. Diga-se, aliás, e numa opinião meramente pessoal, que o inenarrável Lucídio Baptista sentiu-se tão à vontade no relvado do Dragão como um girassol numa estepe nevada da Sibéria, como um pinguim no mar de Andamã, como um Papa Bento XVI a baptizar sacerdotes homossexuais, como um boavisteiro sem cafeína, como um Nuno Gomes sem gel à mão, como um Mantorras sem parafusos no joelho. Não, Lucídio moveu-se no relvado do Dragão com a graciosidade de uma libelinha, com o virtuosismo de Nureyev, com a justiça divina de Salomão, com a passividade de um eunuco num harém.
Independentemente de quota-parte das responsabilidades terem de ser distribuídas pelos auxiliares (não quero crer que nome tão imbecil tenha substituído os populares bandeirinhas), Lucídio esteve ao seu nível: não viu um penalty de Polga, não descortinou a extraordinária defesa de César Peixoto em plena grande-área (parafraseando o isento comentador televisivo Frasco, “Não vejo motivos para grande penalidade porque o jogador já estava em queda”). O mal foi distribuído pelas aldeias, mas o que ainda hoje me intriga é o estranho (ou talvez não) branqueamento a nível nacional do golo invalidado a Nani. Lizandro Lopes também viu um golo ser invalidado, mas todos os canais televisivos, repito, todos os canais televisivos, deram a repetição do lance, onde se vê que Rogério, mesmo teatralizando, é empurrado pelo argentino.
Já em ralação a Nani, agradeço que alguém me esclareça – porque foi o golo invalidado? Nani fez falta sobre o generoso Pepe? Ou será que, se alguém fez falta, foi o caridoso Pepe? Vi todos os canais televisivos à espera da repetição, fiz directas consecutivas para não perder a jogada, estive horas a fio fazendo zaping entre a SportTV, a RTP1, a RTP2, a Sic, a TVI, a Sic Notícias, a RTPN, a EuroSport, a Odisseia, a Venus e a Playboy, e… nada. Nada, zip, nicles, rien, népia de repetição. Por isso, ainda estou para saber porque raio foi o golo invalidado. Será que algum de vocês, zelosos leitores, me podem esclarecer?

segunda-feira, dezembro 05, 2005

O Rei Vai Nu

Pinto da Costa já não tem o vigor de outrora. Acontece aos melhores, é a força da vida. Tornou-se uma caricatura do que foi, herói mirrado pelo tempo e pelas circunstâncias.
Antigamente, as contratações dos «dragões» eram precisas como um relógio suíço: o FC Porto arrebatava o melhor do mercado nacional e internacional, com operações-relâmpago, sempre sigilosas e bem direccionadas. Na hierarquia das aves de rapina, o FC Porto era um falcão-peregrino.
O início da época de transferências era sentido nos clubes de Lisboa como uma bomba-relógio: onde vai agora o FC Porto atacar e de que forma isso nos vai afectar? Futre, Rui Águas, Sousa, Dito, Jardel, Deco, Maniche – tantos golpes em cheio na jugular dos rivais. Cedo ganhou uma aura mitológica. Cantaram-lhe baladas aos sete ventos, elogiando proezas reais e inventadas. Os seus poderes eram mágicos. A sua infalibilidade desarmava.
Nos anos 1990, o FC Porto era o modelo a seguir – se não na forma, pelo menos no conteúdo. Que charme de homem, suspiravam as senhoras nos corredores, fascinadas pelo declamador de Aleixo e Ferro [sem ligação ao anterior líder do Partido Socialista], em serões perfumados de verbena. Que magnetismo pessoal, invejavam os senhores. Que filho da p***, lamentavam sportinguistas e benfiquistas.
A viragem do século não produziu apenas o crash do milénio. Deve ter afectado também algum circuito interno da capacidade cognitiva do presidente do FC Porto. Em 2001, a aposta em Octávio Machado e em “coisas” como Esnaider ou Pizzi foi um primeiro sintoma. A meio dessa época, desfez-se um dos mitos mais irritantes do futebol português: o FC Porto não despedia treinadores. Pois.… De então para cá, depois de tomar o gosto ao chicote, já marcharam Del Neri, Fernandez e Couceiro. E este estranho Co pode não demorar muito a ser despachado para o Valhala dos treinadores.
É certo que o biénio de Mourinho restabeleceu a aura de invencibilidade, mas o crédito caberá, por muito que isso me custe, ao treinador. As escolhas foram dele. Como aliás se viu no Verão seguinte, logo depois da saída do rasgador de camisolas para Londres.
Pinto da Costa é loucamente aclamado pelos sócios do FC Porto. Vai no quinto ou sexto mandato (é sempre o último…) e continua a ganhar eleições ao bom estilo norte-coreano. O Grande Líder, o Exaltado Líder gosta de votações esmagadoras, mesmo com lista única. Sobretudo num modelo associativo que está desenhado para preservar quem lá está. Salvo raras excepções (olá João Vale e Azevedo), raro é o presidente em exercício num clube que perca a reeleição. É preciso, de facto, ser um grande camafeu (olá João Vale e Azevedo) para perder recandidaturas num clube de futebol.
Apesar disso, é inegável que o rei vai em pelota. E que espectáculo lastimável ele produz! Perdeu qualidades e apresenta-se à sociedade como na verdade é – sem truques, nem liftings: um homem envelhecido, ultrapassado no tempo e nos métodos, com um discurso gasto e monocórdico. Arrasta os pés onde antes corria. Perde tempo com banalidades que em tempos desprezou. Tornou-se terreno. E mortal.
Como as feras na selva pressentem a vulnerabilidade, também os admiradores de antanho dão conta da fraqueza. E, sem um pingo de vergonha, precipitam-se agora para denunciar as fraudes nos relatórios e contas, as debilidades na equipa de futebol, os erros de gestão desportiva. Lançam-se como abutres sobre o moribundo, ainda o corpo está quente.
A Pinto da Costa, resta-lhe, como séquito, meia dúzia de trogloditas dos Super Dragões e um punhado de coristas pagas à hora. É esse o triste destino do homem que teve o mundo [do futebol] na palma da mão.
São transitórias as glórias deste mundo!

domingo, dezembro 04, 2005

Golos à Sporting

Não tenho do mundo uma perspectiva apocalíptica ou conspirativa. Limito-me a constatar que há uma acção concertada de forças das trevas unidas para prejudicar o Sporting.
Será idiota associar o oculto a resultados desportivos? Provavelmente. Mas como explicar então que, em noites específicas, os astros se alinhem e conjurem contra o clube? Há quem encontre apenas na incompetência humana a causa para a desgraça. Eu antevejo-a no domínio do oculto e não estou sozinho nesta pugna. Todos os pacientes desta ala psiquiátrica do Hospital Miguel Bombarda pensamos assim.
Fazem-se rankings por tudo e por nada, mas há uma classificação que não vi publicada: a do clube que sofre os golos mais estúpidos do mundo. Aí, amigos, há poucas equipas que rivalizem connosco.
De memória, cito os Ivkovic specials - petiscos de origem croata, normalmente produzidos contra o FC Porto e bestialmente engraçados se não tivessem ocorrido na nossa baliza. Desde um golo do meio-campo marcado por Jorge Couto à incrível carambola de 1992, que permitiu o golo de Kostadinov, Ivkovic fez de tudo. Culpa do croata? Ora. Ninguém, no seu devido juízo, deixa que a bola bata nos dois postes sem lhe tocar, antes de ser batido por Kostadinov. Houve ali intervenção do Oculto. E pior: esse Oculto tem sentido de humor.
Em 1995, fui ao Bessa, palco que tanto gosto de visitar pelo especial carinho que os adeptos da casa gostam de tributar aos visitantes. Aliás, que atire a primeira pedra aquele que não gosta de ser cuspido e insultado por 30 adeptos jarretas do Boavista, daqueles que nos fazem duvidar se a espécie humana terá mesmo evoluído uniformemente desde a savana africana.
Nessa noite, assisti provavelmente ao golo mais estúpido consentido por uma equipa do Sporting. Com o jogo empatado, o defesa Nélson procurou despachar a bola para longe e não encontrou melhor forma se não rematá-la violentamente contra as costas do colega Vidigal. Inevitavelmente, a bola encontrou a trajectória mais absurda para entrar na baliza. É uma pena, aliás, que a constituição de 1976 proiba o esquartejamento. Nos bons velhos tempos, haveria pedaços dos dois cretinos espalhados ao longo da Avenida da Boavista.
Talvez seja isso que tem faltado: sacrifícios humanos dos infelizes que geram golos destes!
Ao longo dos anos, houve mais, muito mais. Do golo de rabo de Zahovic em 1998 (julgo que o primeiro do género no mundo) à bem conseguida carambola de sexta-feira passada, no Dragão, passando ainda pelo horrível frango de Schmeichel em Braga (quando bateu a bola rematada por Feher contra o solo, e a lama do Estádio 1.º de Maio fez o resto...), já sofremos de tudo. Aos poucos, resignámo-nos a esta triste sina de arruinar exibições e resultados com golpes destes. Rimo-nos da palermice de Polga. Fazemos escalas de classificação (para mim, o auto-golo de Polga merece um 7/10 em execução e um 8/10 em sarcasmo).
Eu próprio já sublimo o azar com muito mais tolerância: passadas 48 horas, já me retiraram a camisa de forças e reduziram a toma diária de Prozac. Daqui a dias, prometem os enfermeiros, já me deixam ir à rua outra vez.

sábado, dezembro 03, 2005

Curtas

1 - Fosse aquele alívio disparatado de Pepe para os pés de qualquer outro jogador do Sporting e o passe para Deivid nunca teria saído com tanto açúcar.
2 - O Frasco-comentador ainda é mais trauliteiro do que o Frasco-jogador. Gostei particularmente de saber que a mão de César Peixoto na área não é tão grave porque ele já ia em queda.
3 - Já que o Sporting não parece descobrir nenhum defesa-esquerdo no plantel mais capaz do que Rodrigo Tello, queiram por favor remeter proposta de contratação para:
Miguelito, Clube Desportivo Nacional, Rua do Esmeraldo nº 46, 9000 Funchal
4 - Acredito que o palavreado apimentado de Paulo Bento, que tanto chocou o director do Record, não se destinava a qualificar a acção dentro de campo. Bento olhava para o banco, via os suplentes disponíveis e não se continha: F***-se. Qual destes m****s ponho eu dentro de campo?
5 - Wender mexe-se em campo com menos orientação do que as galinhas às quais acabou de ser removida a cabeça. Com uma desvantagem: as galinhas caem ao fim de poucos metros. Wender arrastou-se durante trinta minutos.
6 - Para os anti-Mourinho, como eu, é um consolo ver que a pérola cuja contratação ele aconselhou ao FC Porto (Pepe) se revela semanalmente. Pepe é tão desastrado que, se lhe coubesse em sorte administrar a extrema unção a um moribundo, provavelmente enganar-se-ia no paciente.
7 - Especialmente para João Querido Manha: pelos vistos, empata-se no Dragão com um meio-campo de miúdos de 19 anos (ver post prévio).

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Actualize a sua Gramática

Não há estrangeiro que não se queixe da dificuldade de aprender a língua portuguesa. Num contributo humilde, mas garboso, para o melhor domínio da expressão escrita, o Mãos ao Ar apresenta hoje a conjugação de alguns dos difíceis e ardilosos verbos irregulares da nossa gramática. Conjugá-los nas circunstâncias correctas é meio caminho andado para a sua melhor integração na nossa selecta cultura, senhor estrangeiro.

Lição 1: Dos goleadores
Eu tenho um ponta-de-lança que não quer treinar
Tu despachas os pontas-de-lanças para a equipa B
O ponta-de-lança dele tem joelhos com mais metal do que osso

Lição 2: Das finanças
Eu não tenho dinheiro para reforços
Tu compras 20 reforços por semestre
Ele só adquire reforços do Veiga

Lição 3: Dos presidentes
Eu tenho um presidente aristocrata e pateta alegre
Tu tens um presidente acusado de 32 crimes de burla agravada
Ele tem um presidente que não consegue conjugar o imperativo

Lição 4: Das prestações europeias
Eu fui à final da UEFA
Tu ganhaste a Champions
Ele só ganha a Taça Amizade Jean-Pierre-Vient-Ici

Lição 5: Das Glórias
Eu tenho uma velha glória de Sarilhos Pequenos
Tu tens uma velha glória rejeitada para não ofuscar o presidente
Ele tem uma velha glória bêbada que nem um cacho

Lição 6: Dos escalões de formação
Eu formo jogadores
Tu dispensas os jogadores formados para a equipa B
Ele não forma ninguém desde o golpe de estado de 1926

Lição 7: Das contas da SAD
Eu demonstro resultados financeiros
Tu manipulas assembleias
Ele responde no tribunal de Gondomar por peculato

Lição 8: Dos guarda-redes
Eu, Ricardo, dou frangos
Tu, Quim, tens lapsos
Ele, Baía, concede golos

Lição 9: Do papel dos árbitros
Ele arranjou brasileiras para o trio de arbitragem
Tu compraste a APAF
Eu lixei-me porque não subornei ninguém

Lição 10: Dos capitães
O meu capitão esmurra os colegas
O teu capitão foi despachado para Liège
O capitão dele é avaliado em mais cinco milhões de euros mesmo com um estiramento na coxa

Lição 11: Dos departamentos médicos
Os meus jogadores têm baixas de um mês por entorses
Os teus jogadores estão ausentes e ninguém dá por isso
Os jogadores dele são cobaias em experiências anatómicas de risco

Lição 12: Dos treinadores
Eu tenho um treinador com um mês de experiência
Tu tens um treinador com a disciplina de um alferes nazi
Ele tem um treinador mais defensivo do que uma virgem em viagem de fim de curso

Assim se fala em bom português!