Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

sexta-feira, setembro 30, 2005

Foi só impressão minha…

Foi só impressão minha…

… ou Polga tinha uma agenda própria no jogo de ontem?
… ou Rochemback faz mais falta ao Sporting do que a polícia em Nova Orleães?
… ou Peseiro não tem capacidade para alterar o rumo de um jogo em espiral descendente?
… ou o lugar de Paíto é num hospital de campanha para doentes sem coordenação motora?
… ou as duas aves raras que vieram do Sp. Braga são o presente mais envenenado desde que os troianos aceitaram um cavalo dos gregos?
… ou o castigo a Liedson saiu mais caro do que o previsto?
… ou acontecem coisas destas sempre que o Sancho vem a Alvalade?
… ou, com os 15 euros do bilhete, tinha passado a noite no animatógrafo do Rossio e tinha visto mais acção?

quarta-feira, setembro 28, 2005

O Logro

Quem lê a bem humorada imprensa desportiva de hoje, fica com a nítida sensação de que o jogo do Benfica ontem em Manchester foi o mais belo capítulo da história de portugueses no estrangeiro desde que a embaixada de D. João V foi a Roma distribuir moedas de ouro às mãos-cheias.
A seis minutos da fama, lamenta "A Bola", polvilhando as diversas apreciações ao jogo com os "sublimes", "categóricos", "de encantar" do costume, só guardados para os eleitos dos deuses. O Benfica constipou a velha Albion, mostrou-lhe de que massa se fazem os heróis portugueses. Jogou no campo todo, deu uma lição de classe e genialidade, essa genialidade que os ingleses, coitados, não possuem por pura perversão da genética futebolística. Essa genialidade que se ganha nas ruas do Huambo, de Chelas ou da Cedofeita. Só sofreu dois golos por manifesto azar, espécie de fado português que nos acompanha desde as trincheiras da Primeira Grande Guerra. E de bola parada, logo de bola parada, sortilégio entre os sortilégios, traição das traições, equivalente futebolístico ao golpe abaixo da cintura do boxe. A lição táctica de Koeman ao velho Ferguson ficará na memória, tal como a chama da exibição gloriosa não será extinta nem por um furacão maior do que o Katrina.
Vamos a factos, senhores, vamos a factos:
1) O Benfica perdeu face a uma equipa debilitada, uma espécie de doente com gota incapaz de se locomover como dantes.
2) Na memória, rapazes, ficam as vitórias. As derrotas meritórias valem tanto como as notas impressas pelo Alves dos Reis.
3) Os golos de livre directo e de canto têm vindo a ser aceites pela UEFA já há alguns anos. Hoje em dia, creio que contam. Mas posso investigar.
4) Quase ganhar, quase marcar, quase pontuar tem o mesmo valor que o governo de Santana Lopes, que também quase cumpriu os objectivos de Bruxelas.
Permitam-me que recupere uma história da minha meninice desportiva. Decorreu num pavilhão que prefiro omitir e ao serviço de um clube que prefiro não revelar. A época começou mal e, em dois jogos, somámos duas derrotas. Veio o terceiro jogo contra um rival de nomeada. Na palestra do final do encontro, o técnico esteve especialmente eloquente: Malta, jogámos muito bem. Controlámos as principais armas do adversário. Manietámo-lo e não o deixámos atacar como de costume. À excepção dos cinco minutos finais, o jogo esteve sempre controlado. Malta, jogámos como nunca... Mas perdemos como sempre!
À devida escala, é exactamente o que penso sobre o jogo de ontem.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Colado com Cuspo

O entusiamo variável dos adeptos do Benfica ao longo de sucessivos campeonatos geraria provavelmente um gráfico semelhante ao batimento cardíaco de um doente com arritmias. Uma derrota provoca quebras inexplicáveis do ânimo. O estádio fica deserto, abandonado por todos excepto as claques. Uma sucessão de duas vitórias despoleta ondas triunfais. O estádio volta a encher. Os adeptos recuperam a fé. E o Nuno Gomes volta a ser válido.
Este ano não fugiu à regra. À frustração de ver o plantel privado de Miguel, sem reforços de monta, somou-se o desespero de ver o apetrecho dos principais rivais. Abateu-se pois uma sombra sinistra sobre os adeptos do Benfica. Descrentes, colocaram tudo em causa – do treinador ao director desportivo, do guarda-redes ao ponta-de-lança.
Chegaram os reforços – Karagounis e Miccoli –, arrebatados no último dia do prazo, resgatados das garras de gigantes, como é próprio das lendas de cavaleiros e dragões (sem trocadilho com o FC Porto, entenda-se). Excitação ao máximo: agora é que é. Ninguém pára o Benfica. A Liga dos Campeões é nossa.
A derrota em Alvalade inverteu novamente o gráfico de confiança. O sistema de Koeman é absurdo. Nuno Gomes é um horror. Simão ficou na Luz a contragosto. Até Vieira é um cabotino. Ganha-se entretanto ao Lille, equivalente futebolístico ao suricata na cadeia alimentar do Kalahari. Aleluia! Milagre do céu! Koeman aprendeu.
Seguiram-se vitórias categóricas sobre Leiria e Penafiel, ambos abaixo da linha de água. A curva entrou em ascendente imparável, como se o doente sofresse palpitações agudas.
Amanhã, em Manchester, um eventual desaire devolverá o clube à estaca zero, amargurado, desmoralizado, descrente e contestado. Uma potencial vitória elevará Koeman à categoria de "grande feiticeiro", ou qualquer outra nobre designação inventada pelo jornal "A Bola". Não há racionalidade que aguente tamanha variação de humores, até porque, logo a seguir, vem o Guimarães, 14.º classificado (mais uma guinada para cima da curva da ilusão) e uma visita ao Estádio do Dragão (mais uma potencial guinada para baixo na escala da descrença).
Artur Jorge dizia que o Benfica é um circo. Estava enganado. O Benfica é um manicómio. E está repleto de doidos perigosos.

domingo, setembro 25, 2005

A Lista

A comissão de comemoração do centenário do Sporting reúne tamanha confusão de nomes e personalidades que, à primeira vista, parece ter sido idealizada por alguém chegado ao clube há dois dias. A própria lista de Schindler tinha mais método e organização do que esta. É que o industrial alemão poderia sempre alegar que escolheu os nomes que pôde. A direcção do Sporting elegeu os 100 nomes que quis. E o resultado foi desastroso.
Quando se apresenta um quadro desta natureza, o pior que pode suceder é a falta de transparência dos critérios que levaram à selecção. É evidente que, mesmo entre mim e o Sancho, provavelmente não chegaríamos aos mesmos nomes. Mas é essencial que não restem dúvidas de que houve ponderação e foram definidos critérios. A lista dos 100 nomes apresentados pela direcção não cumpre requisitos, nem mostra sentimento. É tão impessoal como um notário e tão fria como um caixa de um banco. É, com pena, o reflexo do Sporting actual.
Comecemos pelos erros de casting. Seguramente que os directores-gerais da Siemens (um alemão), da Coca-Cola (um espanhol) ou da IBM (um português) são excelentes pessoas, ajudam velhinhas a atravessar a rua e nunca destruíram uma área de serviço com a Juventude Leonina (ah! que memórias!). Mas a sua escolha faz tanto sentido como seleccionar Vale e Azevedo para dirigir a direcção-geral de combate ao banditismo.
Da análise que fiz aos nomes, contei 6 presidentes de bancos, 2 presidentes de grupos económicos, 2 juízes, 2 gestores, 3 economistas, 3 deputados, 6 "artistas" mais cinco actores e actrizes. Que Sporting é este? Quem representa esta gente? Fátima Lopes (apresentadora de TV), Homem Cardoso (fotógrafo) ou José-Augusto França (historiador de arte) não tiveram qualquer contacto com a vida desportiva do Sporting ou da República. São sportinguistas? Eu também e o senhor do quiosque mais ainda. Não chega como motivo para tamanha distinção. A sua inclusão desvaloriza a lista e ridiculariza os promotores.
Há também injustiças grosseiras. Mário Saldanha é presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol, mas não prestou serviços relevantes ao clube (foi um medíocre jogador júnior). Foi escolhido porquê? A lista omite personalidades do basquetebol do clube como Edgar Vital, Nélson Serra, Nuno Branco ou Augusto Baganha. A selecção desta comissão deveria ter sido feita com luvas de pelúcia. Ao invés, usaram martelo pneumático.
João Rocha foi presidente do Sporting num dos períodos mais brilhantes da história do clube. Não sou rochista (proíbo, desde já, os leitores de adicionarem um B à palavra!?!), mas reconheço-lhe mérito e devoção. A sua omissão insulta a história do clube.
O bilharista Jorge Theriaga, o atirador Armando Marques(medalhado em Montreal'76) ou o atleta Rui Silva não constam. Nem os futebolistas Carlos Xavier, Oceano, Beto ou Pedro Barbosa - todos com mais de 250 jogos no campeonato. Rui Jordão e Carlos Gomes não foram escolhidos. Carvalho e Fraguito também não. Mas houve espaço para incluir personalides da vida leonina como Jardim Gonçalves, o Dr. Karim Vakil ou a fadista Maria Armanda.

sexta-feira, setembro 23, 2005

O Sabujo

Não se lhe conhece uma ideia genuína, um pensamento original. Foi sempre aluno medíocre, cábula incorrigível não por opção, mas por ausência de alternativa. Aos 12 anos, a professora disse-lhe a frase que ele nunca esqueceu: "Mal sabes escrever, mal sabes ler, vais acabar como pedreiro." Contingências da vida fizeram-no jornalista. É quase igual. Talvez o pedreiro tenha mais honra.
Na mão, puseram-lhe um bloco e uma caneta. Faz-se importante, endireita a coluna e entra de cabeça erguida nas sedes dos clubes. Deixem-me passar, sou o senhor jornalista. Esqueceram-se de lhe moldar a consciência. Trabalho ingrato, impossível de realizar. Há gente que já nasceu torta.
Aos poucos, começou por fazer "serviços" ao seu clube. Notícias oportunas sobre transferências, publicadas em dias-chave, fosse para acalmar a turba sedenta de sangue directivo, fosse para enaltecer os heróicos esforços do senhor presidente para resgatar o jogador brasileiro das mãos dos rivais. Os colegas têm-lhe nojo, o editor olha-o com um misto de medo e subserviência. O rapaz tem contactos, tornou-se perigoso.
Uma coisa leva à outra, e começou a cobrar pelos "serviços" noticiosos. Fez uma escala de valores e ofertas, como um contabilista. Abriu o leque a outros clubes. Um homem não ganha nada se pensar só com o coração.
Os empresários adoptam-no. No seu posto, ele vale o peso em ouro. Uma notícia encomendada sobre o interesse de um clube num jogador de terceira categoria surte quase sempre o efeito. Os rivais indagam preços e condições. O preço sobe. Toda a gente ganha. Menos, claro, os cofres dos clubes, cada vez mais pobres, cada vez mais vazios.
O nosso homem, esse, mete a comissão no bolso. O passo lógico seguinte é a mudança de ramo. Um empresário conhecido, tubarão do sector, convida-o para a sua empresa de agenciamento, eufemismo para os engajadores modernos. Começa pelo futebol juvenil. Desencaminha jovens prodígios, enlouquecidos (pais incluídos) com a perspectiva de ter um empresário aos 14 anos. Um só destes meninos poderá pagar toda a operação. Inevitavelmente, começa a ganhar dinheiro, muito dinheiro.
Muda o visual. Veste fato branco listado e sapatos pretos de bico. Enche o cabelo de gel, como viu os craques fazerem. O carro desportivo faz o bairro parar para ver. Escrúpulos não tem, nem nunca teve. Aconselha uns a romper contratos; outros a pedir mais. Os clubes temem-no. Os antigos colegas olham-no com respeito. Que querem que lhes diga? É um empresário do futebol português.

Qualquer semelhança entre este texto e personagens da vida real não fará mais do que realçar o escasso talento do cronista para ocultar a realidade.

quinta-feira, setembro 22, 2005

A Escala de Barbas

O português, já se sabe, pela-se por festas. Qualquer notícia de somenos torna-se pretexto para um carnaval de dimensões desproporcionais. A rapaziada sai para a rua, buzina como se não houvesse amanhã, grita histericamente e esquece, por momentos, que o IVA aumentou três vezes em quatro anos. O futebol e o Benfica, em particular, são os melhores exemplos desta euforia esquizofrénica.
Secundados por uma imprensa tão ridícula como histérica, os adeptos do Benfica contam-se entre os mais crédulos da Criação. Quem esquece a saga de há três anos, iniciada com o Dream team, prosseguida com o Dream II e o Benfica de Ouro. Crédulos, os fiéis acorreram à Luz, ciosos do milagre de multiplicação. Em vez das rosas de D. Inês, queriam golos, muito golos. Debalde.
Tenho para mim que o adepto benfiquista representa um estádio menor de desenvolvimento cognitivo humano. Falta-lhe o gene do bom senso, que não se compra na botica. Falta-lhe o da moderação, que não abunda na farmácia. E falta-lhe o da inteligência, mas esse, amigos, remonta aos pais e demais antepassados.
Ao longo dos anos, os sócios do clube elegeram democraticamente uma legião de cabotinos para os liderar. João Santos dormitava nas assembleias gerais. Jorge de Brito vivia numa dimensão paralela com duendes e elfos misturados com golos do Eusébio. Manuel Damásio terá sido o presidente mais ingénuo que Pinto da Costa teve o gosto de deglutir. Chegou depois Vale e Azevedo, eterno ídolo para os produtores deste blogue, homem sem mácula e de pêlo na venta, dotado de visão de futuro e de imenso altruísmo na gestão da causa. Vale e Azevedo transformou para sempre a relação do Benfica com os seus credores e com a sociedade em geral, mas, como todos os grandes líderes, de Gandhi a Mandela, teve razão antes de tempo. Prenderam-no, como Gandhi e Mandela, e libertaram-no como Gandhi e Mandela. Talvez um dia ele volte para acabar o trabalho.
Quando Manuel Vilarinho tomou posse, alguns adeptos rivais temeram, resignados, o aparente regresso à normalidade do clube. De penalty em penalty, Vilarinho mostrou-lhes que não havia motivos para receios.
Luís Filipe Vieira é talvez o líder benfiquista mais parecido com Vale e Azevedo. Desperta os mesmos instintos primários, as mesmas explosões guturais, as mesmas euforias esquizofrénicas, que transformam um 12.º lugar na melhor coisa que poderia suceder ao Benfica.
Pergunta fundamental: porque votam os sócios do Benfica nestes talibãs? Para responder, preciso de introduzir um conceito revolucionário na discussão. Nestes anos todos, qual é a imagem que melhor se coaduna com o Benfica? As botas voadoras de Pacheco na final de Estugarda com o PSV? O penalty falhado de Veloso no mesmo jogo? O sorriso resignado de Enke em Vigo, depois de fazer sete vezes a mesma viagem ao fundo da baliza? As imagens de Vale e Azevedo em prisão domiciliária? O iate Lucky me? Não, amigos, a imagem que melhor descreve o Benfica é o Barbas de cócoras no dia da inauguração do novo estádio, deglutindo garbosamente pedaços de relva para "exemplificar aos jogadores o que é o Benfica".
Os terramotos têm escalas de Richter e Mercalli para medir a intensidade e a magnitude. Eu proponho a escala de Barbas para medir o benfiquismo. O taxista Jorge Máximo, homem que se exalta nas assembleias gerais, merece claramente um 10 na escala de Barbas. O moderado Toni, sempre pronto a ver mérito no adversário, merece um 3. E por aí adiante.
Regressando à pergunta original, porque votam os sócios nestes dirigentes? Porque maioritariamente o sócio do Benfica merece entre 8 e 10 na escala de Barbas. De certa forma, o Barbas é o Benfica. E isso diz quase tudo.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Record de alarvidades

O jornal Record da passada terça-feira foi um primor, o exemplo perfeito da coerência e da isenção. Na capa, titulava a letras garrafais "Benfica ganhou 7 pontos aos rivais". Uau, e apenas num fim-de-semana! Fantástico! Ora, se antes da jornada o Benfica se encontrava a 8 pontos dos primeiros, então, com esta notável recordação, devia estar em segundo lugar, a apenas um ponto do líder. Conformado, fui confirmar a classificação e fiquei baralhado... Não, afinal o Benfica encontrava-se num modesto 12.º lugar, à distância de 6 pontos dos líderes.
Depois, na crónica ao jogo do Nacional-Sporting, João Cartaxana ufanava-se de escrever, mais que uma vez, que o Sporting não tem estofo de campeão. O que raio é isso? Será que o Benfica da época passada alguma vez teve estofo de campeão? Pois... Só espero é que este veredicto do sr. Cartaxana seja tão profético como da mesma vez em que escreveu, já lá vão alguns anos, que Iordanov era um jogador tão paupérrimo que nem sequer tinha lugar em qualquer equipa da II Divisão B. Oxalá se cumpra a profecia.

Ódios de estimação

Odeio gregos. E não estou a falar, meramente, no que diz respeito ao futebol. Provavelmente, tudo começou há uns anitos quando uma infeliz viagem de inter-rail me levou até aquelas paragens. Julgam que a Grécia é bonita? Risquem imediatamente esse país do vosso mapa de férias! Atenas é provavelmente a cidade mais feia do Mundo (e já estou a contar com Beirute), as praias são horríveis (queriam areais clarinhos? Tomem lá umas pedras redondas e sujas e estiquem a toalha), e até as ilhas Cíclades são desprezíveis (excepto quando já se está encharcado na aguardente Ouzo, uma zurrapa inacreditável, que nos leva a tal estado de alteração que até o que é feio parece bonito). Nem as gregas que conheci eram agradáveis: feias, gordas, mas vestidas e mal despidas, e que se davam ao desplante de vomitar palavras em grego. Acho, sinceramente, que essa tal de Helena de Tróia era tudo menos grega. Fazendo fé nos relatos homéricos, a sua beleza estonteante deveria ser proveniente dos seus antepassados portugueses ou do Quirguizistão.
Bom, se a Grécia cedo começou a fazer parte dos meus ódios pessoais de estimação, tudo se agravou quando a sua maléfica influência se alastrou ao futebol. Nunca gostei de nada qua acabasse em "akos" ou "aikos", sejam Panathin ou Olympi, mas já tudo o que meta Panionios me traz gratas recordações. Mas, acima de tudo, fiquei verde de raiva quando não só perdemos o primeiro jogo do último Europeu, como aquela miserável equipa azul e branca afastou selecções de futebol simpático, como foi o caso da França (bem, até deu algum gozo ver os pedantes franceses porta fora) e, sobretudo, da República Checa. Quanto à final, nem quero pensar. Não existiu. É um mito, e os gregos ainda acreditam que são os piores campeões europeus da história do futebol.
Mas passemos aos jogadores, melhor, aos aprendizes de chuto na bola. Se a memória não me falha, já por cá passaram coisas hediondas que davam pelos nomes de Machairidis (sim senhor, muito bom...), Nalitzis (só fez duas coisas de jeito na vida: marcar um golo pelo Sporting e desaparecer daqui para fora) e, na última época, a suprema traição - o Benfica deu-se ao desplante de contratar Fyssas, o que foi uma verdadeira alegria para os adversários. Mas este foi-se embora com uma mão à frente e outra atrás, e pensei: "Até que enfim, foi-se o grego".
Mas não. Para manchar ainda mais a honra do país, o Benfica renovou o crime e anunciou, devidamente apadrinhado pela corrupta e infâme imprensa desportiva nacional, uma nova contratação grega - Karagounis. E eis, então, o meus mais recente ódio de estimação pessoal. A karagounis, desejo tudo de mal. Que vá e não regresse. De preferência com uma mão à frente e outra atrás.

Agoiro, parte II

Foi com alguma surpresa e relativa incredibilidade que deparei com a traição do meu parceiro de blogue. Com efeito, estive ausente durante uma semana em missão de espionagem - observei, "in loco", a goleada que o Lille espetou ao Nice (atenção, este Lille promete fazer miséria quando receber o Benfica, pelos argumentos que mostrou face a esse monstro que é o Nice) - e não é que, quando dou uma espiadela no blogue, aparece-me um inenarrável post inttulado "O agoiro". Durante minutos, interroguei-me sobre quem seria esse agoiro, mas rapidamente, face aos factos relatados, que era a minha pessoa que estava a ser comentada. Abri a boca de espanto, esfreguei os olhos e não consegui calar a revolta que tomou conta de mim. Como não gosto de ser tão viperinamente denegrido, e como reza o ditado "quem não sente não é filho de boa gente", julgo-me no direito de resposta antes que as calúnias do Bulhão incendeem a bancada que costumo ocupar.
Admito, antes do mais, que assisti ao vivo ou via TV a alguns descalabros do clube, mas porque serei eu o bode expiatório de tudo o que mau acontece? Podemos não ser 6 milhões, mas quantos milhões não assistiram, também, a algumas frustrações colectivas? Relembro, até, que já assisti à conquista de cinco títulos do meu clube - o da primeira liga, não aqueles do quais sou acérrimo adepto mas que militam na segunda B -, além de umas tacitas de Portugal e umas supertaças. Mais: nasci no ano em que o clube conquistou uma taça europeia (será que isto também é agoiro?!). Admito, porém, que durante algumas das minhas ausências do país, a equipa adregou vitórias sonantes, mas será por isso que mereço a fogueira inquisitória? Não meus amigos, no futebol, as coisas acontecem a maior parte das vezes por mera coincidência... Culpem, antes, os verdadeiros agoiros: alguns jogadores, treinadores, administradores, Olegários Benquerenças, Paulos Costas, Antónios Costas, Paulos Paratys e os distintos membros da Liga e Conselho de Arbitragem. E, até, o meu colega bloguista Bulhão Pato. Eu, pelo menos, não me vanglorio de ter defendido com indisfarçável orgulho a camisola de um clube rival.

O Agoiro

Não acredito em azar no futebol. Uma equipa ou é válida ou composta por inválidos. Ao presidente, cabe contratar jogadores de qualidade ou seduzir semanalmente o trio de arbitragem com moldavas prodigiosas ou duetos de cabeleireiras que visitem hóteis. Para mim, tanto me faz, como diriam os sexualmente duvidosos DZRT. Há quem queira jogar bem e há quem esteja farto de notícias más.
Dito isto, e mesmo levando em conta que não sou supersticioso, há pequenas rotinas que têm de ser introduzidas em dias de jogo. A camisa e os sapatos da sorte são indispensáveis. Fazer passar a marcha do clube três vezes no leitor de CD do carro é obrigatório. De resto, pouco mais. Sair do carro com o pé direito, subir a escadaria do estádio com cuidado para, de vinte em vinte passos, pisar o degrau com o pé esquerdo. Cumprimentar a primeira pessoa que encontro no segundo anel com a exclamação: "Os gajos são difíceis, hein!?!" Enfim, os pequenos tiques que todos temos e que são decisivos para o resultado final do jogo.
No domínio da superstição, há poucas coisas piores do que ouvir alguém dizer: "Isto é canja!" ou "Aquele gajo não joga nada!". É mais que certo que a canja vai azedar e o trauliteiro citado vai marcar dois golos de antologia. A mística do futebol tem muito a ver com a do teatro. Excepto talvez que, quando alguém grita "Parte uma perna", não está seguramente a desejar boa sorte ao rival. Sobretudo se o berro for dirigido ao Simão Sabrosa.
Depois, há os amigos. Aqueles que dão sorte e os outros, os que inquinam a engrenagem. O Sancho Urraco, colega neste blogue, pertence ao segundo grupo. É o típico amuleto que, só pela sua presença, faz secar um oásis no deserto. Todas as vitórias de que me lembro foram registadas na sua (abençoada) ausência. As derrotas, essas, foram sempre observadas lado a lado: unhas roídas, sofrimento agudo, os minutos que passam, o golo que tarda. Ao longo destes anos, a mera presença do Sancho fez brilhar nomes tão sonantes como Mangonga (Gil Vicente), Mauro (P. Ferreira) ou Nandinho (Alverca). A lista de adversários europeus bem sucedidos é maior do que a dos administradores públicos já nomeados pelo Sócrates. E o Sancho, alheio à realidade incontornável, continua impávido, convencido de que não é ele o agoiro. Diz, com descaramento, que não tem culpa e que a superstição é o refúgio dos tolinhos.
Gasta o clube uma fortuna para contratar reforços e mais valia que contratasse um padre (o Melícias não, por favor) para o exorcizar!
Este fim de semana, o Sancho repetiu a gracinha e chegou de viagem mais cedo do que o previsto. Apeteceu-me esmurrá-lo, desejo legítimo e comum à maioria dos adeptos do meu sector, se soubesse do historial da personagem. É por estas e por outras que tenho pena que a figura jurídica do auto-de-fé tenha desaparecido precocemente do nosso código penal. Queimava-se o Sancho e, já agora, o presidente e o treinador para poupar lenha. E a vida voltaria à normalidade.

terça-feira, setembro 20, 2005

O Pé-Frio

José Peseiro é aquilo a que os brasileiros chamam um pé-frio. Ele chega, bem-disposto, risonho, repleto de fair-play, mas, na hora da verdade, comporta-se como o Secretário no estágio da selecção.
Nos jogos de recreio, reminiscências da meninice desportiva, Peseiro era seguramente aquele que ninguém queria na equipa. Não necessariamente pela falta de jeito ou talento. Nesse aspecto, ele é igual a muitos. Simplesmente, Peseiro tem a rara qualidade de perder jogos decisivos. Mal cheira a decisão, o homem mete os pés pelas mãos, abre o manual do pequeno cobarde e perde. Perde irremediavelmente. No rosto, preserva aquela imagem de caniche ensopado, muito triste, muito resignado. O azar, o adversário, os elementos físicos. Ó injustiça suprema! A lista de justificações é interminável.
Peseiro é o tipo de general que perde as batalhas decisivas. Quando a Armada Invencivel luso-espanhola perdeu contra a frota anglo-holandesa tinha seguramente um antepassado de Peseiro a gerir as operações. E seguramente que, nesse triste dia, também estava vento. Também houve azar (aquela bala de canhão que passou mesmo a rasar o navio-almirante). O adversário tinha-nos estudado bem e teve a estrelinha da sorte. Mas, para a história, o que fica é a derrota da Armada Invencível. Ou de Peseiro.
Infelizmente para Peseiro e para o Sporting, o campeonato não se faz só de jogos sem consequências. De vez em quando, é preciso ganhar para passar para a frente. Parece óbvio, hoje, depois dos desaires com o Benfica (para a Taça de Portugal), com o Nacional, Penafiel, Belenenses e Benfica outra vez (para o campeonato do ano passado), com o CSKA (para a Taça UEFA) e com o Nacional (já este ano), que Peseiro nunca será líder do campeonato. Nos dias decisivos, ele treme como gelatina e perde-se em hesitações. Sorri, nervoso, enquanto olha para os jogadores em aquecimento. É lento a tomar opções. Entrega ao sortilégio dos deuses a sua sorte desportiva. E perde, claro.
À quarta jornada, tem o Sporting a oportunidade de chicotear valentemente o seu pé-frio e contratar alguém que não trema perante craques como André Pinto ou Alexandre Goulart. Desenganem-se os sportinguistas: tudo o que Sporting possa ganhar este ano será sempre apesar de Peseiro.

sábado, setembro 17, 2005

Exéquias por Nuno Gomes

Nuno Gomes é um enigma. Observo jogos antigos na RTP Memória e o ponta-de-lança parecia mais solto, mais intuitivo e sobretudo mais goleador. Os números não mentem: no Boavista, entre 1994 e 1997, o avançado marcou 23 golos. Na primeira passagem pelo Benfica, entre 1997 e 2000, apontou 60 (à média de 20 por época). O próprio Euro'2000 mostrou um Nuno Gomes invulgarmente concretizador: quatro golos - e que golos! - em cinco jogos valeram-lhe a transferência para Itália. Na minha opinião, foi o ano 2000 que marcou a perda progressiva de qualidades do actual ponta-de-lança do Benfica.
Em dois anos na série A italiana, marcou 14 golos (à média de 7 por ano). Regressou ao Benfica em 2002, entre coros de Dream Teams, galácticos portugueses e outras palermices. Marcou respectivamente 9, 7 e 7 golos em três épocas. Uma miséria, sobretudo, porque o ponta-de-lança de um «grande» tem de valer objectivamente pelo menos quinze golos. Caso contrário, é um desperdício de dinheiro, de espaço e de ar para respirar.
Hoje em dia, Nuno Gomes é uma sombra do jogador que já foi. Continua a movimentar-se com conhecimento (há poucos pontas-de-lança com a sua inteligência estratégica), mas dá sempre a ideia de chegar tarde aos lances, de executar um segundo mais tarde, de chegar ligeiramente depois do defesa. O que mudou então em Nuno Gomes?
Em primeiro lugar, a ausência de João Vieira Pinto (JVP). Nos anos mais produtivos da carreira do ponta-de-lança, Gomes contou sempre com dez assistências em média por época de JVP. Com a sua saída para Florença e a partida de JVP para Alvalade, Gomes perdeu a muleta que o suportava.
Julgo também que Nuno Gomes não pode jogar isolado, quase perdido entre os centrais. Amparado por Jimmy Hasselbaink ou Brian Deane, Gomes teve bons resultados. Municiado por Zahovic, Drulovic ou Nuno Assis, Gomes torna-se uma pistola sem balas - praticamente inofensivo. Duvido aliás que Miccoli seja a solução ideal para reabilitar Nuno Gomes. O avançado precisa de músculo ao seu lado, de alguém que o ajude a desfazer progressivamente a defesa contrária e de alguém que provoque desequilíbrios. O italiano não é seguramente esse homem, embora possa vir a ser útil ao Benfica.
Aos poucos, Nuno Gomes foi perdendo espaço na selecção. Pauleta é indiscutivelmente mais eficaz. Postiga tem um registo incrível ao serviço da selecção (quase um golo a cada dois jogos). E mesmo Hugo Almeida e Romeu parecem dar mais opções a Scolari do que o avançado do Benfica.
Como Tomislav Ivic disse em tempos a Fernando Gomes, Nuno Gomes é finito. Que descanse em paz.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Rotatividade e o troglodita

O princípio da rotatividade numa equipa de futebol é mais fácil de enunciar do que levar à prática. No papel, parece lógico que José Peseiro tenha abdicado de Liedson, Edson, Beto e Douala (por lesão) e Sá Pinto e Rogério (por opção), depois do desgastante jogo de sábado. Pela frente, tinha uma equipa paupérrima, do pior que anda na Taça UEFA, pelo que o risco seria sempre residual. A aplicação prática da noção, porém, é assustadora e tem como resultado a exibição grosseira que o Sporting realizou na Suécia.
A Miguel Garcia faltam pernas e discernimento. A Deivid falta talento. A Pinilla falta calma. A Varela e Nani falta experiência. A Silva... falta tudo. No século XIX, quando Darwin apresentou as bases do evolucionismo, houve quem contestasse o alegado parentesco do ser humano com os restantes primatas. Quem vê Silva em luta contra o relvado, contra a bola, contra os adversários e contra o atrito do ar, perde todas as dúvidas. Descendemos realmente de uma forma rudimentar de primata, como aliás o comprova a numerosa falange de apoio que compõe o Estádio da Luz regularmente!
Peseiro comporta-se como um jogador de cartas, que faz bluff sem ter jogo que o suporte. Hoje, a ameaça correu bem perante os ingénuos da Suécia. Esperemos que a rotatividade seja definitivamente metida num saco e lançada ao mar. De preferência, com o Silva lá dentro!

P.S.: Parabéns ao Sp. Braga, V. Setúbal e V. Guimarães pelos resultados positivos alcançados hoje.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Vale a pena ler

- Benfica e Salazar. Ver o post da Tasca do Lagarto.

- Júlio Magalhães da TVI: Oh Júlio, e se fosses bardamerda. Ver no Simplesmente Sporting.

A Máxima de Toschack

Depois de perder um jogo ao leme do Real Madrid, John Toshack não se conteve e lamentou que os onze jogadores da sua equipa se assemelhassem a um pelotão de galinhas às quais tivessem sido cortadas recentemente as respectivas cabeças, tamanha era a desordem dentro de campo. A sensação foi a mesma depois de observar o Benfica-Lille. Vinte e duas galinhas recentemente degoladas avançavam e recuavam a despropósito, sem noção de posicionamento ou estratégia, dispensando os meios-campos de participar no jogo e fazendo lema do "p'ra frente e logo se vê". Exemplo acabado dessa lógica foi Nuno Gomes, ponta-de-lança do pior que o Benfica já teve e cuja missão se resume a ganhar livres directos à entrada da área. Ganhou um ontem, pelo que antecipo uma nota positiva em "A Bola" e "Record" de amanhã.
Ganhou o Benfica com um belo golo, arrancado nos descontos e que puniu os bons rapazes franceses, equipa pobre, pobrezinha, que veio à Luz para empatar a zero. A Oliveirense, em jogo da Taça de Portugal do ano passado, fez mais na Luz do que este Lille, com a agravante de ter sofrido três penalties (!) no mesmo jogo.
Do jogo, pouco mais há a dizer. Benfica e Lille disputarão seguramente o terceiro lugar do grupo, em busca de uma vaga na Taça UEFA. Que ganhe pois a galinha acéfala mais coordenada.

O Passarão

Já reparou o estimado leitor na gradação aplicada à avaliação dos golos sofridos por guarda-redes portugueses? Ricardo concede frangos. Moreira comete lapsos. Baía, esse, só sofre golos.
No jogo com o Rangers, qualquer alma bem intencionada admitiria que o segundo golo nasce de um erro infantil do guarda-redes dos «dragões». Foi o réplica do golo de Luisão no final do campeonato passado. Houve falta, claro, porque o contacto, embora mínimo, existiu. Mas é evidente que o lance poderia ter sido evitado se Baía (e Ricardo) tivesse(m) saído a soco da baliza. Prso e a bola teriam sido projectados a vários metros de distância, e o FC Porto teria saído incólume.
No terceiro golo, Baía usou a chamada estratégia Ivkovic. Ao cabeceamento do grego correspondeu uma defesa vistosa com os olhos. Baía não perdeu de vista a bola nem por décimas de segundo. Acompanhou-a desde a cabeça do grego até ao poste e ao fundo da baliza. Digo eu, que percebo pouco disto, que talvez tivesse sido positiva uma estirada, um passo à direita, enfim, qualquer réstia de movimento que costuma caracterizar a maioria dos mamíferos. Mas Baía fez de homem-estátua. Não está mal.
Claro está que os comentários televisivos foram extremamente pedagógicos, carregando as culpas sobre a defesa (essa entidade difusa e colectiva) e exonerando o número 99 do FC Porto.
Que se publique em "Diário da República": Está desde já interdita qualquer manifestação crítica ao comportamento desportivo de Vítor Baía. Os elevados serviços prestados ao futebol português dispensam-no da responsabilidade leviana de defender pontualmente este ou aquele remate. Cumpram-se estas disposições a partir de hoje.

terça-feira, setembro 13, 2005

Protesto Televisivo

Sou assinante da SportTV há sete anos porque sou um amante do fenómeno desportivo e, em particular de futebol. Até agora, a SportTV tem sido caracterizada por um elevado padrão de qualidade nas suas transmissões, o que tem justificado a minha manutenção como assinante.
Jogos das ligas inglesa, italiana, espanhola e jogos de top do futebol nacional sustentam a minha opinião. No entanto, fui informado que a SportTV tenciona transmitir no próximo fim-de-semana um jogo que opõe os dois últimos classificados da Liga portuguesa (Benfica e União de Leiria), o que considero um atentado aos padrões anteriormente definidos pela estação, em que a selecção de jogos com equipas de top era o garante da qualidade das transmissões. O que se seguirá? Um Desportivo de Chaves - Moreirense? Um Desportivo das Aves - Portimonense? Ou um Sandinenses-Caçadores das Taipas?

Pensamento do Dia

O piloto Tiago Monteiro tem mais pontos do que o Benfica…

segunda-feira, setembro 12, 2005

Alucinação

Terei ouvido mal ou Rui Meireles, administrador da SAD do Sporting, elogiou o comportamento das claques do clube depois do jogo com o Benfica?
Das três, uma:
1) Rui Meireles é um perito em ironia e sarcasmo e, ao elogiar, criticou os pequenos vândalos que se sentaram nos dois topos do estádio.
2) Rui Meireles é um perigoso esquizofrénico, que vive noutra realidade e vai perdendo gradualmente o contacto com a Terra. Colocar-se-ia neste caso a hipótese de Rui Meireles ser um extraterrestre infiltrado nas fileiras terrestres, o que certamente explicaria as dispensas de Rui Jorge e Pedro Barbosa e a venda de Rochemback.
3) Rui Meireles viveu na juventude em Beirute e o rebentamento regular de petardos e fumos evocou os seus tempos joviais de meninice passada no Líbano? Ó tempo que não voltas para trás.

Escolha o leitor a alternativa certa.

domingo, setembro 11, 2005

Hipocrisias

Os comentários da imprensa desportiva ao recente Sporting-Benfica são um exemplo clássico da táctica do camaleão: perante a força dos factos, modificam-se convicções expressas de véspera e, por vezes, engolem-se sapos do tamanho de um estádio.
Olhemos por exemplo para o "Record". No sábado, nas páginas da revista "Dez", o excelso ex-director-e-omnipresente João Marcelino opinava que qualquer equipa que dependa de Tello, seja para que posição fosse, estaria condenada a sucumbir, porque o chileno é - e aqui cito de memória - um caso perdido. Até subscrevo a opinião, mas tenho o cuidado de não a deixar impressa: é que o cruzamento de Tello para o segundo golo do Sporting deve ter interrompido a digestão ao agora director do "Correio da Manhã". Ironicamente, o jornal considerou Tello a figura do encontro.
O jornal fora também o único a antecipar a titularidade de Wender em detrimento de Deivid. Uma falha por antecipação agravada pelo facto de os dois rivais de imprensa terem acertado o «onze» do Sporting. Aplicando linguagem da batalha naval, um gigantesco tiro na água.
Passemos ao jornal "A Bola", publicação virtuosa entre os virtuosos. Em crónica do director Vítor Serpa, escreve o jornal que o árbitro deveria ter expulso Luís Loureiro pelo mesmo critério que usaria mais tarde na expulsão de Ricardo Rocha. Confesso que li e reli. Pensei que fosse brincadeira, mas, pelo vistos, a gaffe saiu impressa. Mais cuidado na próxima vez porque, por momentos, pensei que de facto "A Bola" assim pensava.
Na avaliação individual de Moreira, não pude deixar de sorrir com o menosprezo que o jornal dedicou à falha grave do guarda-redes na primeira fase do jogo, saindo em falso da baliza e quase custando um golo. "Uma pequena falha não mancha a bela exibição". Se fossem outros a falhar...
No norte, "O Jogo" escondeu a cara e esforçou-se por esquecer que anunciara pomposamente a titularidade de Nuno Gomes e Léo. Sobre o erro, nem uma palavra...

sexta-feira, setembro 09, 2005

Monstro Sagrado

Chateiam-me os consensos nacionais, a imbecilidade levada ao extremo colectivo. Em ano de Campeonato do Mundo, toda a boa gente tem de apaparicar a selecção brasileira, em nome da relação histórica com o país irmão. Nas competições europeias, moem-nos o juízo com os apelos ao civismo desportivo e ao respeito pelas cores nacionais. Quando havia brasileiros na Fórmula 1 (Barrichello não conta, tenham paciência), queriam que puxássemos por Piquet e Senna. Eu até puxei - vai em frente, Senna! Agora, é o Chelsea que se tornou desígnio nacional e não há jogo transmitido pela Sportv que não inclua um chorrilho de palermices sobre o clube mais português da Premier League. Patetices! Tenho mais afinidade com o Middlesbrough de Doriva e Rochemback do que com o Chelsea de Mourinho, Ferreira e Carvalho. O Chelsea é tão português como o caviar Beluga é de Castro Marim.
O supremo desígnio nacional chama-se Eusébio da Silva Ferreira. Não há quem o conteste. Eusébio não participa na sessão de fotografia do plantel do Benfica porque estava a curar uma ressaca, e a ausência é branqueada. Eusébio chega atrasado à concentração da selecção, e ainda o aplaudem. Eusébio assiste, tremelicando, ao Rússia-Portugal e chamam-lhe embaixador do futebol português e monstro sagrado. Lá monstro ele é. O resto fica ao critério de cada um.
Defendo a tese que Figo é melhor do que Eusébio alguma vez foi. Soma mais internacionalizações pela selecção e participou em mais fases finais do que o moçambicano (Euros'96, '00 e '04 e Mundial'02 versus Mundial'66). Jogou em duas equipas de primeiro plano do futebol mundial e aguentou-se dez anos na Liga Espanhola, sem quebras de rendimento. Quando o dão por finito, reforça o Inter de Milão, terceiro gigante em onze anos de carreira internacional.
Em contrapartida, Eusébio deixou-se ficar pelo comodismo do Benfica. Em 1963, com duas Taças dos Clubes Campeões Europeus, Eusébio tinha duas opções: partia para Espanha e Itália e tornava-se uma estrela planetária ou ficava por cá, pelo conforto da Liga Portuguesa, medindo forças com o Beira-Mar e o União de Tomar. Ganhou uma Bola de Ouro? Também Figo. Ganhou campeonatos? Também Figo. Carregou a selecção às costas? Figo fê-lo durante mais anos e com melhores resultados. Eusébio teve o ponto alto na reviravolta com a Coreia do Norte em 1966 (5-3). Figo viveu-a com a reviravolta face à Inglaterra (3-2).
Provavelmente, Figo nunca será reconhecido como principal figura do futebol português. É mais confortável apaparicar Eusébio, o tal que precisou de vinte takes para gravar o spot de um electrodoméstico em 1986. O tal que não consegue articular duas frases seguidas de manhã e à tarde já só consegue dizer: "Mais um gin?" O tal que é inconveniente e maçador, insistindo em relativizar tudo porque também lhe aconteceu a ele - Ronaldo perdeu o pai. Ele também perdeu a mãe. A selecção perdeu na Coreia. Ele também perdeu em Inglaterra. Mantorras tem um joelho de metal? Ele também teve um que apitava nos detectores do aeroporto.
Façam um favor ao país e deixem de levar o monstro sagrado nas digressões da selecção. O rei está morto. Longa vida ao novo rei, Luís I.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Coincidências

1) Espantosa coincidência, esta, promovida pela administração fiscal nacional, que não encontrou melhor hora para exercer o seu peso do que a semana do Sporting-Benfica. Ora aí está a legião de cobradores de impostos mobilizada para congelar contas bancárias de um dos rivais em contenda. Eu, que tenho dívidas ao Fisco desde 1998, continuo sem receber notificação. O presidente Luís Filipe Vieira e o seu replandescente negócio de pneus insuflados também não. E ainda há o caso de Vítor Santos, ex-dirigente do Benfica, que se gabou à revista "Focus" de declarar o mínimo de vencimentos para não ser taxado pelo Governo da República. É certo que a justiça é cega em Portugal, mas, se encaminhada na direcção certa, ela lá se equilibra.
2) Já nem é preciso fazer cálculos. É mais certo que o destino: quando chega a semana do "derby", Dias da Cunha fala de árbitros, de cabalas, de corrupções e outros desvarios. Uma pergunta apenas: se os árbitros são todos maus, quem escolheria o presidente do Sporting para arbitrar o jogo de sábado, se se movimentasse na Liga com a mesma desenvoltura da direcção do Benfica?
3) Haverá algum jogo em Alvalade que o Petit finalmente jogue? Mal o calendário se aproxima do "derby", lá vai mais um joelho, um cotovelo, um tornozelo ou uma unha encravada. Tanto medo pode ser contagiante.
4) Arames por arames, não deixa de ser curioso que o central Beto, aos 28 anos, já só esteja apto para jogar um encontro de cada vez. É impressão minha ou o departamento médico do Sporting parece o meu médico de família: quer mais uma semana de baixa? Com certeza.
5) Conseguirá o médio Luís Loureiro terminar um jogo que seja sem receber um cartão amarelo? Já lá vão três jogos oficiais disputados e Loureiro soma três amarelos.
6) Continua a saga de Mantorras, que já aguentou cinco meses sem se lesionar. Desde que não chova no sábado, o angolano terá vida facilitada. Se cair água, é bem possível que as centenas de componentes metálicas do seu joelho se ressintam e enferrujem.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Mourinho, artista português

José Mourinho é o maior bluff do futebol português. Digo-o com a convicção das coisas evidentes. Em primeiro lugar, o treinador do Chelsea falhou redondamente como tradutor. Ao fim de ano e meio no Sporting e mais dois no FC Porto, Bobby Robson falava tanto português como no dia em que chegara. Qualquer bife que cá viva mais do que dois meses já sabe articular a língua de Camões. Robson não.
Fizeram-no treinador adjunto. Rapaz simples, sem ambições desmedidas, rapidamente deu a facada em Manuel Fernandes e em Augusto Inácio, colegas adjuntos do simpático inglês. Seguiu para Barcelona, onde teve a honra de guardar a bola no final dos treinos de Robson e Van Gaal. Suprema honra. Aprendeu imenso.
Um dia, o doido perigoso que comandou os destinos do Benfica resolveu entregar-lhe o comando da equipa de futebol. Em poucos meses, Mourinho acumulou sucessos: tornou-se o primeiro português eliminado pelo Halmstads da Suécia, equipa poderosa e de nome feito na Europa do futebol. Acumulou outras honrarias, como o mérito de ter sido o primeiro a perder por 3-0 no Funchal. Ganhou um jogo e agigantou-se. Quis mundos e fundos. Foi corrido, pois claro.
Aceitaram-no em Leiria. Seguiu certinho, ao leme de uma equipa construída por Manuel José, que não teve receio de lhe chamar Tarzan. Quando as coisas começaram a doer, pisgou-se para o FC POrto. Mesmo a tempo de evitar uma goleada em Allvalade (4-1). Não foi culpa dele, disseram os senhores dos jornais. Claro que não. Cinco dias depois da sua saída, já a equipa estava descaracterizada.
No FC Porto, pegou na equipa pelos cornos (sem piada). Sofreu três no Restelo, mais três em casa do Beira-Mar. Uma alegria. No ano seguinte, beneficiou do caos do Sporting pós-Jardel e do Benfica de Jesualdo, o tal que conseguiu perder em casa com o Gondomar. Foi campeão, claro, por exclusão de hipóteses.
Mais um título obtido no ano seguinte, esmagando mortos e beneficiando dos campos inclinados para o outro lado. Tornou-se popular com o episódio da camisa rasgada de Rui Jorge. Leviana mentira.
Em Londres, fez uma lista de compras astronómicas, paga, sem pestanejar, por Abramahovich. Com tantos recursos, menos do que o título não seria de esperar. Mesmo assim, logrou perder a Taça de Inglaterra e a Liga dos Campeões. Este ano, perderá mais.
Em traços largos, eis o currículo do maior mito do futebol nacional. Baixem as corcundas e tirem o chapéu. Cumprimentem-no com subserviência. Eis Mourinho, o tonto que subitamente foi levado a sério.

P.S.: Desde já me comprometo solenemente a descer a Rua do Carmo a fazer a roda enquanto canto A Marselhesa se Mourinho ganhar qualquer troféu esta época. E a supertaça não conta...

terça-feira, setembro 06, 2005

Tripas à moda do Porto

Por estes dias, tenho lido a aventura literária de Jorge Nuno Pinto da Costa - "Largos Dias Têm Cem Anos". Admito que a circunstância feliz de o livro não ter sido escrito por Luís Miguel Pereira pesou seguramente na opção de compra. Ao contrário das obras lendárias redigidas pelo apresentador da Sportv, a autobiografia do presidente do FC Porto está devidamente pontuada. Os advérbios de modo, por estranho que pareça, não estão acentuados. As frases, essas, começam e acabam no mesmo tempo verbal. Nos tempos que correm, já não é nada mau.
O livro, em si, mais não é do que o longo desfiar de razões que levaram Pinto da Costa (PC) a penosamente aceitar a sua primeira candidatura a presidente dos "dragões". E a segunda. E a terceira. A quarta. E por aí adiante. Sempre reticente, sempre desejoso de partir, PC foi ostensivamente convencido a ficar por vagas de fundo de adeptos. Como Cristo, PC quis partir depois da missão cumprida. Mas há sempre mais um leproso a curar, mais um filisteu a punir. E PC ficou, amargurado.
Dito isto, confesso que fiquei com a sensação de que o estado clínico do presidente do FCP é pior do que o esperado - PC não está senil, como José Veiga teima invariavelmente em acusar. Ao invés, o presidente dos "azuis e brancos" desenvolveu um caso agudo de memória selectiva, patologia que se traduz na conjugação de recordações precisas de incidentes inocentes ocorridos há 20 anos com o esquecimento ostensivo de casos embaraçosos passados há dias.
Um exemplo: PC queixa-se do golpe baixo que o Sporting de João Rocha lhe infligiu, quando resgatou Jaime Pacheco e Sousa invocando "motivos psicológicos" - lacuna que a lei então vigente permitia. PC discorre detalhadamente sobre esse golpe traiçoeiro, mas esquece que se socorreu dele para recrutar Inácio, Eurico e Futre (ao Sporting) e Rui Águas e Dito (ao Benfica). E, já agora, que o "roubo" de Zahovic ao V. Guimarães foi igualmente clandestino e tão ou mais imoral.
Queixa-se também que um árbitro seguiu na comitiva oficial do Sporting à China em 1980, dias depois de ter apitado jogos decisivos do campeonato que os "leões" ganharam ao FC POrto. O remoque é apropriado, sobretudo para o dirigente da colectividade cuja tesouraria pagou a viagem de Carlos Calheiros ao Brasil em 1995.
Em mais de trezentas páginas, o presidente (que aborda com eloquência e pormenor títulos impressionantes das secções de bilhar e andebol) não se lembra dos casos judiciais em que esteve envolvido. Nem o caso Paula. Nem o caso Calheiros. Nem o Apito Dourado. Nada. Apesar de Pinto da Costa somar mais tempo de detenção para interrogatório do que alguns dos suspeitos dos casos Casa Pia ou FP-25, a memória apaga-se-lhe e a visão tolda-se-lhe. Como um árbitro em dia de clássico...

segunda-feira, setembro 05, 2005

Livro de Estilo da Queimada

Confesso que aprendo imenso com a leitura de "A Bola". É lugar-comum que "A Bola" foi escola de jornalismo e de escrita polida; Bíblia do desporto e barómetro da isenção; Balança do equilíbrio e pulsar do futebol nacional.
Na semana passada, a Bíblia do Desporto presenteou-nos com novas formas de conceber o jornalismo, inovando como sempre o faz e fazendo escola.
Na quarta-feira, "A Bola" inventou um novo estilo de títulos - o título com asterisco. À manchete Liverpool em Lisboa para levar Simão *, juntava o jornal a intrigante marca de pontuação. Para quem seguisse o asterisco, encontrava depois o desenvolvimento: Intensas negociações com Filipe Vieira ainda decorriam de madrugada.
Não contente com isso, o jornal da Queimada inventou na sexta-feira o título-parênteses-recto.
À manchete Atenção, o jornal fazia corresponder posteriormente a informação: (Um dia, Simão vai sair do Benfica).
Considero, sim senhor, que o jornalismo é reinventado regularmente, como aliás concebe Jean Chalaby em obra recente, mas, caramba, escusava de ser todos os dias! Algumas sugestões ao cuidado da equipa de "A Bola":
- O título-ponto-e-vírgula: Scolari gosta da selecção; mas também gosta do Corinthians.
- O título-cifrão: Veiga e Simão gostam muito de $$$
- O título-sem-título: Basta colocar um borrão de tinta vermelha na capa, e o jornal é vendido de qualquer maneira.

Assim como assim, dou a mão à palmatória. Tudo é melhor do que sugerir, em manchete, que Tyson é do Benfica. Quem falta a seguir? Capitão Roby é adepto do Eusébio? Carlos Cruz gosta do pequeno Simão? Ou, melhor ainda: Paris Hilton despe-se*


* pelo Benfica

A grande contratação do Benfica

O último dia de contratações foi uma azáfama. Além de uns quantos moldavos, azeris e belizianos contratados por clubes de menor dimensão, os "grandes" não tiveram mãos a medir. O FC Porto foi buscar um desconhecido "muita bom" ao Sparta de Praga, o Sporting descobriu um filão em Braga (sim, esses mesmos, que levaram três "secos" do Pinilla) e o Benfica (uff, finalmente!) lá conseguiu contratar 3 jogadores que ganharam a corrida a Tomasson, Kalou, Robinho, Jô, Kezsman, Cissé, Saviola, Eusébio, Pelé e Maradona (falta algum?), que quase pagavam para vestir o "jersey" encarnado.
Feito o balanço, sem dúvida que foi o Benfica quem mais ficou a ganhar: o Porto dispensou Nuno Valente e, muito provavelmente, Jorge Costa; o Sporting despachou Rochemback para o poderoso Middlesborough. O Benfica não só não dispensou ninguém (excluindo os 2 kits e meio que foram vendidos na Mexilhoeira Grande) como ainda foi buscar 3 jogadores de "top". O primeiro, o prometido n.º 10, decidiu-se a deixar o lugar no banco do Inter de Milão que ocupava há dois anos para fazer uma perninha em Portugal; o segundo, o prometido avançado, resolveu romper com a modesta Juventus para assinar, finalmente, por um "grande" da Europa, onde prefere jogar junto à linha, para gáudio da assistência feminina que solta gritinhos de excitação por ver tão perto as tatuagens que Miccoli exibe ao longo de 1,60m.
Por fim, a mais "bombástica" contratação. Envolvida em segredo, obedecendo a um plano meticuloso e sem que ninguém desconfiasse, a dupla Veiga/Vieira assegurou os serviços de Simão Sabrosa. Os portugueses só vieram a saber pelos jornais no próprio dia, que contaram toda a história: Simão andava triste pelas ruas escuras e sujas de Liverpool, entrava sempre amorfo em Anfield Road, cambisbaixo por ter de treinar num estádio que não era nenhuma catedral, em campo, exibia um futebol de sonho que os poucos adeptos que acompanham o campeonato inglês não apreciavam devidamente. De súbito, o pequeno duende soube que o grande Benfica o pretendia. Simão, o pequeno gnomo, viu a luz acender-se ao fundo do túnel. As negociações foram rápidas e o pequeno troll assinou um contrato fantástico. Quando deu por si, o pequeno Strumpf já estava a bordo do jacto privado que a dupla VV tinha disponibilizado para o ir buscar ao norte de Inglaterra. Quando chegou à Luz, foi recebido em apoteose pelos adeptos, perante os rostos sorridentes e cândidos de Veiga e Vieira. No dia seguinte, as manchetes eram suas: "Simão é o grande reforço do Benfica no último dia de inscrições". Atordoado pelos flashes dos fotógrafos, o pequeno duende despertou para a realidade. Um final perfeito para um sonho de uma noite de fim de Verão.

Pesos e Medidas

Admito que fiquei siderado ao ler atentamente o Record de domingo, que dava natural destaque à vitória portuguesa sobre a sua congénere luxemburguesa. Li a crónica do jogo, concordei mais ou menos com as notas individuais mas fiquei surpreendido ao ler a apreciação sobre Simão. O rapaz, ao contrário do que costuma fazer com a camisola das quinas, até nem jogou mal e... apontou dois golos. Dois golos?! Rapidamente fui conferir a ficha do jogo e, realmente, lá estava: Simão, 2 golos! Esfreguei os olhos, abri a boca de espanto, mas era mesmo verdade. O que adiantava se tinha visto, via TV, o remate de Simão bater num dos fraquíssimos defesas luxemburgueses, desviar completamente a trajectória da bola e surpreender o atabalhoado guarda-redes do Luxemburgo, que fez Ricardo corar de inveja?
Sim, o Record atribuiu o golo ao Simão. Estranha perspicácia de um jornal que pugnou, ao longo de toda a última época, por não conceder um golo a Liedson em condições bastante semelhantes. Aliás, o Record fez desse golo um verdadeiro cavalo de batalha, lutando bravamente contra tudo o contra todos: televisão, todos os jornais desportivos e generalistas, até da própria Liga de futebol. Todos deram a paternidade desse golo ao "levezinho", todos menos o Record. Ficamos a saber, assim, os critérios por que se rege o Record: quando é um remate do Liedson, nunca é golo - é de um defesa adversário, do vento, da chuva e, até, do efeito que a bola tomou; quando é um remate de Simão, não interessa se esta bateu 23 vezes em alguém, se foi auto-golo, se entrou completamente na baliza ou se foi com a mão. Quando um remate de Simão entra, é golo de Simão. Até acho que se devia acrescentar esta adenda ao livro de regras da FIFA.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Santos e Tansos

O guarda-redes do Sporting e da selecção é um frangueiro. Não é opinião. É um facto. Ao lado do artista do Montijo, o Rudolfo Rodriguez era um rapaz talentoso. O Vital, então, era um prodígio. O Dias Graça (que o terceiro anel imortalizou como "Desgraça") era o Dassaev. O Bella Katzirz e o Baroni eram estratosféricos.
A verdade, por muito que custe aos "leões", é que o Sporting tem tido uma longa sequência de "patos" com a responsabilidade de guardar a baliza. Depois de Vítor Damas, foi um descalabro, e a baliza de Alvalade (estádio velho e estádio novo) só atrai artistas. Lembram-se do Ivkovic, o do golpe de vista, que conhecia de gingeira o Geraldão? O mesmo que, em Alvalade, sofreu um golo do meio-campo, apontado pelo Jorge Couto? E que sofreu o golo mais estúpido do mundo, marcado pelo Kostadinov?
E do Rui Correia, protótipo de anão adaptado à baliza? Julgo que, na história do Shwarowski Tirol, não consta mais ninguém que tenha sofrido quatro golos no mesmo jogo - só o Rui Correia em 1987.
E o Vital? Em Alvalade, contra o Benfica, na ânsia de captar um "chapéu" de abas largas do Abel Campos (quem? - pergunta o leitor amnésico), esbarrou com a testa no poste e foi assistido durante vinte minutos.
Juntemos ainda o Sérgio, guarda-redes da Baixa da Banheira, que foi massacrado pelo Grashoppers. O Costinha e o Lemajic que, somados, não faziam um guarda-redes. E o De Wilde, guarda-redes internacional que até marcava penalties - mas era sem bola e com o copo de tinto.
Em 1998/1999, o clube teve porventura a pior dupla de guarda-redes da história - Tiago e Nélson, ou Nélson e Tiago se preferirem. Um desastre. Nessa época, o Sporting sofreu alegrememente três golos do FC POrto (Tiago), mais três do Benfica (Nélson) - mais dois do Benfica (Tiago) e outro do FC POrto (Nélson). Este último, marcado por Zahovic com a anca!
Schmeichel prometia mundos e fundos, mas fez à sua conta uma capoeira de respeito. A memória do Viking Stavenger faz soar o sinal de alarme?
Em 2003, chegou, com pompa e circunstância, o Ricardo, troféu de caça surripiado ao Benfica. Nestas coisas da memória, o Sancho Urraco custuma ter lacunas, mas eu até vou registando. Que me lembre, o pateta do Montijo custou a eliminatória com Gençlerbirligi (mais o Mário Sérgio), o jogo com o Benfica (Geovanni), outro jogo com o Benfica (Luisão), a final da UEFA (Wagner Love e companhia), a eliminatória da Champions (Udinese) e mais alguns frangos dispersos.
Irado, o presidente do Sporting exige respeito pelo guarda-redes da selecção. O clube de Alvalade persiste em apaparicar o frangueiro, protegendo-o da "pressão externa" e dos mauzões que não querem ver a evidência. A evidência, senhores, é só esta: santos e tansos escrevem-se com as mesmas letras, mas querem dizer coisas diferentes. Qual dos nomes encaixa melhor nos fãs do Ricardo?

quinta-feira, setembro 01, 2005

O menino de Trás-os-Montes

O menino é de convicções fortes. Acorda de manhã, no estágio da selecção, e acaricia a bandeirinha do Benfica. Liga o telemóvel e recebe uma mensagem. O Liverpool está interessado nos seus préstimos. Sai do estágio estremunhado, mal vestido e com a barba por fazer. Vai para Inglaterra e não esconde o sorriso de orelha a orelha. Passam os minutos. Já se vê em Anfield - o quinto Beatle, com cabelo à escovinha.
Nem dez segundos demorou a ponderação. Vou e vou já. Aos amigos vangloria-se que vai para o clube que já não quis Figo - eterna Némesis que nunca esqueceu. Mais umas horas. Por "A Bola Online", Veiga manda dizer que é o único na direcção do Benfica que não quis vender Simão. Suprema coragem e lealdade para com os colegas da administração. Condes andeiros sempre os houve, pensa para os seus botões o antigo ascensorista de hotel luxemburguês.
Às 20 horas surgem nuvens no horizonte. Os jornais amigos rapidamente se encarregam de difundir que Vieira foi ousado e recusou a proposta inglesa. Bofetada nos britânicos - a honra não tem preço. Ninguém refuta os valores lançados para o ar - são 15, são 18, são 20 milhões. Saiu a roleta ao Liverpool.
À noite, com descaramento, o menino diz que está muito contente no Benfica. Fica com gosto e sem desgosto. Volta para o estágio da selecção sem saber que "A Bola" lhe chamará o "último reforço". Deita-se na cama pequenina e suspira de alívio. Minha rica previdência. Fico por aqui que há muito penalty por marcar.

Cá Estamos

Este é o primeiro post do blogue Mãos ao Ar. Do nosso estatuto editorial, inventado há minutos, retiramos as passagens mais relevantes...
Recusamos ser justos ou objectivos. Como jornalistas, consideramo-nos no direito de manipular a informação segundo a nossa conveniência de momento e não nos recusamos a revelar as nossas fontes. Temos clubes de estimação e ódios definidos - só não dizemos quais. Aceitamos gratificações em géneros ou numerários. Só não temos contas bancárias no Belize por causa do fuso horário.
Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.
Teremos, neste blogue, a mesma honestidade lendária do presidente do FC Porto, a mesma coerência intelectual do presidente do Sporting e a mesma abstinência alcoólica dos dois últimos presidentes do Benfica.
Sendo assim, que comecem os autos-de-fé!